Organização criminosa saca precatórios com documentos falsos e faz vítimas em 8 estados e Distrito Federal, diz PF
A Polícia Federal de Minas Gerais desarticulou uma
organização criminosa que realizou saques de precatórios judiciais. Usando
documentos falsos o grupo fez, pelo menos, 11 vítimas em oito estados e
Distrito Federal. As informações sobre os precatórios eram repassadas a dois
advogados por um núcleo que existia dentro da Caixa Econômica Federal, em Cabo
Frio, na Região dos Lagos do Rio, segundo as investigações.
Os valores sacados chegam a R$ 1,3 milhão, o maior
foi em Duque de Caixas, R$ 261.153. A Polícia Federal investiga o quanto desse
valor já foi sacado, já que o grupo também teve acesso a informações de outros
precatórios, no valor R$ 70 milhões. A PF explica que o precatório judicial é
um documento emitido pela Justiça para que o Poder Público efetue o pagamento
de uma condenação judicial.
Durante a Operação Stellio, realizada nesta
terça-feira (10), foram presos três oficiais de cartório, em São Francisco e
Luislândia, em Minas Gerais, além de um contador, na Chapada Gaúcha, também em
MG, e dois advogados, um da cidade de Arinos (MG), que foi preso em Belo
Horizonte e é acusado de realizar saques, e outro da cidade de Cabo Frio, que é
funcionário da Caixa Econômica e atuava no núcleo identificado pela Polícia
Federal. Ele estava afastado por motivos particulares e foi detido em casa, no
bairro Dunas do Peró.
Um terceiro advogado, que também recebia informações
para realizar os saques, está foragido. Ele é de São Francisco, no Norte de
Minas.
Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão —
Foto: Polícia Federal/Divulgação
“Através dessas informações, os dois advogados
mineiros providenciavam a falsificação de documentos, emitiam uma procuração e
conseguiam realizar os saques. Os titulares dos precatórios eram escolhidos
aleatoriamente no Brasil inteiro. Havia também um núcleo dos cartórios porque
eles sabiam que os documentos eram falsos e mesmo assim lavravam as
procurações”, explicou o delegado Thiago Garcia Amorim.
O delegado esclareceu ainda que mesmo estando
afastado, o funcionário da Caixa, em Cabo Frio, obtinha dados sobre os
precatórios.
“Ele se comunicava com outro servidor que repassava
as informações. O advogado já responde a procedimento interno da Caixa em razão
de suspeita de participação no saque de outros precatórios. Acreditamos que ele
vendia as informações, mas isso ainda está sendo apurado”.
Polícia Federal apreendeu documentos, celulares e
computadores — Foto: Polícia Federal/Divulgação
Durante as investigações, a Polícia Federal
constatou que os valores sacados eram depositados em contas de familiares dos
advogados que recebiam as informações em MG, e também na conta de pessoas
pessoas ligadas aos cartórios, além do contador.
Dos 11 precatórios, sete foram sacados na Caixa
Econômica Federal e quatro no Banco do Brasil. A polícia vai investigar como os
advogados tinham acesso a informações do Banco do Brasil.
Foram cumpridos 14 mandados de busca e apreensão nos
estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e no
Distrito Federal. A polícia apreendeu celulares, computadores e documentos.
Investigação
Os dois advogados mineiros alvos da operação já
haviam sido presos pelo mesmo crime em setembro de 2018 e em fevereiro deste
ano. As investigações começaram a partir das duas prisões. Na época, os dois
foram liberados porque o juiz determinou que eles cumprissem penas
alternativas, segundo a PF.
O advogado que está foragido foi preso em 2018
enquanto tentava efetuar um saque no valor de R$ 83 mil em uma agência da Caixa
em Montes Claros.
“O gerente percebeu que o titular do precatório
tinha uma conta poupança na Caixa e residia em Ituiutaba (MG), mas a procuração
estava com endereço de São Francisco. Ele constatou a falsidade, acionou a PF e
o advogado foi preso em flagrante”, disse o delegado Thiago Garcia Amorim.
O outro advogado foi detido depois de sacar R$ 62
mil em uma agência de São Francisco. O titular do precatório residia em
Tocantis e a procuração para fazer o saque foi emitida por um cartório de
Luislândia.
“O gerente entrou em contato com a titular e ela
disse que nunca esteve na cidade Luislândia. Ele comunicou a Polícia Federal e
nós prendemos esse outro advogado. Ele disse que efetuou o saque a pedido do
advogado de São Francisco e tinha transferido R$ 45 mil para a conta dele”.
A Polícia Federal esclareceu que as investigações
foram feitas com apoio do setor de combate a fraudes da Caixa e do Banco do
Brasil.
Bloqueio de bens
Além dos mandados de prisão e busca e apreensão, a
Justiça Federal de Montes Claros expediu sete mandados judiciais de bloqueio de
bens móveis e imóveis dos investigados.
“Eles adquiriram alguns bens, como veículos e
fizeram viagens internacionais. Tudo com o valor obtido pelos precatórios,
inclusive com transferência direta no momento do saque”.
Os presos no Norte de Minas foram levados para
presídios de Montes Claros. O advogado detido em Belo Horizonte foi encaminhado
à Penitenciária Nelson Hungria e o advogado preso em Cabo Rio (RJ) foi levado
para o presídio Carlos Tinoco da Fonseca, em Campos dos Goytacazes, no Norte
Fluminense.
Se condenados, eles podem pegar mais de 15 anos de
reclusão.
O que dizem a Caixa Econômica e o Banco do Brasil
Em nota, a Caixa informou que atuou em colaboração
com as investigações da Polícia Federal e mantém cooperação integral com o
trabalho das autoridades. O banco esclareceu também que adotará todas as
providências de abertura de processos disciplinares, apuração de
responsabilidades e as medidas de consequência cabíveis.
Já o Banco do Brasil esclareceu que colaborou com as
investigações por meio do repasse de subsídios no seu âmbito de atuação. Ainda
segundo a nota, o banco mantém estrutura dedicada à prevenção a fraudes e apta
a detectar a atuação de golpistas por meio de sistemas e soluções de segurança.
Fonte: g1.globo.com
Comentários
Postar um comentário