Por Pedro Nascimento Araujo
Há 4 décadas, o Brasil
experimentou o período conhecido como Milagre Brasileiro. Foi um período de
expansão econômica sem precedentes: entre 1968 e 1973, o Produto Interno Bruto
(PIB) cresceu a uma média anual de 10%, algo digno de China dos anos 1990/2000.
À frente da economia nacional figurava um homem muito controverso: Antônio
Delfim Netto. O único ponto pacífico acerca de Delfim Netto era – e ainda é –
sua inteligência. No mais, setores à esquerda e à direita do pensamento econômico
(leia-se: pró-governo e pró-mercado) ora o idolatravam, ora o defenestravam.
Por conta de seus detratores, uma de suas frases mais lembradas – Delfim Netto
é um frasista de mão cheia – foi sua resposta à crítica acerca da concentração
de renda que acompanhou o Milagre Brasileiro. Delfim Netto disse: “É preciso
primeiro fazer o bolo crescer para depois reparti-lo”, afirmando que a
concentração de renda seria periódica e, portanto, revertida. O Milagre
Brasileiro acabou em 1973. Somente duas décadas depois, em 1994, com o Plano
Real, o Brasil experimentaria uma redistribuição de renda.
Como Delfim Netto ainda está
vivo, não podemos dizer que ele reencarnou em Dilma Rousseff. Porém,
mesmo vivo, Delfim Netto não comanda mais a economia nacional; todavia, aparentemente,
sua lógica de primeiro concentrar para depois desconcentrar vai durar mais que
ele: Dilma Rousseff gostou tanto do bolo de Antônio Delfim Netto que chegou a
repeti-lo semana passada, quando, ao empossar seu 39º (por extenso, para que
não restem dúvidas: trigésimo-nono) ministro, respondeu às críticas de
inchamento excessivo da máquina pública com a seguinte declaração: “É
necessário um processo de expansão para depois abrir um processo de redução”.
Assim como o bolo do Antônio nunca foi dividido pelo Antônio, o governo da
Dilma não será reduzido pela Dilma.
Conceitualmente, não há
diferenças entre “É preciso primeiro fazer o bolo crescer para depois
reparti-lo” e “É necessário um processo de expansão para depois abrir um
processo de redução”. A julgar pela lógica, tanto Antônio Delfim Netto quanto
Dilma Rousseff poderiam ter cunhado qualquer uma das sentenças – ou mesmo
ambas. Ambos incorreram no mesmo erro de negligenciar um problema sério que
afeta todos os brasileiros, seja a concentração de renda, seja a hipertrofia
estatal. A história não costuma ser gentil com líderes que, diante de um
desafio premente, como o inchaço e o aparelhamento do aparato estatal, preferem
cunhar frases de efeito duvidoso para justificar sua inoperância a encará-lo.
Antônio Delfim Netto é associado à frase do crescimento e da partilha do bolo
até hoje. Dilma Rousseff anda se especializando em ações desse tipo
ultimamente. Não acrescenta nada ao governo dela. Não acrescenta nada ao
Brasil.
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
Comentários
Postar um comentário