Por Dr. Marcelo Paiva Paes
As articulações em torno do nome do irmão do prefeito, Carlos Victor, tem o condão de mostrar que ao longo destes anos o governo Marcos Mendes não se preparou para duas coisas essenciais em quem entra na vida pública. Deixar o poder, e construir lideranças.
A verdade é que não há nomes que inspirem a confiança necessária nos Mendes de que a mudança do governo não representará uma mudança do poder. E isto é um quesito fundamental, pois o que na maioria das vezes se busca é que se mude o governo, mas não se mude o poder sobre as estruturas do estado.
Por mais paradoxal que pareça, apesar de não se pretender esta mudança do poder, os governantes, via-de-regra, esquecem-se de construir algumas lideranças que sejam capazes de dar conta do governo respeitando o poder. Porém, nas cidades do interior é muito comum governar nomeando primos, sobrinhos, ou irmãos em secretarias de governo. Bem ao sabor da velha e burguesa tradição de que a família é o primeiro lugar onde se buscam substitutos confiáveis.
Não seria diferente em Cabo Frio, ao se aproximar este momento o nome de Alfredo Barreto vinha sendo trabalhado de forma criteriosa, quis o destino que isto não viesse a ser possível. Na ausência sentida de Alfredo Barreto, a máquina, perplexa, atravessava um momento conturbado do ponto de vista jurídico, o que consumia, e ainda consome, muito da energia do prefeito. Sem o comandante em condições de elaborar uma estratégia, e com o comandante sendo obrigado a se decidir por um nome no fervor de acontecimentos que eram-lhe desfavoráveis, a máquina regurgitou o nome de Alfredo Gonçalves.
Como vimos no artigo de ontem, este fenômeno é uma gestação anencefálica. Em medicina diríamos que esta gravidez de risco tem tudo para não ir a termo. Mas quem poderia substituir Alfredo Barreto? Note-se que não estamos falando em competência, estamos falando em confiança. Alfredo Barreto era um homem inteligente, tinha competência suficiente para tocar a empreitada, e, por razões familiares, tinha a confiança do poder constituído. Na sua ausência quem poderia ocupar esta cadeira?
Realmente não há outro nome senão o do irmão de Marcos Mendes. Enfim, avaliamos hoje a indicação de Caros Victor pela ótica da falta de preparo do governo em constituir lideranças, a ponto de ter optado primeiramente por Alfredo Barreto e, agora, por Carlos Victor.
Esta leitura da ausência de nomes confiáveis deixa claro para Jânio, Alfredo Gonçalves, e qualquer outro que eventualmente esteja contando com Marquinho, que nenhum deles é capaz de conseguir esta “graça”. Cabe a eles esperar que esta indicação não se concretize por razões de natureza jurídica, mas devem saber que, mesmo não se concretizando, eles não serão candidatos que possam estimular a máquina e suas bases a ponto de fazer a diferença na campanha. Caso contrário, devem se esquecer desta “benção” e partir para a oposição. Uma oposição que pode ser branda, mas que necessariamente se faça na lacuna de poder que há entre a máquina municipal e a liderança do ex-prefeito Alair Correia.
Amanhã vamos falar dos riscos desta empreitada.
Comentários
Postar um comentário