Por Pedro Nascimento
Araujo
Abubakar Shekau é o líder do Boko Haram.
O grupo terrorista nigeriano, face mais cruel do fundamentalismo islâmico,
controla o Norte do país. A tradução literal de Boko Haram é “educação
ocidental é pecado”, e os terroristas comandados por Shekau levam a sério seu
slogan: no dia 6 de julho, 46 estudantes foram mortos queimados (os que
conseguiram fugir das chamas foram fuzilados) em um ataque do Boko Haram na
cidade de Mamudo, que fica em Yobe, um dos três estados no nordeste da Nigéria
controlados pelo Boko Haram e que estão sob Estado de Emergência há quase 3
meses. Não foi o primeiro nem será o último ataque do Boko Haram contra
crianças.
Abubakar Shekau, o responsável por
mandar homens armados para invadir um dormitório estudantil durante a madrugada
e queimar os estudantes apenas porque eles estão estudando é capaz de tudo. Em
uma declaração em vídeo divulgada neste final de semana, Shekau é direto:
“Mataremos todos os professores que ensinarem educação ocidental. Matá-los-emos
diante de seus alunos, e mandaremos os alunos estudarem apenas o Corão a partir
de então.” Ameaça bastante crível: o Boko Haram é responsável por inúmeros
massacres de cristãos nos últimos anos. Não que as forças de segurança
nigerianas sejam exemplares: há registros de abusos por parte dos militares,
que teriam promovidos massacres no combate ao Boko Haram.
Na prática, a Nigéria reproduz em seu
território os males da África: recursos naturais abundantes não se transformam
em desenvolvimento social, corrupção endêmica, norte islamizado e sul
cristianizado. Com a radicalização de grupos como o Boko Haram crescendo na
esteira das instabilidades dos países do mundo muçulmano, que possibilita o
acesso a mais armas e mais combatentes, a África virou um santuário de
terroristas maior que o Oriente Médio – e a Nigéria, país que possui 170
milhões de habitantes (algumas estimativas apontam para o país passar a ser
mais populoso que o Brasil antes da metade do século) e é o 8º maior exportador
de petróleo do mundo, é estratégica no combate ao terrorismo.
O norte da Nigéria assemelha-se cada vez
mais ao Mali, aonde a Operação Serval, comandada pela França a pedido do
governo do Mali, impediu que a capital caísse nas mãos dos terroristas: não há
presença efetiva do governo (um bom exemplo do desesperado esforço para evitar
ataques do Boko Haram é a desativação da rede de telefonia celular foi
desativada) e as crianças que não são mortas nas escolas ou fogem com a família
ou param de estudar, aumentando a chance de serem cooptadas pelos seguidores de
Abubakar Shekau. Militarmente, o Boko Haram não pode fazer mais do que faz:
matar civis. Por ora, não há risco de o grupo tomar nem a capital Abuja nem Lagos,
a maior cidade do país, com estimados 10 milhões de pessoas em sua área
metropolitana, porque uma ofensiva do governo destruiu boa parte do arsenal de
combate do grupo. Todavia, há pessoas morrendo por conta da ação da trupe de
Shekau. Após o término da missão da União Africana no Mali, autorizada pelo
Conselho de Segurança da ONU para manter os ganhos territoriais obtidos pelos
franceses no começo do ano, é um bom momento para retomar o norte da Nigéria
das mãos do Boko Haram. Homens como Abubakar Shekau precisam ser parados o
quanto antes.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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