Pular para o conteúdo principal

Modelo de Políticas para as drogas, por Tadeus Assis da Equipe Arca.


Para se entender um modelo de política de drogas é essencial discutir suas bases ideológicas e científicas. Primeiro temos que fazer uma distinção entre vários tipos de dependência, em especial o conceito de “dependência epidêmica”. Nesse conceito ressaltava que pessoa psicológica e socialmente instável após influência direta de outro dependente começa a usar drogas que não são aceitas socialmente para obter euforia. Além temos que mencionar o caráter de contagio, ou seja, um usuário influenciando o outro. Devemos considerar que a epidemia do uso de substâncias tem um alto grau de contágio psico-social onde a disponibilidade da substância é o fator mais importante no desenvolvimento dessa forma de abuso. Uma vez um grupo de usuários se formando isso cria uma sub-cultura da droga que contamina a sociedade. Isso explica o termo contágio psico-social ou pressão grupal.

A conseqüência é que a sociedade deve restringir o acesso às drogas e que isso teria efeito no número de pessoas usando essas substâncias. A política, portanto deveria olhar para o usuário que é a parte central da “corrente das drogas” pela sua influência direta em outros usuários. Os traficantes sempre serão trocados por novos traficantes dispostos a correr o risco de dinheiro fácil. Os usuários por outro lado não deveriam ser repostos e devem ser considerados como o motor do sistema. Para modificar o sistema temos que ajudar os usuários. Nós temos que aceitar o fato doloroso que nós não faremos avanços decisivos a menos que o abuso de substâncias, os usuários e a posse pessoal de drogas sejam colocados no centro da nossa estratégia.

Outro aspecto conceitual importante é o da hipótese de “porta de entrada”, que significa que a maconha levaria para a experimentação com outras drogas mais perigosas. Embora esse conceito seja objeto de grande debate científico o fato é que o uso da maconha possa ser considerado no mínimo como um fator de risco para a experimentação. Na realidade um grande foco na nesta política é em relação à maconha e como desestimular o seu consumo.

Vale a pena olhar historicamente noutro fator que influencia a política de drogas que foi o desenvolvimento por mais de um século da política do álcool. Temos que adotar uma política do álcool repressiva e que teve como base a limitação da disponibilidade das bebidas alcoólicas. Esse modelo baseia-se no fato que o consumo total do álcool influencia o total de dano social causado pela substancia. Esse modelo sugere que quanto mais indivíduos beberem numa sociedade mais teremos bebedores pesados. Portanto do ponto de vista da saúde pública a melhor opção é manter o número de bebedores o menor possível.

Esse modelo que recebe evidencia para o álcool é usado para as drogas. Quanto mais pessoas experimentarem as drogas, maiores as chances de termos usuários pesados e disfuncionais. Quanto mais usuários de maconha, maior o número de usuários de outras drogas mais pesadas. Como resultado a política de drogas deveria focar em limitar o consumo total de drogas, começando com qualquer forma de experimentação, o que na prática significa experimentação com maconha. Portanto uma grande parte da prevenção nesse país deve-se basear em prevenir a experimentação com a maconha.

Embora o uso de drogas seja considerado socialmente inaceitável o objetivo da política não é punir os indivíduos. Ao oferecer cuidado e tratamento o usuário deveria se tornar livre das drogas e ficar reabilitado e reintegrado à sociedade. Se um individuo usa drogas em publico ele será encaminhado por uma Assistente Social para tratamento, se necessário para tratamento compulsório. Para isso temos que investir mais dinheiro em tratamento.

