Coluna do Dr. Marcelo Paiva Paes.

Jânio, e o filme Priscilla. 

O que humilha uma pessoa não é o que os outros dizem dela, o que me humilha uma pessoa é o que ela sente sobre si mesma.

O que prejudica a imagem de um deputado não é o que os outros expõem do seu mandato, o que prejudica a imagem do deputado são as posições que ele toma para fazer do seu mandato uma escada para o poder.

Ninguém deveria se eleger para fazer um projeto de poder. As pessoas devem se eleger para representar a sociedade. As pessoas devem se eleger para garantir a harmonia e a paz social. As pessoas devem se eleger para refletir os ideais de Rousseau, e construírem um mundo onde as pessoas se ajudem, se contratualizem socialmente para facilitar as suas tarefas.

Ninguém deve se eleger para fazer do seu mandato uma plataforma para novas eleições. As pessoas devem se eleger para pensar como melhorar a vida das pessoas, inclusive a dela, que, a despeito do mandato, é apenas mais um cidadão a transitar nas calçadas.

Um mandato de deputado estadual não é um manto de proteção. Um mandato de deputado é um ofício de sacrifico.

Um mandato de deputado é uma demonstração de afeto para com os menos favorecidos, que precisam dele para que os ricos e poderosos não transbordem ganâncias por sobre as suas vidas, mais do que já transbordam.

Jânio não sabe disso. Talvez nunca tenha sabido. Ele está refestelado no poder. Ficou amigos dos que combatia, e agora percebe-se que combatia apenas porque não tinha acesso a eles e queria ter. Não combatia por honra, por dignidade, por ideal.

Jânio fez dos corredores da Assembléia Legislativa um ambiente para conchavos, para acordos, e não para representar o povo.

Ao travestir o seu mandato poderíamos dizer que Jânio se comporta como uma Priscilla, a rainha do deserto moral de Cabo Frio.  

Mas não vamos dizer isso.

Poderíamos dizer que ao tentar calar um blog, Jânio se comporta como uma Madame Satã, cuja navalha para calar a voz dos que a denunciam é uma falsa idéia de um instrumento democrático, é a falsa ideia de que a justiça é um canal legítimo. Pois não é, a justiça está comprometida com o tráfico de influência e com a sociedade do espetáculo. Todos sabem que a justiça no Brasil só pune os pobres.

Mas também não vamos dizer isso. E por quê não dizer estas coisas?

Porque vamos deixar que a própria consciência do Jânio lhe diga. O pior para um homem é saber-se pequeno, e não de estatura, mas de moral para poder encarar a sociedade de frente.