Por Pedro Nascimento Araujo
Nesta semana, as notícias vindas
do Oriente Médio pareciam corroborar a inviabilidade da paz na região. Por toda
a região, más notícias se acumulam. A guerra civil na Síria prossegue, o Irã
admitiu que continuará fornecendo mísseis e dinheiro para os terroristas do
Hamas e do Hezbollah e o Afeganistão continua uma incógnita. Em 2 países
importantíssimos para a geopolítica da região, as coisas pioraram e, em um, há
uma notícia supreendentemente boa. Vejamos.
As coisas pioraram em Israel, que
finalmente resolveu reagir aos covardes mísseis do Hamas após algumas centenas
de ataques, mas não quis fazer uma ocupação permanente da Faixa da Gaza, se
limitando a destruir, com bombardeios cirúrgicos, depósitos de armas e túneis
de contrabando. Na prática, o país confia em melhorar seu sistema de
interceptação de mísseis: em 3 anos, deve entrar em operação outra camada de
proteção, provisoriamente chamada “Justa de Davi”, que vai completar os níveis
já existentes. De forma mais direta, Israel adiou a resolução do problema:
enquanto não houver uma ocupação efetiva da Faixa de Gaza que liberte os
palestinos da ditadura do Hamas – que, aproveitando a confusão causada pela
resposta israelense, exerceu seu lado Complexo do Alemão e, em sua versão
islamista de tribunal do tráfico julgou, condenou e executou 6 opositores
acusados genericamente de colaborar com Israel e arrastou seus corpos pelas
ruas de Gaza – não haverá paz e segurança duradouras na região.
As coisas pioraram no Egito, que
sob comando da Irmandade Mulçumana (origem do partido do presidente Muhamed
Morsi, do Hamas, do Hezbollah etc.) provou sua ascendência sobre os terroristas
do Hamas ao negociar o cessar-fogo entre os ditadores de Gaza e Israel, acabou,
involuntariamente, fazendo o que Israel queria: se comprometeu diante da
comunidade internacional a garantir tanto que o Hamas não atacaria mais Israel
quanto a controlar melhor o covil de terroristas que se tornou a Península do
Sinai, viu o surgimento de crescentes protestos populares contra uma tentativa
de golpe do presidente Morsi e caminha para um enfrentamento aberto entre o
governo da Irmandade Mulçumana e seus aliados salafistas e a oposição secular,
com a Praça Tahir voltando a ser ocupada por jovens pedindo democracia apenas
20 meses após o mesmo acontecer com a balzaquiana ditadura de Mubarak.
Porém, há uma notícia
surpreendentemente boa para a qual poucos atentaram. E essa boa nova vem
exatamente do Iraque, o país no qual muitos disseram que a democracia que os
americanos instalaram não duraria. Na verdade, o fato de a única boa notícia da
região vir do Iraque não deveria surpreender tanto aqueles que acompanham os
acontecimentos da região: sem embargo, desde 2006 o país vem, progressivamente,
retomando a estabilidade. A democracia iraquiana, aos poucos, vem se
consolidando. Mesmo sem a ajuda direta dos americanos, as forças de segurança
vêm, ainda que com dificuldades, mantendo a paz. Mas, ainda assim, a violência
sectária era uma espada de Dâmocles pendendo sobre o país. Especificamente, o
Iraque vivenciou atentados terríveis durante Ashuras (momentos nos quais os
mulçumanos xiitas relembram o martírio do ímã Ali, neto do profeta Maomé, na
cidade iraquiana de Karbala e que é mais lembrado pelos atos de autoflagelo dos
fiéis) realizadas o em anos anteriores: terroristas sunitas, geralmente da
al-Queda, promoveram verdadeiros massacres, mesmo quando os militares
americanos estavam no país. Mas, em 2012, a Ashura transcorreu sem um atentado.
Isso não significa que sunitas e xiitas superaram a fase de tentar resolver
suas diferenças religiosas se matando mutuamente. Significa apenas, que, no
Iraque, as tensões sectárias estão menores e o controle da segurança dos
cidadãos do país por sua jovem democracia está maior. É uma notícia positiva
para qualquer país em geral e para o Iraque em particular. E é uma
notícia excelente em uma semana na qual a situação como um todo piorou. No
pântano do Oriente Médio, há flores iraquianas. E, por mais improvável que seja,
elas estão vicejando.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
Comentários
Postar um comentário