A dependência química é uma realidade em muitas famílias brasileiras. Em alguns casos, os pais abandonam os filhos e desistem de lutar para recuperá-los. Mas, em outros casos, os pais são capazes de dar a vida para não vê-los morrer reféns das drogas. Essa é a situação da costureira Angélica, que há nove meses descobriu que a filha de apenas 15 anos é viciada em crack. “Eu desconfiava há algum tempo, mas, só tivemos a certeza quando ela passou 24 dias desaparecida. Isso aconteceu em agosto e nós a encontramos em Búzios, onde estava se prostituindo para manter o vício”, afirma a mãe.
Angélica explicou que sua filha começou usando maconha, mas, agora está viciada em crack. “Minha menina era atleta, jogava vôlei. Mas, infelizmente, a realidade hoje é outra”, lamenta. Na manhã desta terça-feira, Angélica conversou com um profissional da área e contou os momentos de sofrimento que tem passado nos últimos dias. “Não tenho mais condições de segurá-la em casa. Ela até já me ameaçou com uma corrente. Nem mesmo as facas eu a deixo pegar mais”, relata.
A situação na casa da costureira também afetou o outro filho, um menino de 13 anos. “Ele não quer mais voltar para casa. Agora, está morando com a minha mãe, porque não agüenta essa situação”, afirma. Desde a última sexta-feira, Angélica tem tentado manter a filha dentro de casa e, consequentemente, longe das drogas. “O último dia que ela usou foi na sexta-feira, pois chegou em casa transtornada. Agora, ela está bastante assustada e se diz perseguida. Inclusive, começou a raspar os cabelos. Minha filha tinha uns cabelos longos e lindos, mas, cortou quase todo”.
Enquanto Angélica conversava com o profissional que foi visitá-la, a filha dormia. “Ela está deitada, mas, nem sei o que possa acontecer quando acordar. Não tenho mais condições de manter ela presa. Se ela por acaso tentar me matar, vou ter que deixar sair”. A mãe conta que por várias vezes já foi ao Conselho Tutelar da Cidade. No entanto, até agora, nada se resolveu. “Eles me me mandaram ir para um instituição na cidade, mas, lá não tratava de adolescente e disseram que aqui na cidade não tinha este tratamento para menores. Agora, não sei mais o que fazer, estou desesperada e preciso de ajuda”.
Uma droga barata, de alto poder viciante e que atinge principalmente as famílias de baixa renda. Este o perfil inicial do crack, a droga que tem o maior poder de destruição entre as demais. Em Cabo Frio, a droga avança em proporções violentas deixando um rastro de destruição e degradação por onde passa, o crack está presente em todos os setores desde os colégios até nas ruas e condomínios de luxo.
A questão do crack é tão preocupante que em Cabo Frio, já existem áreas dominadas por traficantes e consumidores, onde pessoas de bem não podem nem passar por perto, correndo riscos diversos, entrar nas chamadas zonas do crack, é a certeza de assaltos ou até mesmo risco de morte, pois não se sabe o que se passa na cabeça de pessoas que consumem o crack. Esses territórios são dominados por milícias ligadas ao crack e já ganhou o nome de cracolândia.
O problema é que essa situação está chegando às médias e pequenas cidades do Estado do Rio, e isso está a cada dia mais claro diante do consumo crescente da droga em Cabo Frio e região. Da maneira em que o consumo cresce, e se nada for feito, fatalmente teremos cracolândias em proporções tão assustadoras como em São Paulo.
O alerta vale para pais, educadores e os próprios usuários: o cigarro de maconha consumido em Cabo Frio ganhou uma substância ainda mais perigosa. Polícia Civil e Polícia Militar alertam que o baseado agora é composto também por crack. O mesclado, como é conhecido à combinação entre as duas drogas, ganhou os principais bairros da cidade. A partir do momento em que o usuário da maconha percebe o efeito do crack, ele opta pelo crack somente. A necessidade por essa droga é tão grande que ele passar a usar só a pedra para não haver desperdício.
À sociedade e ao governo fica bem claro que o melhor caminho continua sendo a prevenção na família. Aos pais, o alerta sobre as possíveis mudanças comportamentais de seus filhos, entre elas, a agressividade, o abandono do estudo e do trabalho, desmotivação para o esporte, apatia, depressão, troca da noite pelo dia, hematomas nos braços, olhos constantemente avermelhados, lábios ressecados, gasto excessivo de dinheiro, delírios, emagrecimento, sumiço de bens em casa e outras alterações comportamentais.
A desgraça que se abateu sobre a família de Angélica não escolhe porta para bater. Neste caso, o preço da felicidade é a eterna vigilância.
Tadeu Assis, Representante da Equipe Arca, Técnico em Dependência Química, além de colaborador cronista no Blog do Programa Cartão Vermelho.
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