Por Pedro Nascimento Araujo.
Há mais de 15 anos, a rodovia BR-040 foi privatizada. Trata-se de uma das mais importantes do país, com fluxo anual de mais 20 milhões de veículos apenas na parte sob administração da Concer, concessionária desde a privatização.
A estrada, cujo trecho de serra entre Duque de Caxias e Petrópolis é belíssimo, é, na verdade, uma velha e orgulhosa senhora. Inaugurada pelo então presidente Washington Luis, no longínquo ano de 1928, e conhecida à época apenas como Rodovia Rio-Petrópolis, a estrada, que é sinuosa em seu trecho histórico (atualmente, o de subida), foi a primeira a ser asfaltada no Brasil e está em vias de sofrer uma plástica radical.
A estrada original, na verdade, será desativada para o grande tráfego. O projeto, já em fase de execução, prevê a duplicação da pista de descida, mais recente (é da década de 1950), bem mais larga, com vastos acostamentos e menos sinuosa. Com isso, a atual pista de subida será transformada em estrada-parque. Dependendo que o quão bem for executado este projeto e, principalmente, dependendo da vigilância do poder público, poderemos ter a velha rodovia ou reinventada como uma região de turismo ecológico, com geração de emprego e renda, ou relegada a uma região de miséria e esquecimento, com favelização e êxodo populacional. Pelo que temos visto da inoperância do governo de Petrópolis sob Paulo Mustriangi, infelizmente, temos razões para temer o pior.
Mas não falemos sobre coisas ruins. Pensemos na oportunidade que se descortina para todos e, tão importante quanto, lembremos a luta para que pudéssemos ter as melhorias ora sendo feitas na BR-040. Afinal, além da duplicação da descida, será construído o maior túnel do Brasil, com 5 quilômetros de extensão (para comparação: o maior trecho do Túnel Rebouças tem pouco mais de 2 quilômetros) e, principalmente, a tão necessária ligação Bingen-Quitandinha. Para quem não conhece Petrópolis, vale uma explicação.
O Primeiro Distrito de Petrópolis (Centro) tem dois acessos a partir da BR-040. O primeiro, vindo do Rio de Janeiro, é o do Quitandinha. O segundo, o do Bingen, onde fica a rodoviária da cidade. Seguindo pela BR-040 no sentido Rio-Petrópolis, são aproximadamente 2 quilômetros entre um e outro. Todavia, no sentido oposto, há apenas um acesso ao Centro, no Bingen. Assim, quem quiser acessar o Quitandinha vindo do Bingen precisará, literalmente, atravessar a cidade inteira. Os 2 quilômetros são apenas em um sentido. Com isso, o tráfego que deveria ser feito pela rodovia é feito no Centro de Petrópolis, cidade histórica com ruas estreitas.
Evidentemente, desde a privatização já estava previsto o investimento que a Concer ora anuncia quase como beneplácito seu a um pedido do povo. Decerto a concessionária já investiu quase 1 bilhão ao longo desses anos e, sem dúvidas, mantém a BR-040 como uma das melhores rodovias do país. Porém, demorou muito para fazer algo que será bom para quem usa a estrada e para os moradores de Petrópolis. Não fossem as atuações da sociedade civil e de alguns políticos de Petrópolis no sentido de pressionar a Concer para fazer a duplicação e a ligação Bingen-Quitandinha, dificilmente a empresa, por vontade própria os faria – certamente, preferiria continuar recolhendo pedágios e gastando somente com manutenção, segurança, resgate etc., postergando sempre suas obrigações contratuais.
Por isso, olhar o caso da Concer é importante. Privatização é bom, sem dúvidas. Ninguém duvida que, se ainda estivesse nas mãos do governo, a BR-040 não teria a qualidade que tem, com a segurança e os serviços que hodiernamente oferece. Na verdade, estaríamos falando de coisas mais básicas ao invés de discutir duplicações, novas ligações e túneis recordistas. Porém, sem a nossa vigilância, a Concer dificilmente estaria realizando tais benfeitorias. Por isso, encerro este artigo com a seguinte definição: privatização sem vigilância pode ser tão ruim quanto deixar nas mãos do governo.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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