Por Pedro Nascimento Araujo
Esta semana, a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro
apresentou seu plano de metas até 2016. Chamado “Pós-2016: O Rio mais integrado
e competitivo”, é um compêndio de ações previstas pelo governo municipal da
cidade que estará na berlinda mundial nos próximos anos. Espera-se que suas
metas sejam alcançadas e que sirva de norte para uma atuação mais transparente,
eficiente e focada das administrações municipais Brasil afora.
Dito isso, notamos que o plano, que está disponível no
portal da prefeitura, fala em investimentos da ordem de 38 bilhões de reais até
2016. Além disso, delineia ações em áreas específicas. Há duas que examinaremos
com profundidade: transportes e favelas. Comecemos por transportes. O que se
propõe é pouco. E chega atrasado. O município do Rio de Janeiro não propôs uma
ousada guinada rumo a um sistema de trens e metrôs comparável àqueles
disponíveis para cidadãos de outros países. Em parte porque essa é uma
competência estadual, o fato é que as melhorias focam nos ônibus. Sim, os
poluentes, ineficientes, barulhentos, degradados e onipresentes ônibus. As
metas anunciadas? Mais velocidade nos corredores de ônibus e frota com 100% de
veículos climatizados. Pouco e tarde.
Enquanto não dispusermos de um sistema integrado de trens e
metrô que ligue diretamente o Largo da Carioca às regiões mais populosas
(Baixada Fluminense, São Gonçalo e Zona Oeste), qualquer medida é perfumaria.
Os moradores de cidades e bairros nos arredores e subúrbios de Londres, Paris,
Nova Iorque etc. saem de suas residências a mais de 100 km do destino sabendo
que um trem os deixará nos centros nervosos de suas metrópoles no tempo certo
e, malgrado cheios, com conforto e dignidade. Esse é o ponto essencial nos
transportes. Qualquer ação que não tenha como objetivo permitir que um
trabalhador do Rio de Janeiro não disponha de algo semelhante é acessória.
Enquanto as autoridades não puderem oferecer isso aos nossos trabalhadores, que,
ao menos, não se vangloriem de medidas paliativas de corredores ou de
climatização de ônibus.
A outra medida é ainda menos e ainda mais atrasada. A
Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro tem como meta reduzir, no quadriênio
2013-2016, a
área ocupada por favelas em “pelo menos 3,5%” em relação à área total
favelizada de 2008, o que dá exatos 0,875% ao ano de redução. Muito, muitíssimo
pouco. E muito, muitíssimo tarde. Apenas como exercício teórico: se esse ritmo
quelônico for mantido após 2016, levará ainda mais 111 anos para que o Rio de
Janeiro seja uma cidade sem favelas. Feliz 2127, cariocas!
É triste constatar que tão pouca atenção é dada à
favelização. Constantemente ouvimos líderes falando que o Brasil está se
tornando um país desenvolvido, membro do chamado primeiro mundo. Todavia, não
há país desenvolvido com favelas. Pessoas mais pobres, certamente há. Pessoas
morando em casas menores, mais distantes e mais modestas, também há. Locais nos
quais a lei não entra, isso não há. Pessoas vivendo em vielas e becos nos quais
automóveis não conseguem passar, também não há. E pessoas morando sem água e
esgoto, muito menos. Em suma, desfavelizar é dignificar os mais pobres. Não há
país desenvolvido no qual as pessoas pobres vivam sem dignidade. Enquanto houver
favelas, não haverá dignidade para as pessoas pobres – e enquanto não houver
dignidade para as pessoas pobres, não haverá país desenvolvido.
Pedro Nascimento
Araujo é economista.
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