Por Pedro Nascimento Araujo
A história da jovem Malala
Yousafzai não teve o destaque merecido na imprensa brasileira, mormente devido
ao histórico julgamento do Mensalão, com a condenação de José Dirceu – apesar
do mais que previsível voto pela absolvição do ministro Dias Toffoli – e de
José Genoíno, expoentes políticos do Partido dos Trabalhadores. Pena, porque o
que aconteceu com a pequena Malala deveria servir de alerta para todos aqueles
que, cegos pelo antiamericanismo, não conseguem enxergar o que significam os
radicais islâmicos.
Malala tem 14 anos. O governo do
Paquistão, como se sabe, tem uma relação dúbia para com o Taleban, com sua
agência de inteligência sendo repetidamente acusada de proteger líderes do
movimento por conta de intricadas alianças tribais e de rivalidades regionais
com os indianos. Com isso, havia áreas do Paquistão sobre as quais não havia
controle do governo – na prática, santuários do Taleban. Nesses locais, os
fundamentalistas aplicavam sua lei doentia, obrigando os homens a crescer
barbas, sob pena de assassinato, e proibindo meninas de frequentar escola, não
raro desfigurando com ácido quem insistisse em estudar. Malala
morava no Vale do Swat, uma dessas áreas que estiveram sob controle do Taleban.
Ela surgiu para o mundo ao denunciar as covardias dos islamistas. Diante de
denúncias como a dela, com apoio americano o governo agiu e retomou o controle
de vastas áreas do país. Naquele momento, Malala foi marcada para morrer pelo
Taleban.
É difícil para uma pessoa normal
conceber a mera existência de mentes tão doentias e covardes como as do
Taleban. A intolerância é tal que um de seus homens alvejou Malala no ônibus
escolar. Um homem armado entra em um ônibus escolar para matar uma menina de 14
anos que queria estudar. Decididamente, não há palavras para descrever esse
tipo de gente. Além de Malala, outras duas meninas ficaram feridas. O Taleban
não apenas assumiu rapidamente a autoria do atentado, como acha que está certo.
A justificativa do porta-voz do Taleban é apavorante: para o movimento, Malala
deveria morrer por ser “falar mal do Taleban, ter como ídolo o presidente Obama
e promover cultura ocidental” no Paquistão. Para eles, é assim: quem não
concorda com o Taleban deve morrer. Para eles, não há religião além do Islã –
quem não professar essa fé deve se converter ou ser morto. Para eles, não há
direitos civis, políticos, sociais ou culturais – só há uma lei, a sharia, e
quem não a seguir deve ser morto. Radicais islâmicos são assim. Taleban,
Hezbollah, Hamas, aiatolás do Irã, mulás do Afeganistão... Tanto faz: para
eles, todos que não seguem seus preceitos merecem morrer.
O que eu descrevi no parágrafo
acima deveria ser motivo mais que suficiente para que ninguém no Brasil ou em
algum país no qual há direitos (civis, políticos, sociais ou culturais), mesmo
que necessitando ser melhor exercidos, defenda esses monstros. Imagine se
houvesse radicais desse tipo no Brasil. Aqui, há liberdade religiosa e Estado
laico, que eles odeiam. Aqui, há igualdade de gênero, com mulheres se vestindo
como querem, andando sozinhas quando querem, estudando, trabalhando, votando e
sendo votadas, que eles odeiam. Aqui, há liberdade de imprensa, coisa que eles
odeiam. Sem falar na liberdade de consumir bebidas alcoólicas, carne de porco
etc. – mais coisas que eles odeiam. Enfim, eles nem nos conhecem, mas já nos
odeiam. Portanto, para aqueles que por um antiamericanismo ou um antissemitismo
doentio defendem esses monstros, um lembrete: para eles, nós e os israelenses e
os americanos – e os ingleses, e os holandeses, e os mexicanos, e os uruguaios
etc. – somos iguais: infiéis que devem morrer. Para eles, a única diferença
entre nós e os americanos é que dos israelenses e dos americanos, ao menos,
eles têm medo – assim, os alvejam primeiro. Mas não se enganem: se eles um dia
conseguissem aniquilar os israelenses e os americanos, eles iriam em seguida
destruir os canadenses, os alemães, os guatemaltecas etc. até chegar nos
brasileiros. Convém nunca nos esquecermos disso. Aliás e a propósito, Malala
Yousafzai sobreviveu. Os monstros, além de covardes, são ruins de mira. Ela foi
transferida para o Reino Unido, onde se recupera. Dificilmente poderá voltar
para o Paquistão.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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