Pular para o conteúdo principal

Para Naama Margolese.



Por Pedro Nascimento Araujo

Israel é uma nação única. Democrática em uma região cheia de autocracias, desenvolvida em uma região coalhada de subdesenvolvidos, inclusiva em uma região repleta de sectários. Em um mundo ideal, livre de ódios religiosos, Israel seria o local para o qual seus vizinhos olhariam em busca de inspiração para aumentar o desenvolvimento de seus povos. A pequena e próspera nação, todavia, está ameaçada - não por seus vizinhos belicosos: Israel aprendeu a se defender desde sua criação em 1948, quando uma coalizão de vizinhos atacou o país e depois, em 1969 e 1973, quando rechaçou novas agressões. O risco para Israel é doméstico: os judeus ultraortodoxos. Apesar de ser minoria, é um grupo que cresce proporcionalmente mais que o resto da população. O problema é que esses ultraortodoxos representam o oposto exato das bases de Israel: são covardes sectários. E violentos.

Na última semana, uma rede de televisão israelense mostrou a Naama Margolese, uma menina de 8 anos, chorando copiosamente enquanto relatava as agressões que sofre a caminho da escola. Os ultraortodoxos xingam, cospem e chegam a atirar fezes na menina porque, no entender deles, ela não se veste de maneira correta. Ainda no entender doentio deles, eles têm pleno direito de forçar quem não concorda com eles a seguir suas regras. O fato ocorreu em Beit Shemesh, pequena cidade a 30 quilômetros de Jerusalém, mas é apenas o ponto mais visível de um movimento que, aos poucos, vem corroendo os valores sobre os quais Israel foi fundada. Aos sábados, dia no qual judeus ultraortodoxos consideram pecado exercer qualquer atividade, é comum que pessoas (inclusive turistas desavisados) que caminhem por bairros ultraortodoxos sejam agredidos com pedras. Além disso, eles conseguiram que o sistema de transporte israelense criasse ônibus nos quais, na prática, é permitida a segregação: mulheres são obrigadas a sentar-se na parte traseira do coletivo, longe dos homens.

Medidas típicas da época do apartheid como a descrita acima não são oficiais, mas não são coibidas: os políticos de Israel temem perder votos dos crescente grupo dos ultraortodoxos. É bom lembrar que crescimento é vegetativo: as famílias têm muitos filhos (não é raro encontrar famílias de ultraortodoxos com mais de 10 filhos)e o governo financia quase tudo para os ultraortodoxos que, paradoxalmente, não reconhecem a autoridade do Estado de Israel, por questões religiosas - mas não abrem mão de seus privilégios. E, assim, recebendo muito dinheiro de um governo que eles não respeitam, os ultraortodoxos vão, aos poucos, acabando com Israel para, em seu lugar, construir uma teocracia segregacionista e intolerante. Se nada for feito, as "patrulhas da modéstia", milícias ultraortodoxas que, literalmente, xingam crianças que não se vistam da forma que eles consideram correta, agridem pessoas que resolvem caminhar no sábado ou retiram à força de ônibus mulheres que se recusam a sentar-se longe dos homens em ônibus (Rosa Parks certamente se revirou em seu túmulo), continuarão a crescer. Se os ultraortodoxos assumirem o país em algumas décadas, tais milícias controlarão a mais poderosa máquina militar da região, com um arsenal nuclear, que é capaz de destruir todos os seus vizinhos, mas que somente entra em ação de forma defensiva. Dada a intolerância dos ultraortodoxos, não seria surpresa se eles quisessem retirar todos os infiéis de Eretz Yisrael, as fronteiras bíblicas do país.

