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Entrevista com Dr. Marcelo Paiva presidente do PSDB de Cabo Frio.


O Blog Cartão Vermelho tem a honra de receber como entrevistado o Dr. Marcelo Paiva, mais conhecido como Marcelão.

Dr. Marcelo é carioca, criado em Cabo Frio e é sobrinho do lendário Lian Pontes de Carvalho, figura querida da cidade e fundador não só do Clube do Canal, mas do Portinho em si, é neto da Lanka, dona do primeiro restaurante a receber estrela no Guia Quatro Rodas em Cabo Frio, o Arrastão, que ficava em frente a Pousada do Canal. É também filho do Dr. Manoel Paes de Oliveira Neto, pesquisador da FIOCRUZ, médico e atualmente Presidente do Centro de Estudos daquela unidade. Além disso, Marcelão é pai de 3 “livros” de poesia, famoso por sua intelectualidade chegou a ser diretor do Museu da República, atualmente Dr. Marcelo é presidente do PSDB de Cabo Frio.


Vamos a nossa entrevista:


CV. 1 - O que te levou à decisão de pedir exoneração da Secretaria de Saúde de Arraial do Cabo?

Dr. Marcelo Paiva: Assumimos a Secretaria de Arraial em meio a um caos administrativo muito grande. Não havia médicos na maioria dos plantões da emergência, não havia médico para passar a visita nos doentes internados, não havia sistema de referência para se enviar doentes graves, a UTI era um depósito de documentos e remédios vencidos, o centro cirúrgico estava desativado para cirurgias de porte médio, realizava apenas pequenos procedimentos dermatológicos (extração de verrugas e etc.), e pequenas cirurgias de otorrinolaringologia, a população não estava cadastrada no programa de saúde de família, havia um cadastro mal realizado de 62% da população... enfim, era lamentável o quadro da saúde, além de dívidas com prestadores de serviço, como a CLIPEL (UTI neonatal) por exemplo.

Nestes dois anos, recuperamos a UTI, a obra física está finalizada e estamos aguardando o estado entrar com sua parte no acordo que é o fornecimento dos leitos (pois os leitos que haviam na antiga UTI sumiram), construímos um sistema de referência regional em Ortopedia, sistema este publicado no Diário Oficial do Estado em janeiro, refizemos o cadastro de famílias no PSF, estamos construindo um posto de saúde no bairro do Sabiá, não geramos uma única dívida com fornecedores de saúde, não tivemos um único paciente que tenha sofrido de espera para internar-se em UTI, zeramos a fila de serviços de imagem, zeramos a fila de exames de eco-cardiografia, equipamos o hospital com médicos em todos os plantões, estamos com pediatria todos os dias da semana e com sobreaviso nos finais-de-semana, temos um médico responsável pela chefia da clínica médica, ou seja, os doentes internados possuem visita médica todos os dias, abrimos o centro cirúrgico para cirurgias de médio e grande porte, enfim, em dois anos demos toda nossa dedicação à causa da saúde.

Entretanto, um colega médico de Macaé elegeu-se deputado federal. Este colega, o Dr. Aluizio, chamou-me para este novo desafio, qual seja, auxiliá-lo no mandato. Acho que a região pode sofrer uma mudança muito grande de paradigma de gestão pública caso tenhamos um bom mandato pela frente e consigamos, quiçá, chegar à Prefeitura de Macaé.

Este desafio de implantar modelos de gestão descomprometidos com acordos impublicáveis e inconfessáveis é muito atraente para minha formação. E este compromisso de gestão passa indiscutivelmente pela grandeza do mandato dele na Câmara Federal.

Espero estar a altura para honrar a confiança dos mais de 95 mil eleitores do Aluizio, e tenho a certeza de que tudo faremos para deixar uma marca indelével de honestidade, critério e competência a frente do trabalho político que temos pela frente.


