Por Dr. Marcelo Paiva Paes
Acho que não temos nada a comemorar com a morte de Bin Laden. Continuamos sob o fogo cerrado da insegurança belicista do mundo. Belicismo este que arma governos, mas também arma o terror, e de sobra, com seus restos, ainda arma a criminalidade das grandes cidades.
Toda esta fogueira arde sob o combustível irracional da opressão, seja uma opressão globalizada, que busca impor sua antropologia ocidental com claros interesses econômicos, no caso dos países árabes, seja a opressão social, no caso da criminalidade das metrópoles urbanas. Uma opressão que exclui e forma guetos. Guetos que acabam por abrigar marginais que se escondem no meio de um povo excluído e indefeso, onde o estado só entra para fazer política, e de lá se ausenta assim que termina o interesse político.
Este gueto não findará com as incursões de UPPs, ou coisa que o valha, este gueto só findará com uma política de inclusão social séria e eficiente, e mesmo assim levará alguns anos. Da mesma forma a política do terror não se extinguirá no mundo árabe por conta da morte de Bin Laden; esta política só terminará com a liberdade do povo árabe, liberdade que lhe é subtraída há tempos, desde quando as metrópoles dividiram aquelas terras colonizadas sem respeitar as antropologias de Durkheim, sem respeitar famílias, sem respeitar propriedades, enfim, sem respeitar a cidadania e a dignidade daquele povo.
Assim como a criminalidade nos grandes centros, o terrorismo ainda fará parte da nossa realidade, certamente enquanto a matriz energética do mundo for o petróleo. Quando enfim não tivermos mais petróleo para mover o mundo, quando enfim a matriz energética for renovável e sustentável, aí então o mundo árabe deixará de interessar, e será abandonado. Possivelmente até Israel será abandonada, e talvez os palestinos, expulsos literalmente de suas casas quando da criação daquele estado, até possam voltar.
Criminalidade e terror, dois lados de uma mesma moeda. A moeda da opressão e da exploração do homem pelo homem no objetivo do lucro e da riqueza. Uma exploração que desconhece os mais elementares conceitos de humanidade, os mais elementares conceitos de fraternidade, os mais elementares conceitos de construção da paz e da harmonia.
Disse John Lennon, “give peace a chance”. E eu diria que esta chance que se deve dar à paz só será possível a partir da transformação deste mundo da opressão do capital, em um mundo da valorização do ser humano. Do ser humano em sua essência.
Nunca é demais lembrar o conceito expressado por Saramago no filme “Janela da Alma”: mais de dois mil anos se passaram e nós vivemos hoje, infelizmente, inteiramente dentro da Caverna de Platão.
Comentários
Postar um comentário