Ética, Moral e Lei.
Para variar, discutia eu com o
editor deste blog sobre algum assunto da política de Cabo Frio quando ele
avaliou algo como sendo ético e eu o contradisse dizendo que poderia ser moral,
mas não ético. Pois bem, aumentei a discussão que ele então, não sei se
provocativamente ou sinceramente, tratou de encerrá-la pedindo para que eu
escrevesse um texto sobre a diferença entre ética e moral.
Não sou filósofo, portanto que
estes me perdoem, mas não posso me furtar a responder ao desafio. Afinal, como
no ditado, dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair
dela.
Assim vamos lá. Não há uma
fronteira física entre a ética e a moral, não há um rio que as separe, como
também não há uma ponte que as una. Siamesas fisicamente, elas estão juntas e
entretanto separadas no espírito e no comportamento. Assim mesmo, como na
história dos irmãos Chang e Eng, que deram origem ao termo “irmãos siameses” e
que viveram unidos por toda a vida, mas mantiveram comportamentos distintos.
Seguindo esta metáfora, diria
então que a ética está mais ligada aos conceitos pilares da humanidade, ou
seja, princípios que de fato regem todos os seres humanos, princípios estes
espelhados, por exemplo, no mandamento de Cristo “ama o próximo como a ti
mesmo”. Desta premissa surge, por exemplo, o que chamamos de “imperativo
ético”, ou seja, é absolutamente imprescindível que tratemos qualquer pessoa de
forma humana, ou, que tratemos qualquer pessoa como gostaríamos de ser
tratados. Existem outros princípios básicos da humanidade, como a
solidariedade, o cuidado, a dignidade, o respeito, e outros mais. Estes
conceitos são éticos, e fora deles estamos transgredindo a ética.
Já a moral está mais ligada à
antropologia, que vem a ser a forma, ou melhor, o arranjo que cada sociedade
constrói a partir das suas percepções coletivas. A moral está ligada à cultura
dos grupos sociais.
Assim, e para continuar nos exemplos,
é imoral, por exemplo, para um evangélico o homossexualismo. Consequentemente,
para ele, um cidadão homossexual está transgredindo os valores morais das
comunidades evangélicas. Porém, se um evangélico tratar um homossexual com
distância, com isolamento, com segregação, ele estará transgredindo a ética. E
se para o seu grupo o homossexual é imoral, para a humanidade este evangélico
estará sendo antiético. Em outras palavras, condenar o homossexual pode não ser
imoral para um evangélico, mas será, necessariamente, antiético.
O filósofo alemão Friedrich
Nietzsche, em sua obra “Humano, Demasiado Humano”, disse que: “toda crença no
valor e na dignidade da vida se baseia num pensar inexato;... porque cada um
quer e afirma somente a sim mesmo.” Aí está, talvez em resumo, a essência desta
batalha entre ética e moral.
Para terminar, gostaria de dizer
que muitas vezes as Leis são escritas baseadas nos conceitos da moral de uma
coletividade. E é fundamentalmente por isso que sempre defendi, e defendo, que
a religião não deve participar do estado. Pois as religiões estão ancoradas em
princípios da moral, mas o estado deve, necessariamente, pautar-se pela ética.
Estados teocráticos, independentemente de serem ditatoriais ou não, transgridem
quase sempre a ética em função da sua moral religiosa. Como, por exemplo,
condenar ao apedrejamento a mulher infiel. Infidelidade, para eles, é imoral,
mas aquele ser humano que cometeu a infidelidade é uma cidadã, e o estado não
pode submetê-la a tortura ou a morte em nenhuma hipótese, nem mesmo por
princípios religiosos.
- Ah, dirá o leitor mais atento,
mas você citou Cristo no início deste texto, e Cristo é religião. Estará certo
o nobre leitor, mas devo dizer que citei um princípio ético da religião cristã,
que, infelizmente, está ofuscado pelos valores morais de uma sociedade que se
diz cristã, mas não age com ética.
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