As Eleições Burguesas e os Blogs Organizados.
A democracia capitalista é mesmo uma tragédia. Ela não
permite mudanças, ou melhor, ela faz com que as coisas pareçam que mudaram
para, na verdade, permanecerem da mesma forma em que estavam.
E isto por quê? Porque as candidaturas são oferecidas como
se fossem perfume, onde muito mais importante do que a fragrância é a
embalagem. Os frascos de perfume são verdadeiras obras de arte, alguns até
assinados por artistas caríssimos, outros carregam o nome de grandes
personalidades na marca, e em todos há designs para os mais variados gostos,
dos clássicos aos mais arrojados. Há uma marca, por exemplo, que esculpiu no
vidro o surrealismo de Salvador Dali.
Pois bem, a democracia capitalista faz isto com as
candidaturas a cargos eletivos, embrulha-os para presente, e para que o pacote
seja leve, portátil, e de fácil manuseio, retiram todo o conteúdo do candidato
e embrulham apenas a superfície inodora dos mesmos, com o mesmo zelo com que
embrulham aqueles que já não tinham conteúdo. Fica tudo igual. Os candidatos acabam se rendendo ao poder
financeiro, e em cidades onde há propaganda na televisão isto é mais evidente.
Nestas se disputa até o marqueteiro. E vejam a que ponto chegamos, inventaram o
tal do marqueteiro político, que vem a ser alguém que se pretende ser um bom
vendedor de candidaturas à população, pode? No capitalismo tudo o que vira
dinheiro pode. Até uma mentira como estas. É uma lástima.
Enquanto não conseguirmos emplacar a reforma política, e no
seu bojo o financiamento público de campanha, seremos obrigados a ver esta
deformação das personagens por conta da necessidade de recursos.
Vejam, por exemplo, Cabo Frio. Outrora dono de um discurso
vigoroso e coerente, Jânio se “despersonificou” para poder garantir aos
financiadores que não é mais aquele inimigo dos contratos de terceirização de
serviços, como, por exemplo, o lixo. É por razões de financiamento de campanha,
e não por afinidade ideológica, que Jânio optou por este caminho. Como já
escrevi em outros textos, acho que ele está apertado nesta fantasia, mas tenho
que reconhecer que o uso constante da mesma já a alargou um pouquinho, e
ultimamente ele parece estar mais confortável. E esta é a nossa grande
tristeza, vermos que ao longo dos anos, e com o uso recorrente da fantasia,
vamos nos acomodando a ela a ponto de deixarmos de nos indignar com as coisas.
Passando a enxergá-las como naturais e inalienáveis ao processo político.
Não era para ser assim. Mas quando a eleição é um produto a
ser vendido na televisão, passa a ser assim. As coisas ficam todas muito
iguais. E quem pode fazer um discurso diferente não tem tempo de televisão
suficiente para mostrar que pode se eleger e que pode, realmente, fazer a
diferença. Ou seja, não tem tempo suficiente de propaganda para cativar a
atenção do espectador e, conseqüentemente, cativar a confiança do eleitor.
Assim é que em
Cabo Frio teremos uma disputa de iguais, pois temos que
reconhecer que o tempo de propaganda dos diferentes será pequeno demais para a
necessária construção da confiança na proposta oferecida aos eleitores, tanto
mais porque os pequenos são sempre menos conhecidos da população, e precisariam
ainda se tornar conhecidos.
A diferença pode ser Paulo César, que apesar de estar em um
partido pequeno do ponto de vista de tempo de televisão, é bem conhecido do
eleitor. Por outro lado, Jânio tem um discurso mais afinado e consistente com a
proposição de políticas públicas, e Alair Correia conta com o alto grau de
conhecimento das pessoas a cerca de si, melhor explicando, é o mais conhecidos
dos candidatos, afinal já foi prefeito por três vezes e ganhou um grande
empurrão da atual gestão, que, fracassada, deu a ele maior visibilidade, afinal
ele saiu da prefeitura fazendo o seu sucessor. Quer dizer, teve a aprovação da
maior parte do eleitorado ao deixar o cargo de prefeito. Podemos dizer que
ganhou por pouco, e que Paulo César quase chegou lá. É verdade, mas quem ganhou
foi ele.
Os outros candidatos não são tão conhecidos e terão pouco
tempo para se mostrarem. Leitão, por exemplo, com o discurso mais ideológico e
construtivo, necessitaria ainda de mais tempo, pois o que tem para dizer é
muito diferente de tudo o que se diz.
Enfim, numa disputa de mais do mesmo tentaremos equilibrar
nossos dias futuros na cidade. Neste sentido, acho que duas coisas poderão
fazer a diferença. Uma delas é a população, que mais consciente pode fiscalizar
mais, e a outra será a presença da mídia social e alternativa. Entretanto, em Cabo Frio, estas
precisarão ser menos “torcida organizada” do que estão sendo, sob a pena de, se
assim não forem, acabar cumprindo um papel muito aquém do que poderiam cumprir,
limitando-se a projetos particulares dos seus editores. Claro que não são
todas, mas o fato é que uma parcela importante desta mídia local está
politizada em função da eleição de “A” ou de “B”, e não em função da “polis”,
ou seja, da cidade.
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