A
VIOLÊNCIA NOSSA DE CADA DIA
A quase uma semana atrás ocorreu mais um
episódio violento no bairro Jardim Esperança que me chocou e indignou a ponto
de elaborar este texto que vai “incomodar” alguns amigos e inimigos,
companheiros e adversários, autoridades e até mesmo alguns cidadãos e cidadãs
comuns.
A menina Anny Vitória foi baleada no colo de
sua mãe Nayane dos Santos e veio a falecer na madrugada do dia 13 no Hospital
São José Operário, depois de disputar vagas em centro cirúrgico com (pasmem!!!)
mais quatro baleados naquela noite!!!
Aguardei propositalmente quase uma semana para
contextualizar esta fatalidade, enfatizando assim o “lugar comum” e o descaso
de alguns segmentos e setores de nossa hipócrita sociedade. Abordarei aqui
alguns aspectos que me incomodam nesta fatídica passagem.
IMPESSOALIDADE
Não podemos transferir
responsabilidades que resultam em omissão nas ações práticas contra esta
insegurança que nos assola. A culpa não é da incompetência do Governador, Secretário
de Segurança, do Comandante do 25º Batalhão, exclusivamente, a culpa é nossa que
negligenciamos a tutela de nossas crianças. Me dói até a coincidência na idade
de Anny (4 anos) a mesma idade de Maitê, minha filha.
VISIBILIDADE
É um enorme equívoco da elite
poderosa de nossa cidade fingir que este povo na periferia não existe,
invisibilizá-lo até na nomenclatura de logradouros. Nomes de ruas, estradas,
ginásios, escolas... satisfazendo a vaidade volúvel e fútil de uma oligarquia que
se nega reconhecer o valor dos heróis anônimos e verdadeiras guerreiras que
tocam à mãos calejadas o dia-a-dia de nossa cidade.
ACESSIBILIDADE
Analisando sociologicamente a
concentração do Poder em nossa cidade dois aspectos me incomodam especificamente:
a falta de representatividade da militância comunitária e a questão do recorte
racial. Este segundo me fere a alma... foram mais de 13 anos sem nenhum negro
no primeiro escalão do governo, o último foi Edinho Ferro (1998/99).
(Atualmente temos Edinho e Robson Pereira).
Serão incompetentes todos os médicos,
engenheiros, arquitetos, advogados... negros de nossa cidade? É inevitável que
toda esta concentração um dia exploda na cara da aristocracia.
REPRESENTATIVIDADE
As Legislaturas negras e comunitárias
são pífias (nunca um Vereador negro se reelegeu) e esvaziadas pelo sistema
assistencialista. A falta de representatividade nos leva a um contraponto
pérfido...” não foi o filho do seio de uma família rica e tradicional que
esvaiu em sangue até a morte...!!!” Ou alguém tem dúvida que quando esta
violência começar a vitimar filhos da elite cabofriense a “história e
repercussão” serão outras!!!
COMPATIBILIDADE
Política de segurança pública
praticada pelo Governo do Estado não é compatível para o interior e se revela
totalmente ineficaz para a periferia das cidades do interior!!!
COMPAIXÃO
Grandes shows, eventos
espetaculosos, verdadeiras redes de comunicação e marketing religiosos debruçam
uns sobre os outros e se atropelam numa disputa vã. Gostaria de ver Padres,
Pastores, Rabinos, Mães de Santo... saírem de suas rotinas religiosas e em uma
só voz gritarem “Não celebraremos nenhuma missa, nenhum culto, nenhuma sessão
ou sacerdócio enquanto não fizermos algo de efetivo por esse anjo inocente
vitimado sob a nossa tutela”
INDIGNAÇÃO
Não vou voltar a minha rotina
enquanto não fizer efetivamente algo em relação a esta barbárie... minha
indignação não pode ser efêmera, momentânea ou passível apenas de um discurso
político e eleitoreiro.
A dignidade implica em se
indignar com injustiças, a praticar a empatia de se colocar no lugar daquela
mãe e sentir toda a sua dor!!!
Não podemos nos ater a frieza dos
números estatísticos.
Com a palavra os omissos,
covardes e indignos!!!
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