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Bath 1927 e Newton 2012.



Pedro Nascimento Araujo 

Um assassino com as piores características choca os Estados Unidos e o mundo. Ele mata uma mulher com requintes de crueldade antes de sair de casa para executar seu plano macabro: matar crianças em uma escola pública de uma pequena cidade. Ele mata menos do que havia planejado e se suicida. A notícia ganha o mundo e o debate sobre controle da arma usada para perpetrar tão pérfido ato domina o noticiário do ano. Ano de 1927.

O que descrevi acima é o massacre perpetrado por Andrew Kehoe em 18 de Maio de 1927. A cidade é Bath, no estado de Michigan. Foi o maior massacre em escolas na história do país. A mulher morta em casa foi a esposa do assassino. Infelizmente, a descrição também se encaixa também à perfeição com o que vimos em Newton, pequena cidade de Connecticut, na semana passada – o segundo maior massacre em escolas na história do país. De fato, à parte o mórbido ranking que diminui nossa humanidade, as semelhanças entre o massacre protagonizado por Adam Lanza (20 anos) na cidade de Newton na última semana (27 mortos, dos quais 20 crianças) e aquele feito por Kehoe (55 anos) na cidade de Bath (45 mortos, dos quais 38 crianças) são perturbadoramente gritantes. Em Newton, há também uma mulher (a mãe de Lanza) morta antes do massacre, há a mesma intenção de matar quantas crianças fosse possível, há o suicídio e há o debate na sociedade sobre o controle da arma usada para perpetrar o massacre dominar o noticiário do ano. Há, apenas, uma diferença fundamental: no maior massacre, não foram usadas armas de fogo.

Em Bath, Andrew Kehoe usou explosivos e material inflamável. Durante um tempo, ele simplesmente instalou os explosivos e o combustível sob toda a escola. A tragédia só não foi maior porque metade dos explosivos não foi detonada – como os detonadores da parte sul da escola falharam, somente crianças da ala norte foram mortas por Kehoe. Se Adam Lanza foi aluno da escola na qual ele matou suas vítimas, Kehoe também era ligado à escola na qual ele matou suas vítimas – era tesoureiro. O debate público sobre restrições ao acesso a explosivos foi imenso. A internet nos permite ler os jornais americanos de há 85 anos. É incrível a recorrência da confusão entre método e crime. Os apelos em cartas pela proibição da venda de explosivos são semelhantes àqueles que, hodiernamente, pedem pela proibição da venda de armas de fogo. Como se a dinamite pudesse se colocar sob o assoalho de uma escola e escolher se detonar quando as crianças estivessem nas salas. Ou como se um rifle apontasse e atirasse em crianças de 7 a 14 anos por vontade própria. O método escolhido por um assassino é a parte final de um plano. Querer combater o plano controlando o método é um erro estratégico.

Adam Lanza e Andrew Kehoe foram assassinos covardes. Escolheram matar em uma escola porque sabiam que lá dificilmente haveria reação. Crianças e professores em geral não andam armados. Eles eram covardes, mas não idiotas. Eles simplesmente não tentariam fazer seus massacres em um shopping center ou em uma base do exército, onde certamente haveria pessoas armadas que revidariam e acabariam com eles. São covardes da pior espécie. Explosivos, rifles, gás letal – não importa. Enquanto houver vilões desse naipe fazendo planos vis, focar no método escolhido para executá-los é perda de foco. Mais importante que discutir mais restrições para armas de fogo em 2012 ou para explosivos em 1927 é programar respostas mais velozes para quando esses lunáticos agirem. O método pode variar, mas o local é sempre o mesmo: escolas, onde não há defesas estabelecidas. Pensar em ter uma força específica que monitorasse remotamente por câmeras as escolas e fosse acionada velozmente e dispusesse de ao menos uma viatura armada na vizinhança seria um ganho para os Estados Unidos – e para o Brasil, para o Canadá, para o Reino Unido e para muitos outros países que já tiveram massacres em escolas. Vidas inocentes poderiam ser salvas se um plano como esse já existisse. É muito melhor concentrar esforços nisso que gastar energias em um interminável debate acerca de mais ou menos restrições à venda de explosivos ou de armas de fogo.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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