Por Pedro Nascimento Araújo.
A revista americana Forbes é
conhecida por preparar os mais completos rankings de milionários do mundo. A
mais recente é de março de 2012. Por meio dela, sabemos quanto possuíam, na
época, o mexicano Carlos Slim (69 bilhões de dólares), o americano Bill Gates
(61 bilhões de dólares) e o brasileiro Eike Batista (30 bilhões de dólares),
entre outros. O ranking serve como indicador dos setores e dos países mais
rentáveis da economia mundial. Mas este não é o único ranking preparado pela
Forbes. Há outros bem mais ilustrativos, como o ranking denominado “Fortunas de
Reis, Rainhas e Ditadores.” O líder da lista, Rei Abdullah, atual soberano da
Arábia Saudita, possui uma fortuna de 21 bilhões de dólares – nada de mais,
quando se sabe que os cofres do Reino da Arábia Saudita e da Família Real
Saudita, são um só em um país no qual tudo é censurado e há uma “polícia dos
bons costumes” bastante ativa. Fora outros petrossoberanos, a Forbes indica que
a Rainha Elizabeth II possui 500 milhões de dólares. Na África, chamam a atenção
os 600 milhões de dólares de Teodoro Mbasogo, ditador da Guiné Equatorial desde
1979 – atualmente, o tirano é bajulado pelo governo brasileiro devido à
construção de Djibloho, nova capital do país.
Na lista de bilionários da
Forbes, há uma mulher que atende pelo nome de Isabel dos Santos. Ela possui uma
fortuna de 1 bilhões de dólares (100 milhões de dólares a mais que Fidel
Castro, ditador cubano desde 1959, cuja fortuna é estimada pela Forbes em 900
bilhões de dólares), tem apenas 40 anos e sua fortuna é, em tese, privada, pois
não governa nenhum país – ao menos, até conhecermos sua família. Isabel dos
Santos é filha de José Eduardo dos Santos – este, um típico ditador africano.
José Eduardo dos Santos é chefe do Movimento Popular pela Libertação de Angola
(MPLA). O MPLA é um grupo marxista que controla Angola desde 1975. Financiado e
armado pela União Soviética durante a Guerra Fria, o MPLA controlava Luanda,
mas não o resto do país, quando Portugal fez a transferência de poder em 1975,
o que deu origem a uma guerra civil que durou décadas e que conta com episódios
sangrentos como o Massacre dos 3 Dias de 1992, nos quais o MPLA matou entre 10
mil e 40 mil opositores. José Eduardo dos Santos preside Angola desde 1979,
sucedendo Agostinho Neto, com quem lutou no MPLA pela independência do país.
Isabel dos Santos tem todas as
credenciais para ser uma pessoa naturalmente bem sucedida. Ao contrário do povo
que seu pai oprime, ela teve acesso a uma educação de primeira qualidade –
evidentemente, não em Angola, mas no Reino Unido, onde se graduou em Engenharia Elétrica
em Cambridge, uma das mais conceituadas universidades do mundo. Para quem não
acreditou na fantástica competência empresarial de Fábio Luiz da Silva (mais
conhecido como Lulinha, Fábio Luiz da Silva é o filho do ex-presidente Lula da
Silva que, de monitor de zoológico até o ano da posse do pai, virou o
visionário criador de uma empresa de jogos, a Gamecorp, cujo capital social era
apenas de 100 mil reais, mas foi comprada por 5 milhões de reais pela Telemar,
concessionária de serviços públicos que ainda injetou outros R$ 10 milhões na
empresa), mais difícil ainda será acreditar na superfantástica ultracompetência
empresarial de Isabel dos Santos. A moça, em que pese a maior capacidade dada
pela formação em Cambridge, abriu um restaurante em Luanda em 1997 chamado
Miami Beach. O Miami Beach botou a Gamecorp no chinelo: 15 anos depois, Isabel
dos Santos é dona de uma fortuna de 1 bilhão de dólares. Obviamente, as
justificativas de Isabel dos Santos e de Lulinha para seus inusitados
enriquecimentos são bem parecidas: competência pessoal, trabalho e sorte.
Qualquer semelhança é triste coincidência. Tanto para os angolanos quanto para
os brasileiros.
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
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