CV. 2 - Como está sua relação com Andinho (Prefeito de Arraial)?

Dr. Marcelo Paiva: Minha relação pessoal com o Andinho é excelente. É importante ressaltar que não se pode misturar política com relação pessoal, ou seja, posso ser amigo de alguém e politicamente não estar do seu lado, ser seu adversário. Exemplificando, durante muito tempo, quando saí do PCB por não concordar com o apoio à Moreira Franco, eu permaneci no PDT apoiando o Brizola na campanha do Darcy Ribeiro, enquanto vários amigos meus do partidão ou estavam na aliança com o PMDB, ou no PSDB de então. Muita gente do PCB da minha época está no PSDB hoje, o senador Aluisio Nunes de São Paulo é um bom exemplo. Contudo, além de uma boa relação pessoal com o Prefeito de Arraial, tenho também uma boa relação política por ele ter mantido um espaço considerável para que o PSDB possa manifestar-se. E isto ocorre porque não houve nenhuma quebra de compromisso político firmado anteriormente entre ele e o Partido.

Enfim, se a palavra é mantida isto se traduz em caráter, e se há caráter é possível a amizade, agora na falta de caráter eu não consigo estabelecer amizade. Infelizmente, às vezes só percebemos a falta de caráter depois que estabelecemos uma relação que é aparentemente sadia. Mas é que há muito cara-de-pau sem palavra, ou pior, há muito cara-de-pau cuja palavra é fraca, é servil, é subserviente aos seus interesses mesquinhos e imediatos. Enfim, pessoas com problemas de garantia da sua palavra não fazem parte do meu ciclo.


CV. 3 – Como está a situação do Prefeito de Cabo Frio, Marcos da Rocha Mendes, dentro do PSDB?

Dr. Marcelo Paiva: Ele é uma das pessoas que não tem palavra. O Picciani deve conhecê-lo melhor do que eu. Mas insisto que o Piccinai tem sido generoso com os seus adjetivos. Neste sentido, o PSDB está avaliando sua conduta.


CV. 4 – Você realmente acredita que Marcos Mendes cometeu infidelidade partidária?

Dr. Marcelo Paiva: Mais do que eu, ele sabe o que fez. Mas ele pouco se importa com suas ações para trás, ele é uma pessoa que vê exclusivamente o momento presente. Move-se pela necessidade do presente, e vai deixando uma série de coisas inacabadas e mal finalizadas. Não podemos desconhecer que atinge algum sucesso no tempo presente, o que para ele pode ser suficiente. Eu, entretanto, levo comigo uma frase do Saramago, "tentei não fazer nada na vida que envergonhasse a criança que eu fui". E por aí sou incapaz me afastar da palavra dita.

Há ainda uma outra frase do Saramago que diz: “A ética deve dominar a Razão, senão a razão sobrepõem-se à ética". E esta verdade é a que mais dói, pois temos mesmo que colocar muita força na ética, pois o mundo de hoje, um mundo do espetáculo, dá razões a ações que são reprováveis e inadmissíveis.


CV. 5 - Como está o andamento do Processo de Expulsão de Marcos Mendes? Quanto tempo pode levar o andamento do Processo?

Dr. Marcelo Paiva: O processo está seguindo sua instrução, neste momento ele está na Secretaria Geral do partido, será submetido a avaliação da executiva e encaminhado para a Comissão de ética e disciplina. Este encaminhamento dar-se-á, ao meu juízo, na próxima semana. Na Comissão de ética o relator decidirá se houve quebra da fidelidade partidária, e encaminhará para julgamento dos membros da comissão o seu pedido. Este trâmite deve ser seguido para que haja garantia dos direitos.

Soube pela Folha dos Lagos que eles estão alegando ausência de citação. Ocorre que eles estão viciados no "juridiques", e este processo é de natureza política. Ele pode alegar o que quiser em juízo depois, porém nada do que alegue agora haverá de macular o processo no Partido, pois no Partido todos sabem que ele tem ciência da sua responsabilidade de encaminhar a sua defesa. Ele falou até mesmo por telefone sobre isto com a Secretária Geral do Partido, ela mesma dá este testemunho. Além do fato de que a própria mídia deu ampla cobertura ao fato. Ou seja, ele sabe das suas responsabilidades. E vou além, ele sabe o que fez, mas tenta dissimular e confundir, é um expediente que ele está usando. Mas politicamente todos no partido sabem que ele tem amplo conhecimento das suas responsabilidades.

