Há exatamente meio século atrás,
um jovem cantor tentava se explicar para uma platéia apaixonada do porquê sua
canção não ficou em primeiro lugar, dizia ele “a nossa função é fazer canções,
a função de julgar, nesse instante é do júri que ali está”.
Seu nome era Geraldo Vandré,
estava discursando na Grande Final do Festival Internacional da Canção de
1968”. Logo após dizer: “ A vida não se resume a festivais”, entoou sua canção
e foi acompanhado palavra a palavra por uma juventude que denunciava
abertamente a repressão. A música “Pra não dizer que não falei das flores”, não
foi campeã, isso é fato, mas quem se lembra da primeira colocada? E quem não
conhece o famoso refrão que abalou as estruturas do Ginásio do Maracanãzinho?
Nada mais parecido com isso que o
desfile da Paraíso do Tuiuti. Inesperadamente, como uma revolta na senzala, o
samba enredo, ecoando pelas arquibancadas, resgata ao centro da cena política o
negro escravizado que não suporta mais o cinismo do poder.
Que fique a Beija Flor com seu
troféu de campeã! Quem vai se lembrar dele e de seu samba enredo à lá lava-jato
e Rede Globo?! Precisamos lembrar, parodiando Vandré, que o samba não se resume
ao sambódromo?
Mas o silêncio idiota dos
comentaristas do pensamento hegemônico durante a passagem da Escola de São
Cristóvão, a repercussão internacional, o aplauso entusiasmado de toda a
população descontente será vosso legado. Quem não se lembrará da ala dos
“manifestoches”, da crítica contundente à Reforma Trabalhista e do “vampiro
temeroso”? Paraíso do Tuiuti conquistou mais do que um título, conquistou a
posição de escola do coração de todos os resistentes e lutadores.
50 anos depois do Festival
Internacional da Canção. Dois anos depois de um golpe judiciário-parlamentar-midiático,
que por sua vez ocorreu pouco mais de 50 anos depois do golpe
empresarial-militar que deu início à ditadura militar e contra o qual
protestava Vandre! Pouquinho depois dos 50 anos da própria Rede Globo que
apoiou e atuou nos dois golpes e que nunca aceitou a vitória moral de Geraldo
Vandré.
Obrigado, Paraíso do Tuiuti por
nos fazer lembrar de maneira tão alegre e criativa que “Quem sabe faz a hora,
não espera acontecer”.
Fabiano Godinho Faria.
Coordenador Geral do SINASEFE
Coordenador Geral do SINASEFE
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