Se algum casamento durar 85 anos, os cônjuges comemorarão Bodas de Girassol. O girassol, bela planta cuja flor executa o mesmo movimento de seguir os raios solares enquanto estes estão no firmamento durante todos os dias de sua existência, compõe uma boa metáfora para a insistência brasileira em ter uma vaga permanente no Conselho de Seguranças da ONU.
Este assunto somente se faz pertinente porquanto recorrente. Semana passada, vimos a presidente Roussef repetir a ladainha em sua visita à China: diante de qualquer interlocutor internacional, o Brasil tenta incluir sua participação no Conselho de Segurança da ONU na conversa, ainda que seja para receber as protocolares e inócuas afirmações de “apreço” à pretensão nacional. Há quase um século é assim.
Voltemos 85 anos no tempo: em 1926, a Liga das Nações exercia papel similar ao da ONU. Naquele tempo, o Brasil, na condição de único país sul-americano a participar da então chamada Grande Guerra, teve direito a assento na Liga das Nações e reparações de guerra no Tratado de Versalhes pagas pela Alemanha: pagamento com juros do café enviado à Alemanha em 1914 e direitos definitivos sobre 70 navios alemães confiscados em portos brasileiros.
Eis as Bodas de Girassol: assim como a ONU, a Liga das Nações possuía um Conselho de Segurança (CS). E, assim como a ONU, a Liga das Nações conviveu com pressões do Brasil para ser membro permanente do CS. Naquele ano de 1926, o Brasil se retirou da Liga das Nações por não ter sua pretensão atendida. Durante os 85 anos seguintes, ainda que com intensidade variada e continuidade claudicante, o Brasil continuou com a mesma idéia fixa.
Haverá alguma vantagem para povo brasileiro se o Brasil virar membro permanente do Conselho de Segurança (CS) da ONU? Não. Nem nossas crianças terão educação melhor, nem nossos provedores de família terão empregos melhores e nem nossos idosos terão saúde pública melhor por causa disso. Então, por que tamanha insistência? Brasil, Alemanha, Japão, Itália, Espanha, Canadá, Austrália, África do Sul, Israel, Índia: 10 países importantes no cenário mundial (politicamente, militarmente, economicamente etc.) que não são membros permanentes do CS. Todos esses países certamente gostariam de entrar para a elite das decisões sobre segurança no mundo. Mas nenhum deles faz disso a prioridade de sua política externa.
A presidente Roussef fará mais pelo futuro do Brasil se priorizar nossos interesses comerciais e defender nossos valores ao invés de insistir em um tema que há 85 anos se mostra infrutífero. Afinal, fazer acordos desfavoráveis ou apoiar ditaduras em troca de “apreço” à pretensão de ter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU não serve aos interesses do povo brasileiro, mas somente a projetos políticos pessoais.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Comentários
Postar um comentário