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Os Remendos e a Reforma.



Por Pedro Nascimento Araujo

Por definição, em um país que concentra uma cunha fiscal de quase 40% do PIB, qualquer redução de impostos é bem vinda. Com o governo federal anunciando uma nova para essa semana, notadamente nos setores automobilístico e creditício, teríamos, em tese, todos os motivos para comemorar, pois isso tende a aumentar o investimento e, consequentemente, tanto o nível de renda quanto o de emprego. Estranhamente, não é o caso.

Não que haja nada intrinsecamente errado com o alívio fiscal, friso novamente. O problema é que não é a primeira vez que a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff mexe na ração do leão, tanto para aumentar quanto para reduzir impostos. Além disso, interferências no setor cambial e pressões explicitas sobre os bancos, sem contar a redução de autonomia do Banco Central do Brasil, acumulam-se para mostrar um intervencionismo crescente – que, pior, não dá mostras de ser consistente. Isso, obviamente, gera impressões ruins, que são traduzidas em um ainda tímido, mas já consistente, diferimento de investimentos.

Sempre que há inseguranças, há redução de investimentos. Não que os empresários sejam particularmente maldosos. Eles apenas agem como qualquer ser humano, e este entendimento parece faltar cronicamente nos planejamentos de qualquer governo. Por exemplo: qualquer mãe, ao saber (ou mesmo ouvir rumores) sobre assaltos no trajeto que seu filho faz para voltar da escola para casa, recomendará a seu pequeno que procure outra rota. Está sendo ela gananciosa? Estará ela especulando? Estará ela sendo histérica? Ou estará ela sendo apenas humana e, portanto, ciosa com o que valoriza? Parece-me que é apenas uma reação natural. O mesmo cuidado que a mãe de nosso exemplo teve com o filho a levaria a, caso houvesse rumores reiterados de que o banco no qual deposita suas economias está falindo, sacar de lá suas posses – ela simplesmente não esperaria pela confirmação que, afinal, seria dada pela impossibilidade de dispor de suas reservas. É exatamente assim com os empresários.

Assim, quando o governo começa a mexer nas regras do jogo ao sabor das necessidades prementes, a desconfiança dos empresários aumenta. Parecem remendos em uma mangueira furada. Isso gera postergamento de investimentos, o que só atrasa os crescimentos de emprego e renda. O Brasil precisa de uma reforma fiscal séria: acabar com o dantesco emaranhado de normas de arrecadação e limitar a capacidade de arrecadação de impostos ao máximo de 20% do PIB. Uma vez estabelecida tal regra, para mexer nela seria necessário aprovação no Congresso Nacional por maioria qualificada de dois terços em ambas as casas, procedimento equivalente àquele válido para uma Emenda Constitucional.  A segurança para investir seria patente. O dinheiro viria com segurança, livre dos receios causados por rumores tornados plausíveis por mudanças paulatinas de regras.

Evidentemente, aprovar um projeto que limita o tamanho da parcela da renda nacional que o setor público apropriar-se-á a um quinto gera desgastes de toda a sorte – desde comparações com o mesmo quinto que a Coroa Portuguesa cobrava, apelidado “quinto dos infernos” até pressões no Congresso Nacional contra a redução que afetaria todos os entes federativos. De fato, possivelmente o presidente que o fizer perderá sua reeleição. Sairá, todavia, da política direto para o panteão dos grandes líderes nacionais: aqueles que fazem o que é melhor para o Brasil, ainda que às custas de sua própria carreira. Rousseff, até o momento, ainda não parece disposta a tanto, e acaba mandando sinais absolutamente incompreensíveis para os empresários, como o exemplo automobilístico: há menos de um ano, o governo aumentou impostos de automóveis importados; agora, anuncia intenção de reduzir os impostos incidentes sobre o financiamento de veículos – o que inclui os importados. A inevitável impressão é de afobamento que beira o amadorismo; enquanto isso, a reforma tributária, que seria revolucionária, continua sendo ignorada.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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