Narrador - A família finalmente percebeu que Ambrósio estava
desaparecido. Ele não havia voltado da pescaria nem dado sinal de vida.
Marilena chamou a Polícia, que pareceu não dar muita importância à ocorrência.
Os dois policiais fizeram poucas perguntas, anotaram um boletim de forma
burocrática e se foram em poucos minutos, levando uma foto do homem.
Jeitosinha chegou em casa quase
na hora do almoço. Os irmãos não perceberam que ela passara a noite fora, mas
sua mãe sim.
Marilena - Onde você estava?
Narrador - Jeitosinha
ignorou a abordagem.
Marilena - Sorte sua seu pai não estar por aqui. Ele não ia gostar
disso...
Narrador - Marilena insistiu
com um tom seco de reprovação na voz, mas a
resposta da filha foi carregada de ironia:
Jeitosinha - O que poderia preocupá-la, mamãe? O risco de que eu
perca a virgindade ou volte grávida para casa?
Narrador - Marilena tentou acariciar o cabelo da filha, que afastou
sua mão com um gesto brusco.
Jeitosinha - Não me encoste! Eu odeio você!
Narrador - Um fio de lágrima escorreu pela face esquerda da sofrida
mãe.
Marilena - Querida... Você é tão jovem... Tem uma vida pela frente!
Ainda há tempo de encontrar a felicidade...
Jeitosinha - Como eu poderia ser feliz? Eu sou uma mulher
aprisionada no corpo de um homem!
Marilena - Veja o lado positivo... - tentando consertar a situação
- Você não tem tensão pré-menstrual, não precisa sentar-se em privadas sujas de
boate...Mantenha a calma e a resignação. Você ainda encontrará algum homem que
a aceite como você é!
Narrador - "Sim", conjecturou Jeitosinha. "Este
homem talvez seja Bruno. Mas como ele estará se sentindo depois de nossa
estranha noite de amor?". Ela pensou durante todo o dia no seu amado,
reunindo forças para enfrentar sua primeira noite no bordel de luxo. Curiosamente,
a expectativa de entregar-se a estranhos não a incomodava. Desde a revelação de
sua condição, ela não se reconhecia naquele corpo. Não sentia que tivesse que
zelar dele.
Eram nove da noite quando
Jeitosinha entrou no fusca de Arlindo, rumo à casa de encontros. O local ficava
próximo, mas era preciso percorrer um pequeno trecho numa estrada pouco
movimentada.
Justamente quando passavam pela
parte mais escura e deserta do percurso, uma luz surgida do nada cegou
momentaneamente Arlindo, impedindo-o de dirigir. O rapaz pisou no freio
abruptamente. Antes que pudessem esboçar qualquer reação, as duas portas do
carro foram abertas, e o casal foi retirado de dentro do veículo por mãos
poderosas.
Pouco antes de tomar uma descarga
elétrica que a faria perder os sentidos, Jeitosinha pôde ver a face de seus
raptores: eram homenzinhos verdes vestindo estranhos macacões prateados.
Narrador - Não é que a história toma rumos sobrenaturais?
Confira amanhã, no próximo e emocionante capítulo!"
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