Eles passarão, eu passarinho.
Um passarinho me contou que se sente refém numa cidade onde encontra vários outros prisioneiros de plumagem que assim como ele buscam uma saída. O mais engraçado é que todos os pássaros são conscientes de suas potencialidades, todos se dizem fortes para transpassar o muro que os bloqueia e os impede de enxergar um outro horizonte, mas todos se sentem inseguros em avançar em seus propósitos porque no fundo, no fundo, algum interesse há de haver, por mais disfarçado que seja nessa recusa que insiste em manter as correntes presas em seus pés.
Cada um do seu jeito faz o que pode para se lançar num vôo solitário, mas isso não adianta, é preciso que haja um impulso fenomenal para que o muro seja ultrapassado e as correntes sejam de uma vez por todas quebradas. O que não entendo é que se todos tendem-se em romper as barreiras que os engessa num vôo coletivo ficaria muito mais fácil derrubar esse muro, mas pelo que o pássaro me contou existem muitos que julgam ser impossível, muitos se acovardam e se acomodam pois preferem esperar sentados do que bater suas próprias asas. Mas será medo? Se for, que medo é esse? Perguntei, é o medo da falta de alpiste? Muitos urubus,corvos e aves de rapina manipulam a quantidade de alpiste, alguns conseguiram seu próprio fornecimento e estes na verdade são os que mais lutam pela causa, mas a grande maioria são dependentes desse alpiste nosso de cada dia.
Reconheci que este pássaro em particular mais afoito e cheio de determinação tentava animar a galera e buscar alianças, me disse que procurava entender porque tantos outros iguais a ele não proclamavam um grande encontro. Sim! Porque a passarinhada descontente com a situação da cidade é muito grande, os grupos ciscam daqui e dali confabulando, reclamando pelos ninhos e esquinas, mas na prática na hora de alçar o vôo desejado e piar por sua liberdade os pássaros se encolhem, escondem, retraem.
O pássaro independente de raça, cor e assobio me pergunta se existiria algum preconceito de gênero, de posição na mais vasta hierarquia das aves. Eu disse que achava que não era esse o problema porque a indignação está em todas as classes desde do próprio coitado do pombo, até o mais belo pavão, porque a cidade esta tão comprometida com a falta de um governo correto e justo que não satisfaz os interesse de ninguém, nem da baixa, nem da alta sociedade passarinhense.
E mesmo que alguns pássaros ilustres, sábios como a coruja, por mais que mostrem o melhor jeito de alcançar o céu, nem assim a força popular se sente determinada em se arriscar, mesmo que tão sabias palavras sejam repetidas todos os dias.
ELES PASSARÃO! E VOCÊS PASSARINHO!!!
Num salto pulei para trás, quando de repente depois de ouvir essas palavras o espelho quebrou e me assustei!
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