É interessante notar que o mundo teme um Irã nuclearizado, por julgá-lo capaz de cumprir sua promessa de "riscar Israel do mapa" com seu arsenal. A preocupação é justa: muitas vezes, líderes do país declararam tal intenção. Porém, pouca atenção se dá ao fato de que o uso defensivo do poderio militar de Israel pode virar ofensivo caso daqui a algumas décadas, os ultraortodoxos, grupo que mais cresce, assumam o comando do país. E os radicais de Israel comandando um arsenal nuclear seria tão perigoso quanto os radicais do Irã comandando um arsenal nuclear. Os israelenses protestaram contra as agressões dos ultraortodoxos à pequena Naama Margolese. Porém, dada a projeção demográfica, o futuro não está a favor dos moderados, mas sim dos ultraortodoxos. Por isso, talvez o maior desafio que se apresentará aos líderes israelenses do futuro seja decidir entre acabar ou não com seu arsenal nuclear. Mantê-lo sob democracia é contar com um importante fator de incentivo à paz: funciona como dissuasão defensiva contra os vizinhos radicais; mantê-lo na iminência de ultraortodoxos assumirem o país é contar com um importante fator de incentivo à guerra: os vizinhos temerão uma Israel ultraortodoxa que tentará riscá-los do mapa. Sob domínio de ultraortodoxos, Israel pode ser tão perigosa quanto o Irã. Naama Margolese pode ter um futuro ainda pior que seu presente terrível.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Entrevista com o Presidente do PMDB de Arraial do Cabo

O Blog Cartão Vermelho teve a oportunidade de entrevistar o Presidente do PMDB de Arraial do Cabo, Davison Cardoso (Deivinho), onde abordamos o crescimento do partido na cidade, a reeleição do Prefeito Andinho (PMDB), e sobre a bancada na Câmara Municipal de Arraial e suas votações, claro principalmente sobre as últimas e polêmicas votações do vereador Renatinho Vianna (PMDB). Blog Cartão Vermelho - Qual o quadro atual do PMDB em Arraial do Cabo? Deivinho - O quadro atual é excelente, reelegemos o Prefeito Andinho com uma votação maciça. Andinho é detentor de um desempenho histórico e nossa bancada na Câmara Municipal goza deste prestígio por conta de também ter sido eleita com uma votação expressiva. Blog Cartão Vermelho - Mas os noticiários dão conta que a situação do Vereador Renatinho Vianna dentro do partido seria insustentável devido ao voto favorável a Abertura de uma CPI proposta na Câmara, isso é verdade? Deivinho - O vereador Ren

DISCOS VOADORES - EVIDÊNCIAS DEFINITIVAS.

No dia 10 de abril, das 15h às 19h, acontecerá a palestra “Disco Voadores – Evidências definitivas” no Teatro Municipal de Araruama, quem vai reger a conferencia é Marco Antonio Petit que é co-editor da revista UFO, autor de seis livros sobre o assunto e um dos principais responsáveis pela Campanha “UFOs – Liberdade de Informação, Já”, que já conseguiu liberação de centenas e centenas de páginas de documentos oficiais da Força Aérea Brasileira sobre a presença dos OVNIs no espaço aéreo de nosso país. As inscrições custam R$ 5,00(cinco reais) e pode ser feito no local e dia do evento, a partir das 14h30min. Alguns dos temas que serão abordados: *A Presença alienígena no passado histórico e pré-histórico *O sentido das abduções *A mensagem espiritual do fenômeno UFO *O Programa Espacial e a Presença Extraterrena *A Campanha “UFOs – Liberdade de Informações, Já” *Contato Final – O Dia do reencontro O evento será ilustrado com farta documentação, incluindo fotograf

8º Fórum permanente da sociedade civil.

No dia 30 de março, às 18 h, será realizado o 8º Fórum permanente da sociedade civil. O Fórum será realizado pela OAB de Cabo Frio em parceria com o movimento Viva Lagos. O Fórum será realizado na sede da OAB, que fica na Rua José Watz Filho, 58 – sala: 209, centro Cabo Frio. Por falar em OAB, o convidado do programa Cartão Vermelho desta quarta-feira, às 14h ao vivo, será o presidente da OAB de Cabo Frio, Dr. Eisenhower Dias Mariano.