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PARÁGRAFO – Ponto e vírgula. Por Beth Michel


Hoje finalmente consegui assistir mais uma edição do excelente e lúcido programa PARÁGRAFO do canal 07, e desde já, peço a Valtenci, Sepúlveda e Buitrago minhas desculpas por surrupiar-lhes parcialmente o título nesta matéria. Agradeço também pela oportuna solidariedade dos apresentadores, quanto à tentativa de “cala-a-boca” por parte do prefeito cassado de Cabo Frio ao processar os Blogs Cartão Vermelho e Opinião, nas pessoas de seus titulares Álex Garcia e Walter Biancardine, dos quais sou (com muito orgulho) colaboradora desde a criação de ambos.


O “ponto e vírgula” é uma licença que me dou para ampliar um dos temas (notícias) tratados no programa: Segurança.


A segurança pública ou - melhor dizendo; a falta dela é também um caso de "logística urbanística", além dos aspectos “suis generis” abordados pelo prof. Sepúlveda de inversão de situação (favelas no alto e elites na várzea) e de inteligência (se antecipar aos fatos) e com certeza entra nesta ótica, o que foi levantado por Buitrago, que é a mudança de visão da droga como caso de saúde e não mais de polícia.


Chamo de logística urbanística o planejamento de desenvolvimento e/ou expansão imobiliária, que vem sendo feito de forma totalmente aleatória e irresponsável tanto no Rio de Janeiro como aqui mesmo em Cabo Frio.


Para não ser tediosa vou citar um só exemplo no Rio de Janeiro : que de tão notório deu até título de novela (Selva de Pedra), e que - salvo erro, foi no governo Negrão de Lima. Havia uma enorme favela que ia desde o Jardim de Alá até a Lagoa Rodrigo de Freitas que resistia bravamente à mudança para a Cidade de Deus construída pelo governo do estado para abrigar os favelados desalojados das favelas da zona sul (Pasmado, Cantagalo entre outras). Muitas tentativas “amigáveis” foram feitas para o governo para “limpar” a área dos indesejáveis vizinhos das elites que habitavam o entorno (eixo Ipanema/Leblon), e nada: destruía-se um barraco e surgiam mais três... O impasse foi finalmente resolvido por um “acidente”: um incêndio que lambeu todas as casas da comunidade em uma única e aflitiva noite. Os moradores foram alojados na Vila Kennedy e Cidade de Deus, mas aos poucos retornaram e engrossaram as, já grandes, favelas da Rocinha e Vidigal. E deu no que deu!


Sabem qual foi o motivo para a não adaptação ou fixação destas famílias nos locais designados? Falta de transportes rápidos e freqüentes - a maioria da força laboral trabalhava nas casas e comércios dos seus incomodados e endinheirados ex-vizinhos. E a total falta de infraestrutura (luz, água, saúde, escolas e ruas asfaltadas) e saneamento (esgotos) nos “bairros populares” feitos a “toque-de-caixa” para servir de depósito destas pessoas e suas famílias.


O empreendimento imobiliário que tomou o lugar da favela - e deu o título à novela da Globo, foi financeiramente muito bem sucedido, mas a burguesia emergente que comprou as unidades continua sendo olhada como invasores pelas elites, e o Jardim de Alá ainda é um dos lugares mais inseguros da zona sul. E quem levou a traulitada maior foi São Conrado, que também de maneira atabalhoada decidiu ser o "must" em matéria de hotelaria cinco estrelas (deve andar pelas três estrelas agora). Ou seja, quem ganhou!?


Nós em Cabo Frio não tiramos nenhum proveito dos erros cometidos no Rio e estamos entrando pelo mesmo beco-sem-saída: ganância desmedida de alguns empresários aventureiros, que vem fazer (e ganhar) aqui o que não fazem em sua própria terra, e com a conivência comprada por favorecimentos vários do des-governo local - devidamente apavorado com a anunciada perda dos royalties.


