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Coluna do Dr. Marcelo Paiva Paes.



Chicão e o seu isqueiro incorrigível.

Não consigo deixar passar em branco algumas coisas, fundamentalmente aquelas informações que por falsas premissas pretendem minar a história de algumas pessoas.

Assim como escrevi um texto sobre o desacerto do Jânio em processar o Chicão, escrevo agora um para mostrar os erros do Chicão em relação ao seu comentário sobre o fato do livro do Chico Buarque estar sendo traduzido para o coreano.

Bem, em primeiro lugar o que houve é aprovação na Lei Rouanet para que o livro possa buscar patrocínio através deste dispositivo legal. Não houve ainda dinheiro público nesta história, e se o livro não captar recursos não terá havido nenhum dinheiro nesta história.

Portanto, precipitam-se maldosamente aqueles que dizem que está se usando dinheiro público. Pois a aprovação de um projeto na Lei Rouanet não é necessariamente uso de verba pública, e a Lei Rouanet é um incentivo fiscal. Ou seja, ela permite que uma empresa aporte recursos numa obra de arte para depois descontar este valor do imposto de renda. É uma descentralização de financiamento público para as artes, mas não é dinheiro que sai de dentro do Tesouro Nacional.

Em segundo lugar, o montante aprovado é de R$ 7.000,00 (sete mil reais). O que não significa nenhum absurdo artístico. Ao contrário, demonstra o total compromisso com a lisura do processo e os custos do projeto.

Em terceiro lugar, quem está sendo aprovado para captar financiamento (e não já financiado) é um livro premiado no Brasil, não o seu autor. E premiado na mais importante feira nacional. Portanto é financiamento para quem se aventura a fazer a tradução. E faz parte da estratégia de qualquer país expandir os seus bens culturais como forma inclusive de enriquecer a sua língua. No caso em questão tanto mais, pois visa ainda valorizar a nossa história, afinal é um romance que mistura o passado real do Brasil à vida de um personagem fictício.

Em quarto lugar, as figurinhas que estão batendo nesta história (com a falsa informação de que o livro está sendo financiado com dinheiro público, quando apenas recebeu aprovação para captar financiamento) são figurinhas carimbadas da intriga e da fofoca. Um é o direitista fanático, Reinaldo Azevedo, da revista Veja, e o outro um militante da causa gay, jornalista e escritor, Helder Caldeira. São dois profissionais reconhecidos pelo furor raivoso que caracterizam os seus textos quando tratam de analisar seus “desafetos”. E aí as análises estão pessoalizadas, sendo impossível levá-las à sério.

Helder Caldeira chega a usar um artifício literário para disfarçar a sua ira, pois ele afirma no início do texto que tem inveja do Chico Buarque apenas para mais abaixo traduzir este sentimento por vergonha. Mas é, na verdade, um artigo repleto de ódio e verdadeiramente carregado de inveja. Talvez lhe faltem os olhos azuis.

Enfim, o Chicão às vezes coloca no mesmo caldeirão situações bastante diferentes. Este caso específico se dá porque a militância política do Chicão, que não está em cheque e nem diminuída, não foi entretanto orgânica, pois quem estava dentro do problema naquela época sabe o quanto foi importante a participação do Chico para a resistência e para as causas da redemocratização do Brasil, bem como pelas lutas de libertação de outros povos da América Latina. Quantos de nós não foi a Cuba ou a Nicarágua, eu inclusive, em vôos de solidariedade que se iniciavam em livros de ouro encabeçados pelo Chico? E ele foi uma figura importante também por sua postura, pelas posições que defendia, pelo confronto explícito com a Rede Globo, por ter sido presidente do CEBRADE (Centro Brasil Democrático), e dali ter organizado a resistência cultural com os shows do primeiro de maio, como o do Riocentro. Mas certamente não seriam sete mil reais que iriam questionar a pessoa Chico Buarque de Holanda.

Mas o Chicão não fazia parte deste movimento, ele mesmo assume o seu passado de rockeiro, e isto certamente o levava para longe desta resistência à ditadura através das manifestações culturais da nossa língua e da nossa arte, resistência esta que tinha no Chico o estandarte desta briga. E no qual muitas pessoas confiaram a sua história, como, por exemplo, a Zuzu Angel, que deixou com ele um bilhete escrito de próprio punho onde acusava a ditadura de querer matá-la. Bilhete este que o Chico guardou sigilosamente durante anos, usando-o apenas quando o Congresso Nacional instalou a comissão para rever os crimes da ditadura militar.

Mas é assim mesmo, fico triste apenas que ele vocalize ecos de rancor alheio, pois gostaria de vê-lo mais construtivo, e menos incendiário, porque, na verdade, um incendiário rockeiro muitas vezes coloca fogo onde não deveria.

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