Embaixo de uma das árvores da orla da Baleia, vestindo um casaco grosso
para se proteger do vento frio e um sorriso saudoso no rosto, William Alves
fala com orgulho de ser pescador. Aos 77 anos de idade, o morador de São Pedro
da Aldeia recorda os sacrifícios que fez para criar os quatro filhos por meio
da pesca e, embora já esteja aposentado e veja a pescaria como uma distração,
avisa: “se eu parar, vou ficar doente”.
É na figura de dois tradicionais
pescadores da cidade que a Prefeitura Municipal,
na segunda-feira (29/06), Dia de São Pedro e Dia do Pescador, homenageia todos
aqueles que tornam a pescaria uma atividade tão importante e de grande destaque
no município, seja pela pesca artesanal ou pela esportiva. Para alguns, a
prática representa um complemento de renda ou até mesmo um passatempo, uma
forma de lazer, para outros, no entanto, é um negócio de família. E, embora os
desafios enfrentados por cada um deles sejam diversos, o amor pela pescaria é
ainda maior.
Em São Pedro da Aldeia, a pesca artesanal continua sendo uma das
principais atividades econômicas do município. William é um dos cerca de 800
pescadores aldeenses que colocam seus barcos e canoas nas águas, seja na
Baleia, Pitória, Camerum, Ponta do Ambrósio, Praia Linda, Baixo Grande,
Mossoró, Poço Fundo ou no Boqueirão, e partem em busca do que a Laguna de
Araruama tem para oferecer. E, quando eles voltam para casa, trazem muito mais
do que pescado. Trazem junto consigo histórias de superação, sacrifício e amor
à pesca.
Um amor que entrou em pausa após o falecimento da esposa. William Alves
passou cerca de dois anos longe da prática, no entanto, a saudade falou mais
alto do que a tristeza: aos poucos, ele foi voltando a fazer o que gostava.
Começou consertando alguns barcos e canoas que precisavam de manutenção e, logo
em seguida, retornou à pescaria. Atualmente, William dos Santos ainda vai
buscar seu peixe na lagoa. “É muito bom a gente fazer aquilo que gosta. A hora
que eu cismar, saio e vou pescar. Tenho muito orgulho de ser pescador”, afirma.
Esse amor pela pescaria é, muitas vezes, repassado de pai para filho.
William Alves é de uma família que viveu da pesca. Cinco dos seus 11 irmãos
também foram pescadores e apenas as irmãs não seguiram o mesmo caminho. William
começou a pescar aos 13 anos de idade e, nos anos que se seguiram, também foi
ajudante de pedreiro, cuidou da manutenção de barcos e trabalhou em salinas,
outra atividade econômica que marcou a história do município aldeense.
FUGINDO À TRADIÇÃO
A tradição familiar, no entanto, não
seguiu com seus filhos. Dos quatro herdeiros, nenhum é pescador, mas isso não
entristece William. “Hoje em dia não me interessa me jogar na pescaria conforme
eu vivia nela, porque eu vivi dela. Eu estava
lá com vento, chuva, tempestade e não queria que meus filhos ficassem nessa
mesma profissão. Criei meus filhos com a pesca, nessa lagoa, e o estudo que eu
pude dar como pescador, eu dei. Tenho honra de ser pescador, mas me sinto feliz
de eles não serem, porque cada um escolheu sua profissão, assim como eu escolhi
a minha”, afirma o pescador da Baleia.
Quem também não seguiu os passos do pai pescador foram os
filhos de Carlos Eduardo dos Santos, morador da Pitória. Ele conta que se
dedicou à pesca para dar uma condição de vida melhor aos seus herdeiros e que a
sua vontade era ver seus filhos em uma profissão mais estável. O sonho deu
certo: o mais velho, de 32 anos, atua no ramo de segurança e o de 16 anos de
idade é jovem aprendiz no Fórum aldeense.
O DOM DA PESCA
Quando coloca seu barco nas águas da Praia da Pitória, Carlos Eduardo
sai em busca de tainhas, perumbebas e carapebas, três das diversas espécies
encontradas na Laguna de Araruama. Ele comenta que sempre sai para pescar com
três amigos, assim, um pode fazer companhia ao outro. Ao comparar a pesca
artesanal do século XXI e o trabalho quando começou no ramo
Se hoje os pescadores contam com o auxílio de um barco a motor, o que
facilita o deslocamento em dias de vento intenso, Carlos Eduardo começou a
trabalhar confiando nos seus braços. Hoje em dia, o pescador da Pitória tem um
barco a motor, mas não abandona o remo. Com a ajuda dele, viu sua pescaria sair
de São Pedro da Aldeia, passar por Cabo Frio e chegar até Angra dos Reis, cerca
de 10 anos atrás.
Apesar das dificuldades e sacrifícios da profissão, Carlos Eduardo não
se vê fazendo outra coisa da vida. “Eu sempre pesquei. Não tem jeito, tive
oportunidade de mudar, mas não quis. Já vem do meu pai, eu pesco há muito tempo
e vou nisso até morrer. Dei um jeito dos meus filhos saírem da pesca, porque
hoje em dia é mais difícil, muita gente pescando. Antes era bem mais fácil,
mesmo remando”, conta o pescador de 53 anos.
O SANTO PADROEIRO
O barco de Carlos Eduardo dos Santos é um entre as várias embarcações
que acompanham a tradicional procissão marítima pelo Dia de São Pedro, o
padroeiro da cidade e dos pescadores, comemorado todo 29 de junho. “Não sou
muito ligado à religião, mas toda vez que tem festa de São Pedro, meu barco
está lá. Tenho um primo que sempre me chama”, comenta.
Primeiro Papa da Igreja Católica, São Pedro é protetor dos pescadores
porque também era pescador e, por isso, encontra muitos devotos entre os
representantes da profissão.
Em São Pedro da Aldeia, no dia do
santo padroeiro é feriado e comemorado com festa, procissão marítima e missa, que sempre registram
uma intensa participação de devotos e fiéis. Em 2020, devido ao cenário atípico
de pandemia do coronavírus, a celebração está sendo diferente.
A programação festiva é on-line, transmitida na página da Paróquia São Pedro
no Facebook. Desde o dia 20 de junho têm sido realizadas
Santa Missa e Novena, além de lives musicais.
As celebrações se encerram na segunda-feira (29/06). Às 6h, tem a Alvorada
Festiva; às 18h, uma Santa Missa presidida pelo Revmo. Monsenhor João Alves
Guedes. Após a Missa, será realizada uma live musical
com louvor católico.
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