Por Pedro Nascimento Araujo
A Petrobras parece disposta a
provar que o malfadado slogan eleitoral de Tiririca (“Vote em Tiririca – pior
do que está não fica!”) estava equivocado. Mesmo após colecionar tantas
notícias ruins ao longo de 2012,
a coisa pode piorar na estatal. A empresa deve encerrar
2012 protagonizando mais uma notícia ruim: desabastecimento de combustíveis. Se
realmente ocorrer, será uma cereja apodrecida em cima de um bolo já indigesto
demais. Quem disse que não é possível piorar?
Os problemas da petroleira, é
justo e necessário dizer, não começaram agora, na gestão Graça Foster. Segundo
muitos analistas, o problema vem de antes, do governo Lula da Silva, mais
especificamente dos longos anos da gestão José Sergio Gabrielli (2005-2012).
Foi o período no qual a companhia foi mais aparelhada (exemplo: o Land Rover
dado de propina pela GDK, empresa que tinha polpudos contratos com a estatal, a
Sílvio Pereira, então secretário do PT) e menos voltada a atender os interesses
de seus acionistas (exemplo: a decisão de produzir navios e plataformas no
Brasil, mesmo pagando, em alguns casos, mais que o dobro do valor
internacional). Depois de mais de 7 servindo interesses políticos e dilapidando
patrimônio dos acionistas, a situação econômico-financeira da Petrobras ficou
insustentável. A presidente Dilma Rousseff, então, encarregou a engenheira
Graça Foster de retomar a eficiência e de purgar os contratos com, digamos,
eficiência duvidosa feitos durante o período Gabrielli.
As más notícias se acumulam no
24º andar da sede da companhia. Lá, a esbelta presidente Graça Foster vem
fazendo uma dieta forçada de dissabores. Foster teve de acompanhar casos como a
contaminação de praias baianas causada por um vazamento de um diluente de
petróleo de sua subsidiária Transpetro a 50 quilometros de Salvador (BA),
ocorrida no dia 02-Nov-2012.
A petroleira pode esperar problemas com os órgãos
reguladores, embora seja altamente improvável que enfrente uma reação tão
rigorosa quanto a que sua concorrente americana ChevronTexaco enfrentou.
A semana já havia começado
indigesta no EDISE, nome corporativo do edifício-sede da estatal. Na
segunda-feira, dia 29-Out-2012,
a empresa Bovespa reagiu a um péssimo número que a
Petrobras apresentou: queda na produção. Em Setembro, a petroleira produziu um
volume equivalente ao de Abril de 2008, ou 1,85 milhão de barris diários –
quando nos lembramos de ter havido previsões da empresa de encerrar 2012
produzindo 2½ milhões de barris diários, não restam dúvidas do tamanho da
encrenca: a produção da Petrobras regrediu mais de 4 anos no tempo.
Achando pouco, a companhia ainda
divulgou resultados abaixo do esperado (lucros 12% abaixo do obtido no mesmo
período do ano anterior) depois de, no trimestre anterior, ter obtido prejuízo
pela primeira vez em 13 anos, mesmo após os reajustes (quase 8% na gasolina,
não repassados para os consumidores graças a malabarismos ficais) que a estatal
conseguiu. Pior, ficou clara a existência de um risco potencial para os
resultados dado pela conjugação entre maior demanda e menor produção, que pode
ser traduzido em maiores importações a custo subsidiado – em bom português, o
mercado vê mais más notícias no caminho da empresa. Diante disso, as ações da
petroleira caíram 3,5% em um dia, derrubando a Bovespa e disseminando a certeza
segundo a qual os problemas da Petrobras ainda estão muito longe de acabar.
E, agora, a Petrobras, empresa
que reduziu a produção e que tem prejuízo quando importa gasolina, se debruça
diante de planos para aumentar a importação de gasolina em 20% nos próximos
anos. Trata-se de uma tentativa desesperada de evitar o desabastecimento do
produto – algo que já se verifica em algumas praças do Brasil, como o Amapá,
que ficou sem combustível no mês passado – cujo resultado é incerto. A única
certeza é a de mais prejuízos estarem a caminho. Tudo somado, o futuro da
estatal é sombrio, mesmo levando-se em conta que a Petrobras pretende se livrar
de 15 bilhões de dólares em ativos (o termo técnico é “desinvestir”) para fazer
caixa e reduzir sua necessidade de endividamento em um momento no qual sua
avaliação tende a piorar e, com isso, seu custo de captação tende a aumentar.
Em um país normal, toda a análise
feita aqui acerca da Petrobras não teria interesse nenhum aos cidadãos que não
investiram suas economias na empresa. Porém, a empresa é controlada pelo
governo brasileiro. Assim, todo prejuízo é, em última análise, pago com
dinheiro do nosso suor que o governo tira dos nossos bolsos. O Land Rover do
Sílvio Pereira não foi pago pela GDK: foi pago por cada um de nós. As
ineficiências que dobram o preço de uma plataforma construída no Brasil são
pagas por nós, com o dinheiro tirado de nossos bolsos. Se fosse uma empresa
privada, ninguém teria nada a ver com isso. Como não é, a nós, obrigados a
pagar a conta da incompetência administrativa do sócio majoritário, só resta
reclamar. Porque, ao contrário do que Tiririca afirma, atualmente na Petrobras
é assim: pior do que está, fica.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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