A Velha Senhora
Eufemismo pelo qual os mais
antigos se referiam á morte, o termo parece ter se impregnado realmente de uma
carga ruim, negativa mesmo.
Tantas são as desventuras
relacionadas á Velha Senhora que tornou-se impossível – ao menos para mim, com
pai, mãe, irmã e dúzias de amigos e parentes já no Céu – não fazer uma analogia
automática, quando algo de mal ou desagradável me acontece.
Explico a neurose:
Trabalhava eu no bravo Lagos
Jornal e todas as vezes que conseguia uma matéria de destaque ou um artigo de
repercussão, sempre alguém dava a entender – em uma roda de amigos – que eu só
escrevera aquele sucesso efêmero graças á sua orientação. E imediatamente me
vinha á cabeça a Velha Senhora.
Convidado pelo amigo Álex Garcia
em um momento de loucura, dei uma entrevista em seu programa Cartão Vermelho
descendo a lenha no irmão de Memê e apontando-o como quem realmente mandava.
Foi um buxixo, todo mundo ligou para o estúdio após o programa, um rebú! Mas, o
primeiro telefonema que recebi tão logo o programa encerrou revelou-se com o
rasteiro objetivo de que, quando eu atendesse, mencionasse o nome e sobrenome
daquilo que, provavelmente, teria me “orientado” a dizer o que disse – e
imediatamente me veio á cabeça a “Velha Senhora”. É claro que declinei de
atender, desligando o mesmo.
A lista de casos como o acima
relatado é imensa, e eu gastaria horas contando. Não vale á pena. Mas o fato é
que todas as vezes que me deparo com paranóias conspiratórias, delírios de
saber o que se passa “nos bastidores do poder”, vaidades absurdas e sem nada
que a justifique ou até mesmo vis e rasteiros motins – subversão de hierarquia
mesmo, tomada de poder apenas porque a vaidade doente o reclama – imediatamente
me vem á cabeça a “Velha Senhora”.
De gente que ameaça demissões sem
ter poder, autoridade ou mesmo moral para isso á doentes que mentem dizendo ser
parente (sempre num ambíguo tom de brincadeirinha) ou gente que já morreu e não
sabe, tudo isso me remete á Velha Senhora.
Rancores mal disfarçados em
críticas surdas á quem antes elogiava, centro de todas as alcovitagens,
falsidade obtusa de contar a mesma intriga para um grupo de pessoas apenas
trocando o nome do citado e a megalomania de achar que isso resultaria em um
prêmio ao ego, tudo isso me remete á Velha Senhora.
Revolucionários de Yatch Club,
que sequer sabiam o que se passava no país durante o governo militar e que hoje
posam de “sobreviventes da ditadura”, este tipo de alienação arrependida e
história falsa de vida sempre me remete á Velha Senhora.
Especialistas dirão que o caso é
grave e que preciso me tratar. Não sei, mas quem sou eu para duvidar?
Mas o fato é que sou apenas um
rapaz latino americano, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e, por
isso, prefiro prestar uma sutil reverência á Velha Senhora enchendo a cara.
Um brinde!
Walter Biancardine
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