Por Pedro Nascimento Araujo
Os Estados Unidos da América
passarão por mais um processo eleitoral neste ano. Se conseguir a reeleição,
Barak Hussein Obama II, o 44º presidente do país e o único não branco,
aumentará sua importância histórica. Curiosamente, Obama não é o primeiro
presidente americano oriundo de uma minoria: embora uma mulher ainda não tenha
alcançado o posto de suprema mandatária da nação, o cristão protestante Obama,
filiado à Igreja Unida de Cristo (UCC, na sigla em inglês) tem um antecessor
solitário: John Fitzgerald Kennedy. JFK foi o único presidente católico dos EUA
– em 1928, 32 anos antes de sua eleição, o país rejeitou o também democrata Al
Smith em favor de Herbert Hoover por aquele ser católico. Assassinado no meio
do seu mandato, Kennedy entrou para a história como um presidente visionário e
inovador. No Brasil, Presidente Kennedy é o nome de algumas cidades no Brasil.
Dentre elas, uma cidade no Espírito Santo que ganhou destaque recentemente por
falta de visão e atraso, exatamente o oposto do que normalmente seu nome
evocaria.
Presidente Kennedy tem pouco mais
de 10 mil habitantes e fica próximo à fronteira com o estado do Rio de Janeiro.
O que Presidente Kennedy tem em comum com Cabo Frio? Por enquanto, apenas os
royalties do petróleo – muitos, a ponto de o município ter o segundo maior PIB
per capita do estado. O que Presidente Kennedy tem de diferente em relação a
Cabo Frio? Muita coisa, das quais a mais dramática é o prefeito preso por desvio
de verbas públicas. Em 19 de Abril deste ano, Reginaldo dos Santos Quinta,
então prefeito de Presidente Kennedy, foi preso pela Polícia Federal em uma
operação apelidada de “Lee Oswald”, uma referência de gosto duvidoso ao
atirador confesso do assassinato de JFK. Acusado de desviar R$ 50 milhões,
Quinta foi preso e a cidade está sob intervenção estadual, com um interventor
comandando o município até que o próximo prefeito assuma em 2013.
A comparação com Cabo Frio é inevitável. Se, com tantas denúncias de desmandos por parte de Marquinho Mendes e seu grupo político, como ele ainda não foi preso? Dado o volume de royalties que Cabo Frio recebe e a quantidade de denúncias envolvendo Marquinho Mendes, os 50 milhões que o grupo de Quinta roubou em Presidente Kennedy parecem troco. Como Marquinho Mendes ainda se mantém no posto a ponto de lançar candidato à sua sucessão? Por que, afinal, em Presidente Kennedy o prefeito é preso e em Cabo Frio não? Não há como termos uma resposta completa, mas há alguns indícios. E, por mais estranho que possa parecer, esses indícios apontam para a revolução urbana que Alair Corrêa realizou em Cabo Frio, de 1997 a 2004. Senão, vejamos.
Comecemos analisando a situação
dos municípios vizinhos de Cabo Frio que recebem muitos royalties do petróleo.
Em vários, houve turbulências políticas, com prefeitos cassados. O caso mais
emblemático talvez seja o de Campos dos Goytacazes, reduto político do clã
Garotinho que nada em dinheiro de petróleo: foram tantas reviravoltas que mesmo
analistas locais têm dificuldade para saber quem comandava a prefeitura em um
determinado período. De fato, Campos dos Goytacazes e Presidente Kennedy têm
muito mais em comum entre si que Presidente Kennedy e Cabo Frio ou Campos dos
Goytacazes e Cabo Frio. O que une Campos dos Goytacazes e Presidente Kennedy e
as diferencia de Cabo Frio é o fato de, durante todos esses anos de royalties
do petróleo, nunca ter havido nas duas cidades um prefeito que tivesse feitou
uma revolução urbana semelhante à que Alair Corrêa perpetrou durante seus
últimos 2 mandatos. Explico.
Em ambas as cidades, os bolsões
de miséria são gritantes. Há regiões em Campos dos Goytacazes e em Presidente Kennedy
nas quais o trabalho em condições análogas à escravidão grassa. De fato, nessas
cidades, é muito simples ver que o dinheiro do petróleo não gerou benefícios.
Ruas sem calçamento, valões, lixões etc. são parte da paisagem. Por isso, dada
a escassez de recursos, não é de todo condenável o Ministério Público priorizar
investigações em tais locais. Ao olhar para Cabo Frio, mormente para o Centro,
o que um forasteiro vê ainda é uma cidade sem valões, com ruas calçadas e sem
lixões. Graças à revolução urbana de Alair Corrêa, 8 anos depois Cabo Frio
ainda funciona – não tão bem quanto quando a revolução estava em curso, mas não
tão ruim quanto, por exemplo, em Presidente Kennedy.
Evidentemente, os cabo-frienses
mais esclarecidos perceberam há muito que nada foi feito nos últimos 8 anos e
que, somente agora, começam a aparecer os sinais mais prementes desse descaso;
todavia, para um forasteiro, não há como comparar Presidente Kennedy com Cabo
Frio. Assim, foi em parte graças à revolução urbana que a cidade vivenciou sob
Alair Corrêa que Marquinho Mendes conseguiu perpetrar toda sorte de abusos e de
desmandos abaixo do alcance do radar do Ministério Público a ponto de completar
seu mandato. Marquinho Mendes teve muita sorte: a herança que recebeu foi tão
grande que ele pôde optar por não trabalhar durante 8 anos, para dizer o
mínimo. Porém, quem o Marquinho Mendes na prefeitura de Cabo Frio, receberá de
herança nada além de problemas e terá de trabalhar dobrado para compensar pelos
seus 8 anos de absoluta paralisia. No ritmo atual, a cada dia que passa diminui
mais a distância que separa Cabo Frio e Presidente Kennedy.
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
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