Por Pedro Nascimento Araujo
Em sua mensagem de Natal deste ano, o Papa Bento XVI fez alguns apelos
justos e necessários. No milenar pronunciamento Urbi Et Orbi, Sua Santidade
falou sobre o massacre na Síria. Fez um apelo pelo fim do conflito que, em suas
palavras, “não poupa nem os indefesos” e faz vítimas entre os inocentes,
clamando por uma solução política para a guerra civil-sectária que assola
aquele país e que já é responsável por quase 50 mil mortes. Mas o Papa não
falou apenas dos males que afligem a Síria. Bento XVI pediu também que
israelenses e palestinos tivessem “coragem para encerrar tantos anos de
conflitos e divisões”, apelando para que esses países, representantes das
outras duas grandes religiões monoteístas – judaísmo e islamismo – adotassem a
via da negociação em oposição à via das armas, um tema ao qual voltaremos
adiante.
Falemos agora sobre outro ponto específico do Urbi Et Orbi, quando Sua
Santidade falou sobre a situação de muitos outros lugares – ao Egito, pediu
“união dos cidadãos para construir uma sociedade baseada na justiça e no
respeito pela liberdade e pela dignidade da pessoa humana”, para a América
Latina pediu que os governantes buscassem “o desenvolvimento e o combate à
criminalidade”, pediu respeito às liberdades religiosas na China etc. – mas,
principalmente, Bento XVI desejou que “o Nascimento de Cristo ajude a paz a
retornar [...] à Nigéria, aonde atos selvagens de terrorismo continuam ceifando
vidas, especialmente entre os Cristãos”. Esses atos têm nome e sobrenome.
Atende por Boko Haram. E, na noite de 29 para 30 de Dezembro de 2012, cometeram
um dos mais bárbaros atos que se pode imaginar: entraram silenciosamente nas
casas de cristãos na região de Musari e os degolaram a facão. Na manhã de 30 de
Dezembro de 2012, 15 cristãos foram encontrados com as gargantas degoladas em
suas casas. É preciso conhecer muito bem quem é o Boko Haram.
Em sua língua nativa, Boko Haram quer dizer “educação ocidental é
pecado”, o que dá um indicativo do que querem seus líderes, cujo objetivo
declarado é implantar a sharia, lei islâmica ditada por Maomé no Século VII.
Mal comparando, é como os judeus ultraortodoxos que desejam viver de acordo com
a lei de Moisés em pleno Século XXI – com a diferença que, em Israel, os
ultraortodoxos não mandam no país, e, não raro, são alvo da próprias forças de
segurança israelenses quando invadem propriedades árabes ou atacam cristãos,
por exemplo. Mas, na Nigéria convertida em terra de ninguém, o Boko Haram é
apontado como o responsável por até 10 mil mortes. Uma de suas formas de terror
favorita é destruir igrejas cristãs por meio de atentados a bombas, matando que
estiver participando da celebração. A partir de meados de 2013, a União
Africana deverá, com mandato do Conselho de Segurança das Nações dado pela
Resolução 2085/2012, iniciar os combates militares contra a Al-Qaeda do Magreb
Islâmico, grupo ao qual o Boko Haram é associado, sediada no Mali, país vizinho
à Nigéria e em situação também dramática.
O mais espantoso acerca do Boko Haram é o silêncio com o que os líderes do
Islã tratam do assunto.o que há de errado com as lideranças islâmicas? Se um
cristão ou um judeu se recusa a seguir os preceitos islâmicos e, por exemplo,
faz charges envolvendo Mamoé – como fazem com Jesus, Javé e quem quer que seja
– a gritaria é imediata. Protestos “espontâneos” brotam em profusão,
curiosamente em lugares nos quais protestar contra o governo dá cadeia, como o
Irã. Mas, quando cristãos são degolados, nem uma palavra. Quando mísseis são
jogados contra civis israelenses, há aplausos. Quando se fala em conversas de
paz, os terroristas do Hamas são enfáticos em não reconhecer o direito de
Israel de existir – e, os demais, convenientemente, se esquecem de que, antes
de 1967, o acesso de judeus e de cristãos aos seus respectivos pontos sagrados
em Jerusalém era mínimo e que, com o controle israelense, passou a ser livre.
Porém, quando Israel, após receber centenas de foguetes, finalmente resolve se
defender, mirando apenas em alvos militares, a grita do Hamas e de seus
defensores ao redor do mundo é ensurdecedora – e é assustador ver a quantidade
de amigos que um grupo que faz festa quando, orgulhosamente, tirando fotos e
disparando tiros para o alto, arrasta prisioneiros políticos pelas ruas, tem no
Brasil.
Decididamente, há algo fora de compasso ritmo das lideranças das três
grandes religiões derivadas de Abraão. Quem atravessa o samba não é nem no
cristianismo, cujo líder máximo, por meio do Urbi Et Orbi, prega pelo respeito
às liberdades religiosas. Também não é no judaísmo, cujo Estado é laico e não
hesita em usar sua polícia quando seus radicais não cumprem a lei do país.
Porém, dentre as lideranças do islamismo, não se ouve uma voz que condene os
foguetes contra os judeus ou as degolas contra os cristãos. É um descompasso
só, não necessariamente dos fiéis, mas certamente das lideranças. Que, no
mínimo, são cúmplices do Boka Horam – afinal, há 4 formas de pecado: por
pensamentos, por palavras, por atos e por omissões. Em ao menos uma delas, as
lideranças do islã pecam.
Pedro Nascimento Araujo é economista
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