Por Pedro Nascimento Araujo
Quarta-feira, 14 de Agosto de
2013. Essa é a data na qual o Supremo Tribunal Federal (STF) deve começar a
julgar os tais embargos infringentes da Ação Penal 470, mais conhecida como
Mensalão – a bem da verdade, haverá também a apreciação dos chamados embargos
declaratórios, mas esses são como pedidos de esclarecimentos de partes das
sentenças e não possuem o condão de alterá-las. Em bom português, os embargos
infringentes são a derradeira tentativa dos tristemente célebres José
Dirceu, Marcos Valério, José Genoíno, João Paulo Cunha, Kátia Rabello, Delúbio
Soares e os outros 5 réus (parece piada numérica, mas é verdade: sim, são 11
Mensaleiros – dos 40 da denúncia inicial do Mensalão, número que remetia ao
famoso conto de Ali Babá e os 40 Ladrões, restou formado, em seu momento
derradeiro, uma espécie de Mensalão Futebol Clube) já condenados de se livrar
de suas condenações. Caberá ao STF, presidido por Joaquim Barbosa, um homem que
combina atitudes mercuriais, rigorosas e polêmicas em partes iguais, decidir se
os 11 apelantes cujas condenações tiveram a partir de 4 votos contrários no
plenário do STF poderão ter seus processos reavaliados – na prática, serem
julgados novamente. Todavia, após as manifestações de Junho, o que parecia uma
ótima oportunidade para quem está a meio caminho de ir para a cadeia, como José
Dirceu, perdeu o lustre. Na verdade, os 11 condenados com possibilidade técnica
de pedir embargos infringentes deveriam se perguntar se essa é uma estratégia
sustentável. Não é.
Como ficou claro a partir de
Junho, qualquer resultado que não seja a prisão dos condenados tem o explosivo
potencial de levar milhões de brasileiros às ruas. A culpa é de Brasília mesmo:
de Junho para cá, as respostas foram pífias, para não dizer patéticas: é
difícil imaginar algo pior que, diante de uma demanda generalizada por melhores
serviços públicos (saúde, educação, segurança, transporte etc.) e por mais
rigor contra a corrupção, a Presidência da República sair-se com uma requentada
proposta de reforma eleitoral para fazer campanhas políticas com dinheiro público.
Joaquim Barbosa sabe que, a partir de 14 de Agosto, ele e seus colegas estarão
sob o escrutínio de 200 milhões de pessoas. Caso eles se agarrem a tecnicismos
vis para livrar os membros do Mensalão FC, as represas do dique da opinião
pública se romperão. Joaquim Barbosa sabe que a Ação Penal 470 não poderá ser
afetada por filigranas jurídicas porque Sua Majestade O Povo Brasileiro quer os
Mensaleiros presos como prova de que há justiça para ricos e poderosos no
Brasil. Porém, façamos o exercício de supor que a tese que Barbosa classificou
como “absurda” vença e os 11 titulares do Mensalão FC tenham direito a um novo
julgamento. Como o Mensalão Futebol Clube seria julgado novamente pelo STF? A
resposta é direta: da pior maneira possível para os Mensaleiros.
Joaquim Barbosa sabe que, se o
STF cometer um autêntico crime de lesa-majestade e reiniciar o julgamento do
Mensalão FC, Sua Majestade O Povo Brasileiro provavelmente vai protestar com
toda a virulência que somente um Rei traído tem: o STF provavelmente seria
cercado, invadido e depredado. Joaquim Barbosa, que tem a prerrogativa de poder
se filiar a um partido político com apenas 6 meses de antecedência das eleições
presidenciais de 2014 (os políticos precisam fazê-lo com 1 ano), provavelmente
cumpriria o destino profetizado por Gaspari: caso o STF profira, de sua Torre
de Marfim, a zeragem do julgamento do Mensalão FC, Barbosa abandonaria o
STF em protesto contra a atitude de seus colegas para ser eleito – quase
aclamado – Presidente da República. O cercado, invadido e depredado STF,
sofrendo pressões do povo nas ruas do Brasil e de um titular da Presidência da
República eleito exatamente por se colocar contra a manobra a favor dos
Mensaleiros nos palácios de Brasília, não teria opção senão agir de forma ainda
mais dura contra os titulares do Mensalão FC, a ponto de fazer parecer a
primeira condenação – esta, cujo desfecho Joaquim Barbosa quer começar a
definir nesta semana – parecer um passeio no parque. Simplesmente não há saída
para o Mensalão FC a não ser a prisão. Qual será, a de agora ou a hipotética,
descobriremos a partir de 14 de Agosto de 2013.
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
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