O suposto progresso arrasava com os prédios
históricos e a nossa história e em seus lugares os prédios "modernos"
eram instalados
No final dos anos 80 Cabo Frio
despertava para um novo momento, a era dos royalties (ainda timidamente)
começava a dar sinais que a cidade viveria momentos de grande riqueza. Éramos
pouco mais de 126 mil habitantes segundo o censo do ano 2000, um paraíso muito
conhecido em todo o Brasil e fora dele. Cabo Frio começa a sentir os prazeres
de ser uma cidade milionária e com muitos problemas para serem resolvidos,
valões à céu aberto e verdadeiros lixões contrastavam com as belezas de nossas
praias, arquiteturas históricas e uma natureza ímpar, a cidade foi se
desenvolvendo numa velocidade jamais vista, um verdadeiro canteiro de obras em
todos os cantos, porém é necessário dizer que Tamoios não se enquadrava naquele
novo momento, talvez por se tratar de uma área rural (como era reconhecido na
época).
Apesar dos grandes valões e
bairros inteiros receberem saneamento e calçamentos e a euforia dos grandes
shows tomarem a cidade, algo naquela ocasião não foi levado em consideração. A
cidade crescia vertiginosamente e dez (10) anos depois já éramos 59 mil
habitantes a mais e já era possível notar que aquelas obras passadas não dariam
vazão a uma contingência tão grande de pessoas que resolveram vir morar aqui.
Enfim, a cidade caminhava tranquilamente e com muito dinheiro dos royalties
alimentando a "CIDADE DOS SONHOS".
Neste meio tempo Tamoios crescia
com invasões e a facilidade de se construir irregularmente sem qualquer
perturbação, enquanto os olhos dos governantes, da população e dos turistas
estavam virados para a magia que tomava conta do grande centro da cidade com
seus shows, praias lotadas, comércios vendendo absurdamente, as artérias
principais para se manter viva a nossa cidade nos dias de hoje eram esquecidas
e se quer diagnosticadas. Hipnotizados com a magia da bonança, os governantes e
a grande maioria da população não percebiam o que estaria por vir, dias
tenebrosos como os atuais. O suposto progresso arrasava com os prédios
históricos e a nossa história e em seus lugares os prédios "modernos"
eram instalados, a história tão bela de nossa cidade vivia em convulsão e dia
após dia era encaminhada para a UTI, quem seria capaz de salvá-la? Não havia
muito o que se fazer, já que a briga política pela herança dos royalties era
ferrenha e muitos queriam herdá-la.
Por um lado se os turistas
ficavam impressionados com "as modificações" da nossa cidade, por
outro, os moradores sentiam literalmente o abandono do poder público, Tamoios e
Jardim Esperança que os diga. Para "amenizar" a dor destes moradores,
surgia em 2010 a era dos projetos sociais, alguns eram de tamanha importância
naquele momento, porém não abraçavam todos que necessitavam daquela ajuda
emergencial, já éramos quase 200 mil habitantes e Tamoios de um distrito
considerado rural já era uma "pequena metrópole" com aproximadamente
70 mil habitantes, sem saneamento, sem urbanização e sem governo. Final de 2014
e o grande baque surge com a diminuição repentina dos royalties, todos numa só
voz se perguntavam: "E AGORA?".
Começava a era das acusações dos
governantes, aquela noiva outrora bela e motivo de orgulho, sentia a dor do
desprezo e despreparo de todos que queriam a sua mão em casamento. Seu vestido
alvo como a neve já se encontrava em trapos e seus farrapos eram motivos de
piadas. Todos os noivos que se apresentaram como homens preparados para casar,
fracassaram e a noiva desiludida ainda respira através de aparelhos buscando
quem sabe o último suspiro nos braços de quem de fato tenha amor sincero para
lhe oferecer, um amor renovador. Todavia essa noiva chamada Cabo Frio ainda
sofre com seus antigos pretendentes, os mesmos que lhe prometera um casamento
frutífero e duradouro. Estes, vivem as espreitas querendo usufruí-la mais e
mais, pois essa noiva não é uma qualquer, é a Cabo Frio, cidade de grande
importância no cenário nacional e internacional.
Chegamos aos dias atuais e um
pouco desorientada por se encontrar na UTI a noiva, mãe de aproximadamente 216
mil habitantes clama por renovação. Ela, a noiva, não deseja um salvador da
pátria, deseja um noivo (governante) que tenha pulso firme e que lhe faça
respirar sem aparelhos, ela não deseja mais os "noivos" (governantes)
que outrora lhe iludiu e que ainda hoje dizem ter o elixir da solução de seus
problemas passados, não, não é isto que a noiva deseja! Ela deseja um noivo que
leia o diagnóstico de sua saúde e diga: "De alguma maneira eu irei te
ajudar a sair desta e levarei você ao altar." Um noivo que reúna
todos os filhos dela (população cabofriense) e diga a verdadeira situação da
saúde de sua mãe, sem disse me disse ou jogando a culpa em A ou B. Um noivo que
pulse dentro dele o sangue cabofriense, que não seja um noivo (filho) pródigo,
que não brinque com seus sentimentos, que não barganhe com o que restou de sua
herança, que ame sua bela história, que a valorize e que seja capaz de
retirá-la da UTI e tenha a consciência que é cruel e vil usar essa noiva tão
cansada em prol de um grupo ou de poucas pessoas.
O eldorado dos royalties pode ter
acabado, só que o amor de muitos por essa cidade resistirá até o fim.
Manoel Atanásio da Silva Filho
Muito bonito o texto do meu amigo, Manoel Atanásio.
ResponderExcluirEntretanto não é demais ressaltar que foram seus próprios "filhos" (população) quem sempre escolheram os "noivos".
Se a escolhas foram ruins ou boas, o "confirma" fica, exclusivamente, por conta destes 200 e poucos mil, supostos, "órfãos".
Att.
Brito