Por Pedro Nascimento Araújo.
Para quem não o conhecia, Júlio Lopes é o Secretário de Transportes do Estado do Rio de Janeiro que ficou famoso por, devido a uma frase infeliz, patrocinar uma covardia: insinuou, ainda que de forma leve, que Nelson Correia, o motorneiro do fatídico bonde, teve culpa na morte de 5 pessoas em Santa Teresa, incluindo a sua própria. Muito já foi dito sobre esta este assunto – mas ainda assim é preciso que se repita: Júlio Lopes deu uma declaração infeliz. Ainda que não tenha sido intencional, ainda que tenha sido causada por comoção e nervosismo do Secretário, pouco importa: foi uma declaração infeliz, daquelas que custam o cargo de um político. Júlio Lopes certamente sabe disso. Afinal, ele tem experiência com assuntos polêmicos, conforme veremos a seguir.
O secretário tem uma carreira política relativamente curta. Está em seu segundo mandato como deputado federal, sendo que o primeiro foi no governo Rosinha – e tanto sob Rosinha quanto sob Sérgio Cabral, foi Secretário Estadual de Transportes. Podemos dizer que ele entrou por cima; na verdade, sua fama é anterior à vida política. Júlio Luiz Baptista Lopes notabilizou-se, antes, por uma vida social agitada: namorou beldades como Adriane Galisteu e Astrid Monteiro de Carvalho, além de ter sido apresentador de televisão. Ele podia: como dono do CEL (Centro Educacional da Lagoa) e do Liceu Franco-Brasileiro, certamente não lhe faltavam recursos para a vida de playboy quarentão, ainda que com muitas controvérsias. Vejamos algumas à guisa de exemplo.
Na década de 1990, Júlio Lopes conseguiu fazer com que o Centro Educacional da Lagoa (CEL), uma de suas empresas de educação, obtivesse computadores importados de última geração sem pagar os impostos devidos. Em uma época na qual trazer para o Brasil máquinas de nível mundial era uma novidade cara e demorada, Lopes conseguiu um prodígio de celeridade e isenções questionáveis. Além disso, ele figura no Processo RJ-2005/305 da Comissão de Valores Mobiliário (CVM) sobre “fraude quando da constituição da CEL Participações S.A. – CELPAR, bem como da 1ª emissão de debêntures da referida companhia” que pode ser acessado na íntegra em http://www.cvm.gov.br/port/descol/respdecis.asp?File=5187-0.HTM por quem quiser conhecer o processo em seus detalhes, com destaque especial para os 5 imóveis oferecidos para integralização do capital.
Exemplos apresentados, podemos retornar ao ponto principal. Em política, a versão é mais forte que os fatos ou mesmo as intenções. Um político simplesmente não pode errar no que fala. Paulo Maluf, até aonde se sabe, não é um maníaco sexual – e, entretanto, vai carregar o infame “Estupra, mas não mata!” para sempre. Marta Suplicy, sexóloga de renome, então Ministra do Turismo, em uma tentativa desastrada de minimizar transtornos nos aeroportos diante de uma boa viagem, cunhou o terrível “Relaxa e goza!” Júlio Lopes não terá como escapar de ser conhecido como o Secretário de Transportes que culpou o motorneiro Nelson Correia pelo acidente que custou a vida do próprio Nelson. Isto custar-lhe-á muito em termos de crescimento político. Nelson e os demais morreram pelo descaso criminoso que vem sendo dedicado aos bondes há muitos anos. De fato, Júlio Lopes não criou este problema. Mas também não o solucionou. Como o acidente ocorreu sob sua administração, a responsabilidade é dele. E, para piorar, ele deu uma declaração infeliz, para dizer o mínimo. Para um político, a soma de tais fatores equivale a uma condenação eterna. Simples assim.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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