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Um bagrinho qualquer. Por Pedro Nascimento Araujo


Um bagrinho qualquer

Eduardo Cunha sempre foi um peixe de águas escuras – não necessariamente profundas, mas necessariamente opacas. Um bagrinho qualquer. Ele teve uma carreira iniciada pelas mãos de uma das mais inusitadas parcerias políticas do Brasil (aquela entre Collor de Mello na Presidência da República com Leonel Brizola no Governo do Estado do Rio de Janeiro), que lhe colocou à frente da finada Telerj no começo dos anos 1990. Desde então, aliou-se a todos os govenadores e presidentes que se dispuseram a lhe dar espaço – e, frequentemente, mudando de lado: esteve com o Casal Garotinho e bandeou-se para Sérgio Cabral sem rubores. E, assim, negociando cargos e sendo fiel apenas a si mesmo, o bagrinho qualquer foi virando um grande peixe, temido e admirado; todavia, o bagrinho qualquer nunca o havia abandonado completamente, e foi nas águas turvas, nas quais era mestre de deslocamentos fortuitos, que ele ganhou nome. Deveria ter permanecido lá. Quando ascendeu às águas claras ao se fazer presidente da Câmara dos Deputados, os holofotes voltaram-se para ele. Ao ser mordido pela mosca azul, Eduardo Cunha, o maior peixe das águas turvas, pensou ser grande. Doce ilusão. Quem nasce bagrinho qualquer não sabe nadar em águas claras. E o peixe grande acabou fisgado como o bagrinho qualquer que nunca deixou de ser.

No meio político fluminense, Eduardo Cunha é muito respeitado. Ele tem a qualidade mais desejada por qualquer político em seus pares: Eduardo Cunha promete e cumpre. Sempre. Não se fala aqui de uma conspiração mafiosa, com ormetà e afins, mas sim de compromissos políticos – leia-se cargos e verbas. Tudo dentro da legalidade, embora com moralidades diversas. Independentemente disso, Eduardo Cunha realmente fez um nome no Rio de Janeiro e, depois, em Brasília. Era um dos homens mais poderosos da Câmara dos Deputados. Uma espécie de rei do chamado “Baixo Clero”, Cunha negociava os votos de uma bancada aliada poderosa o suficiente para eleger o presidente da Casa, se quisesse. Mas nunca quis, e quando o fez, ainda que por incompetência do Palácio do Planalto (eleição de Severino Cavalcanti), ficou bem claro que bagrinhos têm limitações demais. Porque Eduardo Cunha se deixou contaminar pela mosca azul não se sabe, mas fica bem claro que ele se enamorou do poder. O que significou sua derrocada.

As acusações que pendem sobre Eduardo Cunha são extremamente graves, mas pesam sobre ele também por força da posição que ele ocupa. O bagrinho qualquer ficou grande demais. Estava tratando com os maiores do Brasil no Petrolão, tanto no setor público quanto no privado. E começou a achar que a Presidência da Câmara dos Deputados seria a mosca azul que lhe daria todo o poder, mas, como a personagem do conto homônimo de Machado de Assis, enlouqueceu: Eduardo Cunha impingiu ao claudicante de nascença segundo governo de Dilma Rousseff sua primeira derrota ao vencer o pleito – muito mais por causa da épica inabilidade política de Dilma Rousseff do que por méritos próprios. E começou a extrapolar. Seus áulicos lançavam o nome dele para a sucessão de Dilma Rousseff. Peixe de águas turvas nunca deve colocar a cabeça acima da superfície, pois denunciam suas posições e acabam sendo pescados, ainda que a pauladas. Desafiou abertamente o Palácio do Planalto. Acreditava que, se ferisse de morte Dilma Rousseff, poderia ser seu sucessor, mas se esqueceu de um importantíssimo detalhe: seu passado seria escrutinado agora que ele estava em águas translúcidas. Aí a casa caiu.

Eduardo Cunha tem contas secretas no exterior, como demonstram diversos documentos. Infelizmente, ele não há de ser o primeiro ou o último dos poderosos do Brasil a guardar dinheiro no exterior porque simplesmente não confiam no país que eles, como elites, têm a maior responsabilidade de fazer desenvolvido. Faz parte. Porém, Eduardo Cunha afirmou em depoimento que não as possuía. Perdeu excelente chance de ficar calado e produziu provas contra si mesmo. Claro que sua defesa vai alegar as coisas mais espúrias para sustentar que ele não quebrou o decoro parlamentar ao mentir, como que as contas não são dele, mas da esposa dele, ou que, no dia do referido depoimento, ele realmente não possuía as tais contas, porque mandara fechar pouco antes. Não importa. Enquanto Eduardo Cunha permanecer na Presidência, a agenda da Câmara dos Deputados será a mesma: Eduardo Cunha. E isso é algo que congressistas não suportam. Portanto, Eduardo Cunha tornou-se um monumental óbice para seus pares, que ficam com respingos das acusações a Eduardo Cunha e, pior, sem palanque por conta da pauta da imprensa estar toda voltada a ele.

O bagrinho qualquer não vai voltar para as águas turvas. Ele está sendo pescado: simplesmente, não voltará mais para a água. Como seu mentor Collor de Mello, Eduardo Cunha foi com muita sede ao pote do poder e começou a trocar a coleção de amigos e admiradores por uma de inimigos e detratores. Obra 100% autoral. Se estivesse ainda como o rei sem coroa que comanda uma importantíssima bancada informal, Eduardo Cunha continuaria a ser temido e admirado e todos iriam negociar favores com ele. Ao se expor em águas cristalinas, deixou claro que não passa de um bagrinho qualquer, com um passado nebuloso que não conseguiu limpar. Continua sendo um peixinho limpa-fundo. Que sonhou com o poder e a glória, apenas para descobrir que não teria como obtê-los. Severino Cavalcanti o havia precedido e indicado que não espaço para bagrinhos quaisquer como ele em cargos de tamanha relevância. O bagrinho qualquer Eduardo Cunha olhou-se no espelho e viu um tubarão. Insistiu na aventura. Acabou fisgado, mas não como um tubarão, com linhas especiais, tripulação dedicada, motores potentes etc. Acabou fisgado como um bagrinho qualquer.


Pedro Nascimento Araujo é economista.

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