Por Pedro Nascimento Araújo
Ai de ti, Copacabana, porque a ti chamaram Princesa do Mar, e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio da noite.
[Rubem Braga]
Quando Rubem Braga escreveu as linhas acima, lamentava-se do avanço do mar sobre sua Copacabana amada. O oceano, antes do aterro, ameaçava destruir a Princesa do Mar com sua força implacável. Algo semelhante ocorreu com a Princesa dos Lagos esta semana. Só que o mar era de lama. E, com o que ocorreu semana passada, a ressaca de lama que destrói a linda cidade há 6 anos não tem prazo para terminar. Ai de ti, Cabo Frio!
Na quinta-feira 26 de Maio de 2011, o Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), em decisão colegiada, absolveu o prefeito Marquinho Mendes por unanimidade dos crimes apontados no processo 309. O TRE-RJ, casa cuja reputação parece piorar a cada dia e cujo presidente (Luiz Zveiter), assim como seus últimos antecessores, é alvo de investigações por parte do órgão de controle externo do judiciário, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ignorou pareceres do Ministério Público Eleitoral e revogou a decisão de primeira instância que cassava o prefeito. O mar de lama não terá aterro que o impeça de destruir a cidade. Ai de ti, Cabo Frio!
A justiça, última linha de defesa, derradeira esperança de quebra-mar para o vagalhão de lama, ruiu. Cabo Frio terá que continuar convivendo com os desmandos de Marquinho Mendes e sua entourage. Conforme levantamento de Alberto Neto e Carlos Sepúlveda para o Sombras no Paraíso, essa gente, 6 anos e três bilhões de reais (R$ 3.000.000.000,00) depois, não construiu nada na cidade – de fato, o governo Marquinho Mendes simplesmente não deixou legado, quanto mais explicação convincente sobre o uso desta montanha de dinheiro. Ai de ti, Cabo Frio!
Faz muito frio aqui na Serra nesta época do ano. Em Cabo Frio, até o tempo é mais generoso. Na fatídica quinta-feira, eu estava na cidade. Troquei a temperatura mínima de gelados 8 graus em Petrópolis pelos amenos 19 graus de Cabo Frio. Entretanto, aí em Cabo Frio, naquela noite eu senti muito mais frio. Não no corpo, mas no coração. Senti o frio da desesperança diante dos poderosos, da impotência diante de seus atos tenebrosos. Na quinta-feira 26 de Maio de 2011, eu senti dor por Cabo Frio. A mesma dor que alguns que nasceram na Princesa dos Lagos simplesmente não sentem – seus corações estão empedrados por 6 bilhões de dinheiros. Ai de ti, Cabo Frio!
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Comentários
Postar um comentário