Por Pedro Nascimento Araujo
Poucas pessoas são capazes de recitar os órgãos executivos
com status de ministério que o Brasil possui. Na verdade, até o número exato é
controverso, e pode chegar a 39 se, além dos 24 ministérios propriamente ditos,
levarmos em conta que há mais 15 (9 secretarias e 6 órgãos com status
ministerial). Mais interessante é saber que no Brasil, país de 192 milhões de
pessoas e que conta com oficialmente 11,4 milhões de pessoas (equivalente à
população de Cuba) morando em favelas de acordo com o IBGE, há ministério para
virtualmente tudo, menos para habitação. E, mais interessante ainda, saber que
a Colômbia, com população de 44 milhões, o possui: trata-se do Ministerio de
Vivienda, o qual, conforme veremos a seguir, está em vias de operar uma
profunda mudança no país vizinho.
Está em curso na Colômbia uma iniciativa governamental de
construir 100 000 casas populares. Evidentemente, não resolverá todos os muitos
problemas habitacionais do país. Mas mostra o quanto a Colômbia leva a sério
uma premissa básica que ignoramos por aqui: nenhum país é desenvolvido enquanto
tiver favelas. A Colômbia vive um momento magnífico. O país está rapidamente
livrando-se dos narcoterroristas da FARC e desenvolvendo-se. O recente acordo
de livre comércio com os Estados Unidos é apenas a cereja no bolo. De fato,
enquanto os brasileiros se afastavam do maior mercado consumidor do mundo (o
governo Fernando Henrique não teve coragem de, diante de uma ALCA tendendo ao
fracasso, iniciar negociações para um acordo de livre comércio entre Brasil e
Estados Unidos e preferiu dedicar-se ao Mercosul, o governo Lula centrou
esforços na estratégia politicamente reluzente para seu líder e economicamente
infrutífera para seu país de diplomacia Sul-Sul e o governo Dilma segue com a
complacência para com a Argentina, cuja sobrevida só é possível às custas dos
interesses brasileiros), os colombianos se aproximavam dos americanos, de quem
receberam ajuda inestimável para pacificar o país.
A Colômbia, agora, quer ir além do desenvolvimento econômico
e da pacificação. O país, agora, busca desenvolvimento social. Já o faz desde
que, há duas décadas, acabou com os poderes paralelos dos bandidos nas favelas
em Medellín e Bogotá, algo que o Rio de Janeiro começou a fazer recentemente.
Depois, dotou essas mesmas favelas de infraestrutura de acesso, algo que o Rio
de Janeiro também tenta fazer hodiernamente. Porém, não parou por aí. Favela
segura é melhor que favela violenta, sem dúvidas – mas ainda é favela. Favela
com infraestrutura de acesso é melhor que favela sem infraestrutura de acessos,
também sem dúvida – mas continua sendo favela. Agora, parece que os colombianos
estão em vias de iniciar o processo de desfavelização do país. Será longo,
penoso e antipopular em muitos aspectos. Mas é a coisa correta a se fazer.
Aparentemente, o governo colombiano se deu conta de que o povo colombiano
merece viver com dignidade. Oxalá logre êxito. Talvez assim, quem sabe, daqui a
algumas décadas nossos governantes também não resolvam seguir mais esse bom
exemplo dos colombianos – que, a essa altura, já serão cidadãos de um país
socialmente mais avançado que o nosso.
Pedro Nascimento Araujo é comunista.
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