Ainda com o intuito de não entediar os meus caros, poucos e abnegados leitores/eleitores vou citar um único e recente exemplo e que ainda pode ser obstado pelo bom senso e pelo sentido de auto preservação do povo. E vou usar este exemplo por morar na vizinhança há já 11 anos e por isso conheço muito bem a situação no local.


Trata-se da recém aprovada construção de uma Marina na Ogiva que seria (espero que não seja) construída na área antes ocupada por uma salina. O projeto prevê construção de prédios de 5 andares, com capacidade para abrigar 12.000 (doze) mil pessoas, abertura de canais e construção de pontes cruzando a via pública, e píer no canal do Itajurú nas imediações do Clube Náutico, para uso exclusivo dos condôminos. Nem vou levantar o rol completo de impossibilidades técnicas, (como calado para as embarcações, por exemplo) ou empecilhos legais, que envolvem o empreendimento.


Vou tratar somente das “causas” enumeradas no exemplo supracitado do Jardim de Alá. Além de estar, tal como o Hotel Intercontinental , encravada bem no meio de áreas com índice de pobreza e criminalidade reconhecidamente alto: Jacaré, Jardim. Peró, Cajueiro e Gamboa. Não existe uma pré estabelecida infra estrutura adequada nem mesmo para as moradias já existentes, imagine-se para mais 12.000 pessoas! O piques de luz são freqüentes mesmo na baixa temporada, queimando aparelhos eletro-eletrônicos em toda a vizinhança, e na alta temporada sofremos apagões que duram mais de 36 horas, e transformadores que explodem por falta de manutenção da concessionária. A falta de água também é freqüente e a Prolagos exige a construção de cisternas para colocação de hidrômetros nas novas habitações, mas ainda assim a água chega com força e quantidade insuficiente. Todos os imóveis à beira do Canal lançam nele seus esgotos in natura, e as demais residências tem fossa/sumidouros próprios ligados à rede de águas pluviais (como em toda a cidade) e isto é o chamado "basicão" .


O esgotamento de água da chuva se provou totalmente insuficiente nas últimas enchentes, sendo que o local especifico do empreendimento ficou inacessível por dois dias após a chuva. O transporte coletivo passa a cada 40 minutos nos dias úteis e sem horário definido nos fins de semana, e está sempre superlotado nas entrada e na saída das escolas. Dos três postos de saúde locais, somente o da Gamboa funciona , e mesmo assim de forma precária. A varrição – antes diária (manhã e tarde); e feita duas vezes por semana sem horários pré estabelecidos. O recolhimento de lixo é feito em horários aleatórios e de maneira precária. Escolas? Um Ciep no Jacaré, e duas pequenas escolas Municipais. Comércio? Rua dos Biquínis (90% vestuário) e dois supermercados “populares” no Jacaré. Restaurantes? Os dos Clubes, ou o do Mercado do Peixe.Polícia? Um DPO sem viatura, nem telefone e com uma “guarnição” de dois homens. Banco? Vocês estão brincando, né!?


Mas do que eu estou falando!? Para quem vai gastar uma “nota preta” na aquisição de um apartamento na idílica e glamorosa Cabo Frio, o que importa isso tudo !? Estou louca para ver os folhetos e a publicidade na TV...É o que pensaram os hóspedes feitos reféns no Hotel Intercontinental do Rio. Mas eu aposto o que quiserem que as diárias dos clientes foram cobradas na integra, e que os funcionários não terão incorporados aos salários um bônus por risco “vizinhança”...


Ah! Esqueci de um fator muito subjetivo, mas de relevância , como será que vão se sentir os moradores do Jacaré e Gamboa, e até os da burguesa Ogiva em relação aos novos vizinhos!?


As respostas ficam por conta da imaginação de cada um e da eficiência notória das autoridades municipais. Quanto a mim: estou pensando seriamente em me mudar...


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