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Mais uma herança maldita?




Por Pedro Nascimento Araujo

Na semana passada, o Itamaraty distribuiu para todas as representações brasileiras no mundo uma comunicação na qual ordenava que todas, absolutamente todas, as informações referentes às viagens da presidente Dilma Rousseff ao exterior sejam classificadas como “reservadas”. Da noite para o dia e sem nenhuma justificativa plausível, nós, que pagamos pelas despesas da Presidência da República, somos candidamente informados que não poderemos mais saber como nosso dinheiro é gasto. Da noite para o dia. Sem nenhuma justificativa plausível.

Naturalmente, o Palácio do Planalto não joga dados para tomar suas decisões. Este foi um desgaste planejado em um momento de desgastes não planejados. Desde o começo do ano, o que fazia Dilma Rousseff diferente de Lula da Silva virou pó. A tal “faxina ética” parece ter acontecido em um passado remoto. Os constantes improvisos na condução da economia levaram a The Economist, uma das mais respeitadas publicações do mundo, a usar seu humor britânico para sugerir que a presidente mantenha Guido Mantega porque “obviamente, está funcionando”, quando comentava os patéticos números do crescimento e da inflação nacionais, uma combinação que alguns analistas já começam a chamar pelo nome: estagflação, combinação de estagnação econômica e inflação elevada. O famoso tripé macroeconômico, que desde o governo de Fernando Henrique Cardoso garante a estabilidade macroeconômica, foi desavergonhadamente dilapidado pelo atual titular do Bloco P da Esplanada dos Ministérios. Demorou, mas as contas, apresentadas na forma de notícias ruins, não param de chegar.

Há poucos dias, a Standar & Poors, uma das maiores agências de avaliação de risco, colocou o Brasil em viés de rebaixamento devido à deterioração dos fundamentos da economia nacional – durante os próximos 2 anos, viveremos como Dâmocles, com uma espada pendendo sobre nossas cabeças: se o Brasil for rebaixado e perder o chamado Investment Grade (Grau de Investimento), simplesmente uma grande parte dos investimentos estrangeiros não poderá mais ser feita aqui – o Investment Grade é condição necessária para que grandes investidores internacionais (fundos de investimento, fundos de pensão etc.) possam colocar dinheiro em um país. Sem Investment Grade, o dinheiro escasseia e fica mais caro – logo, o investimento diminui. Como sem investimento não há crescimento sustentável, é razoável se supor que as más notícias deverão continuar convivendo conosco.

A popularidade da presidente Dilma Rousseff caiu 8 pontos percentuais desde o início do ano, sintoma direto da deterioração de uma economia que ignora os fundamentos e vive de fazer puxadinhos. Ao invés de retomar o trilho da responsabilidade macroeconômica, o governo fez o de sempre: culpou o mensageiro e ignorou a mensagem. A Standard & Poors foi vilanizada – curiosamente, em 2008, ela foi a primeira agência de avaliação de risco a propor o Investment Grade para o Brasil, fato que foi explorado politicamente pelo então presidente Lula da Silva. Tipicamente, e mais curiosamente ainda, a mesma The Economist, que também foi vilanizada por criticar o pífio desempenho da economia brasileira, foi incensada em novembro de 2009 quando fez a icônica capa com o Cristo Redentor virando foguete e os dizeres “O Brasil decola” (Brazil Takes Off).

Com todos esses desgastes não planejados, passou despercebida pela maioria da população proibição de divulgação dos dados referentes às viagens internacionais da presidente Dilma Rousseff. Para ser 100% justo, a Lei de Acesso à Informação impede que os dados fiquem ocultos para sempre. Por isso, a Presidência da República passou a considera-los capazes de colocar em risco a segurança da Senhora Rousseff e determinou que eles ficarão sigilosos até que ela deixe o Palácio do Planalto, o que ocorrerá ou em 2015 ou em 2019. Durante tal interim, não poderemos acompanhar, em tempo real, gastos como o da controversa viagem a Roma que a Senhora Rousseff fez para a missa inaugural do Papa Francisco – aquele mesmo que pediu que, ao invés de gastarem dinheiro para irem a Roma vê-lo, as pessoas doassem o dinheiro da viagem para os pobres: só com Dilma Rousseff, os pobres deixaram de receber mais de R$ 325 mil, sem contar os gastos com o AeroDilma. Foram 23 quartos em um hotel de alto luxo (custa quase R$ 8 mil a diária da suíte presidencial do Hotel Excelsior, onde a Senhora Rousseff preferiu ficar, ao invés de ficar de graça no belo palácio que abriga a legação brasileira em Roma e cujo “quarto vermelho” hospedou a notória Rosemary Noronha quando José Viegas era embaixador), 7 carros com motorista – além de um blindado para a presidente – etc. (no etc. há uma conta de alguns milhares de reais de room service). Ficaremos também sem saber que a Senhora Rousseff e comitiva gastaram mais de R$ 900 mil para ficar no luxuoso Ritz Hotel de Londres quando da abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2012, desprezando a nova sede da legação brasileira na cidade que ela mesma inaugurou na cidade.

Não há justificativa plausível para tornar gastos indecentes como os supracitados sigilosos. Se, mesmo sabendo que nós, o povo brasileiro, veremos tais disparates, Dilma Rousseff continua a produzi-los, apenas podemos especular sobre o que poderá acontecer caso nem o constrangimento exista mais. Cereja no bolo de lama? A medida é retroativa: atinge todas as viagens internacionais desde que a Senhora Rousseff foi investida no cargo de presidente da República Federativa do Brasil. Em meio a todas as notícias ruins produzidas pela incompetência na gestão da economia, o novo sigilo passou despercebido. O maior perigo é o sigilo acerca de viagens internacionais da Presidência da República virar “tradição” para os sucessores de Dilma Rousseff. Para quem sempre gosta de falar em heranças malditas, a Senhora Rousseff parece se esforçar bastante para criar mais uma.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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