Que tal gasolina pura?
O Brasil tem fama merecida de celeiro do mundo. Nossa agricultura é uma das mais avançadas, competitivas e produtivas do mundo. Nosso etanol resume as melhores características do nosso setor agrícola. Por isso, o mundo inteiro nos olha e aprende conosco. O etanol de milho americano, nosso mais próximo competidor, está milhas atrás de nosso etanol de cana de açúcar sob qualquer prisma. Em fóruns mundiais como a Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brasil exige menos barreiras para nosso etanol. E consegue sucesso. Por isso, causa espanto saber que importaremos 200 milhões de litros de etanol dos Estados Unidos.
Como, se produzimos etanol melhor e mais barato? E a coisa toda faz menos sentido ainda quando importamos etanol para suprir os 25% de etanol que são obrigatoriamente misturados à gasolina. Sim, nossa gasolina não é pura. A proporção muda ao sabor dos interesses dos usineiros: se eles produzem muito etanol, a proporção passa a ser de 25%, para evitar quedas no faturamento. E isso é errado. Se há muito etanol, o certo é que o preço caia para o consumidor. Porque, quando há pouco – e estamos vivendo uma fase de escassez – o preço sobe. Nós pagamos mais caro para manter o lucro dos usineiros.
Essa, infelizmente, é uma situação recorrente no Brasil. Quando o café era o principal item da pauta exportadora, o setor público comprava o excedente de produção e o queimava, para manter os preços mundiais elevados. Em uma situação dessas, na qual se produz demais em um ano e o preço não cai, o que os produtores fazem é sempre o mesmo: produzem ainda mais no ano seguinte. Os desequilíbrios vão se acumulando, os consumidores vão pagando a conta do lucro artificial e, claro, em algum momento a conta não fecha e basta um estopim para a crise explodir. No caso do café, foi o crash da Bolsa de Nova Iorque em 1929.
Mais de 80 anos depois, percebo que não aprendemos nada e continuamos garantindo lucros em atividades privadas com atuações públicas. O etanol está caro no país dos carros flex? Usaremos gasolina. Está barato? Usaremos etanol. O que não faz sentido é sermos obrigados a comprar 25% de etanol quando compramos gasolina. Será melhor para todos se o mercado funcionar: ações como essa prejudicam nosso bolso e colocam nosso país na condição humilhante de comprar de quem passamos o tempo todo dizendo que vende de forma desleal com subsídios. Nada disso ocorreria se nossa gasolina não contivesse etanol. Então, que tal o Brasil ter gasolina pura, como o resto do mundo?
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Comentários
Postar um comentário