Como salientado anteriormente o objetivo da política não é punir os usuários, mas oferecer reabilitação. O tratamento é um dos 03 pilares do sistema. Um conceito importante é o de “corrente de cuidado” que significa que elementos diferentes no sistema de tratamento, como: atividades de “outreach” (busca ativa de usuários), desintoxicação, cuidados ambulatoriais e internação. Os Assistentes Sociais são muito importantes nesse sistema, são eles que na busca ativa dos usuários determinam quem deveriam ir e permanecer em tratamento. Dois tipos de tratamentos são disponibilizados: voluntário e involuntário, com uma grande diversidade de técnicas a serem usadas nesses sistemas. No sistema compulsório, que é raramente utilizado, pode-se ficar até 06 meses e o principal objetivo é motivar o usuário a se tornar voluntário no seu tratamento. A maioria do tratamento involuntário é para os usuários resistentes ao tratamento voluntário.

Para finalizar um exemplo de sucesso desta política: diferente dos demais paises europeu a Suécia não adotou a política de redução de danos. O governo decidiu que com o risco da AIDS o melhor seria identificar rapidamente os usuários e oferecer desintoxicação e tratamento imediato. Houve uma grande expansão do setor de tratamento. A temida epidemia de AIDS nessa população de usuário não ocorreu nesse país. Tratamento é redução de danos com inteligência, exemplo a ser seguido.


Tadeu Assis, Representante da Equipe Arca, Técnico em Dependência Química, além de colaborador cronista no Blog do Programa Cartão Vermelho.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entrevista com o Presidente do PMDB de Arraial do Cabo

O Blog Cartão Vermelho teve a oportunidade de entrevistar o Presidente do PMDB de Arraial do Cabo, Davison Cardoso (Deivinho), onde abordamos o crescimento do partido na cidade, a reeleição do Prefeito Andinho (PMDB), e sobre a bancada na Câmara Municipal de Arraial e suas votações, claro principalmente sobre as últimas e polêmicas votações do vereador Renatinho Vianna (PMDB). Blog Cartão Vermelho - Qual o quadro atual do PMDB em Arraial do Cabo? Deivinho - O quadro atual é excelente, reelegemos o Prefeito Andinho com uma votação maciça. Andinho é detentor de um desempenho histórico e nossa bancada na Câmara Municipal goza deste prestígio por conta de também ter sido eleita com uma votação expressiva. Blog Cartão Vermelho - Mas os noticiários dão conta que a situação do Vereador Renatinho Vianna dentro do partido seria insustentável devido ao voto favorável a Abertura de uma CPI proposta na Câmara, isso é verdade? Deivinho - O vereador Ren

DISCOS VOADORES - EVIDÊNCIAS DEFINITIVAS.

No dia 10 de abril, das 15h às 19h, acontecerá a palestra “Disco Voadores – Evidências definitivas” no Teatro Municipal de Araruama, quem vai reger a conferencia é Marco Antonio Petit que é co-editor da revista UFO, autor de seis livros sobre o assunto e um dos principais responsáveis pela Campanha “UFOs – Liberdade de Informação, Já”, que já conseguiu liberação de centenas e centenas de páginas de documentos oficiais da Força Aérea Brasileira sobre a presença dos OVNIs no espaço aéreo de nosso país. As inscrições custam R$ 5,00(cinco reais) e pode ser feito no local e dia do evento, a partir das 14h30min. Alguns dos temas que serão abordados: *A Presença alienígena no passado histórico e pré-histórico *O sentido das abduções *A mensagem espiritual do fenômeno UFO *O Programa Espacial e a Presença Extraterrena *A Campanha “UFOs – Liberdade de Informações, Já” *Contato Final – O Dia do reencontro O evento será ilustrado com farta documentação, incluindo fotograf

8º Fórum permanente da sociedade civil.

No dia 30 de março, às 18 h, será realizado o 8º Fórum permanente da sociedade civil. O Fórum será realizado pela OAB de Cabo Frio em parceria com o movimento Viva Lagos. O Fórum será realizado na sede da OAB, que fica na Rua José Watz Filho, 58 – sala: 209, centro Cabo Frio. Por falar em OAB, o convidado do programa Cartão Vermelho desta quarta-feira, às 14h ao vivo, será o presidente da OAB de Cabo Frio, Dr. Eisenhower Dias Mariano.