Por Pedro Nascimento Araujo
Brasil e Estados Unidos são velhos amigos. São dois países continentais que carregam, cada um, uma excepcionalidade nas Américas. É cujas trajetórias ora estão se aproximam, ora se afastam. Falar em afastamento entre Brasil e Estados Unidos no governo Lula da Silva é um gritante exagero. Lula da Silva, mais instintivo e menos pragmático que parece, manteve uma política de defesa de interesses diante dos americanos, como na questão do etanol, quando juntou-se a W. Bush. A isso somou-se uma deliberada dubiedade em discursos, como a célebre imputação da culpa pela crise de 2008, cujo epicentro foi o crédito imobiliário americano, ser de "pessoas loiras de olhos azuis." Todavia, em seu governo a relação entre ambos os países foi, em geral, boa, com convergências (como o novo acordo militar) mais consistentes que eventuais divergência (como o regime internacional de direitos humanos).
No governo Dilma, apesar da continuidade, as relações são ainda maiores, em grande medida devido à crítica dos dois países ao dumping cambial chinês e a uma maior convergência na área de direitos humanos, assunto geralmente caro aos Estados Unidos e particularmente relevante ao presidente Obama. Assim, a visita de Dilma aos Estados Unidos encontra um pano de fundo excelente para aprofundamento e aprimoramento das relações entre os países. Por isso, é ainda mais lamentável que haja tão pouco em pauta.
Questões importantes, mas não de cúpula, dominaram a pauta. Evidentemente, a facilitação na concessão de vistos de turista a brasileiros ou o reconhecimento mútuo de bourbon e cachaça como bebidas de origem específica e um acordo sobre tráfego aéreo poderiam ser feitos pelas chancelarias de ambos os países sem a necessidade de encontro pessoal entre seus mandatários. Há temas bem mais interessantes que poderiam ser discutidos e que ficaram de fora. Como o espaço é curto, vou citar brevemente apenas dois.
Primeiro, retomar as conversas sobre o livre comércio entre as duas maiores economias do continente. Sei que esse é um assunto longo e controverso para apenas um parágrafo. Mas, enquanto o Brasil demonstra cada vez mais apreço a um protecionismo terceiro-mundista, o maior mercado do mundo continua se abrindo. Especificamente, em 2011 o presidente Obama acenou com uma área de livre comércio na Área de Cooperação Ásia-Pacífico (APEC, na sigla em inglês, que possui 21 membros, como EUA, China, México, Canadá, Austrália, Rússia, Chile e Peru), que seria a maior do mundo. Os Estados Unidos e a República da Coreia (Coreia do Sul) finalizaram, ainda em 2011, a criação de uma zona de livre comércio entre os dois países. Os espaços estão sendo ocupados e o Brasil está ficando para trás.
Segundo, aprofundar a cooperação educacional. Já há um programa federal para subsidiar estudantes brasileiros no exterior, o Ciência sem Fronteiras. Havendo um aprofundamento, com contrapartidas americanas, é possível, em poucas décadas, elevar a qualidade da engenharia nacional. Foi o que fizeram, e ainda fazem, Japão, Coreia do Sul, Índia e China, além dos europeus. Internacionalizar o aprendizado e colocar nossos melhores cérebros em contato com as melhores técnicas em ambientes multiculturais e meritocráticos é uma atitude que só trará benefícios ao Brasil. Já perdemos muito tempo devido a preconceitos ideológicos de governos pregressos.
Há muito por desenvolver na relação entre Brasil e Estados Unidos, nesse momento que estudiosos definem como de maturidade. Dois países que, com trajetórias distintas, podem se olhar com respeito e admiração mútuas. A reunião entre Dilma e Obama, dois mandatários pioneiros nas histórias de seus países, mostra isso. Os eleitores de ambos os países deram provas de suas maturidades. Que as relações bilaterais entre ambos os países evoluam também.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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