Agora, se ele acha que é melhor ficar tentando colocar nariz de palhaço na cara dos outros, eu não posso dissuadi-lo disto. Entretanto, ao partido ele não engana mais, é só isto que tenho a dizer. Quanto à pena ou às responsabilidades, caberá à Comissão de Ética julgar.


CV. 6 - Como está sua relação com Marcos Mendes?

Dr. Marcelo Paiva: Não tenho nenhuma relação com Marcos Mendes, arrependo-me de ter acreditado nele, mas este arrependimento não macula a minha trajetória, pois estou consciente das boas intenções que tive. O meu arrependimento é por termos dado plataforma política para ele, não é do ponto de vista pessoal, é por conta de termos permitido que a sociedade pudesse escolhê-lo quando ele estava sem ter partido para ir. Pessoalmente não há nada entre nós, portanto não há do que arrepender-me. Penalizo-me contudo pela sociedade.

Costumo dizer que apesar de ter acreditado que ele seria uma pessoa diferente do que é, levei apenas pouco mais de um ano para saber da verdade, tem gente que levou 12 anos ou mais para conhecê-lo de fato, e olhe que estiveram ao seu lado nestes anos. Nestas pessoas a dor deve ser maior que a minha.


CV. 7 - Como você avalia o quadro político de hoje?

Dr. Marcelo Paiva: No Brasil as relações políticas estão muito esgarçadas. Não temos uma cultura partidária e nossa democracia é incipiente. Os poderes da República, de modo geral, são subservientes ao "grande esquema" do poder e do dinheiro, ou seja, ajoelham-se vez por outra aos favores do executivo e isto compromete a independência dos poderes. Esta independência é um princípio básico da democracia de Montesquieu. Sem poderes independentes, ou pior, com os poderes trocando favores, o que assistimos é a Lei do mais poderoso, é a cultura da glória. Não há muito que comemorar na nossa democracia, estão confundindo o fato de votar para presidente com democracia. Podemos votar para presidente, mas se mantemos o povo distante do acesso aos serviços públicos de qualidade não há democracia.

Além disso, há uma força muito grande do marketing eleitoral. Há uma máxima do capitalismo que diz que "a propaganda é a alma do negócio", então quem tem mais dinheiro para fazer propaganda vende melhor o seu produto, que é a si mesmo. Isto não é democracia.

Da forma como estamos, o que vemos é uma eventual alternância de governantes, mas não uma mudança do poder. Sem uma mudança do poder não há democracia, há uma ditadura por sufrágio universal. Ditadura esta capitaneada pela propaganda, pela capacidade de comprar votos, e pela capacidade de dobrar a justiça aos interesses mesquinhos do dinheiro.

Assim, vejo dificuldades para as futuras gerações, mas não perco a esperança. Vou denunciar o que acredito que deva ser denunciado até o limite dos meus dias. É um compromisso que tenho comigo pela vida que me deram os meus pais.


CV. 8 – E quais os planos profissionais a partir de agora do Dr. Marcelo Paiva?

Dr. Marcelo Paiva: Tocar a minha vida com a mesma dignidade que sempre toquei até aqui. Na verdade, para citar mais uma vez o Saramago "eu continuo sendo o neto dos meus avós", e espero continuar assim, tendo a quem honrar e a quem amar. Espero ler, escrever versos, auxiliar na gestão pública com rigor e dedicação ao próximo, ser generoso com os que necessitam, e ser impiedoso com os que detêm o poder e acham que podem curvar os cidadãos à seus pés em função das suas necessidades. E ainda reconhecer que aqueles que se curvaram por necessidade podem merecer uma segunda chance. Mas os poderosos não.


CV. 9 – No âmbito cultural o que podemos esperar do Marcelão? Um novo livro?

Dr. Marcelo Paiva: Sim, estou com um livro pronto que não pensava em publicar. Mas em respeito ao convite feito pelo Dr. Demócrito para ingressar na Academia Cabofriense de letras vou publicá-lo. Na verdade talvez o convite fosse a desculpa que eu necessitava rsrsrs.


CV. 10 - E o PSDB de Cabo Frio, com a confirmação da expulsão de Marcos Mendes, rumará para qual caminho político?

Dr. Marcelo Paiva: Ainda é cedo para previsões, eu espero que seja um caminho que aprofunde a crítica sobre a ética pública.


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