Por Pedro Nascimento Araujo
Ataques indistintos contra civis
é terrorismo. Ainda que não se queira utilizar o nome, continua sendo
terrorismo quando o objetivo é semear o pânico entre a população civil,
deixando claro a todos que não há segurança para ninguém. Exatamente o que o
Hamas vem fazendo. Terrorismo é terrorismo é terrorismo é terrorismo
independentemente do nome usado. E se há um princípio universal para lidar com
terroristas é não negociar e não ceder – faça isso e eles apenas aumentarão o
grau de terror. Israel conhece bem esta lição: após 5 anos de pressões, o
governo de Israel, democracia, capitulou diante da opinião pública daquele país
e aceitou trocar o jovem soldado Gilad Shalit por 1 027 prisioneiros acusados
de terrorismo. O resultado foi imediato: comemoração dos terroristas seguida
por aumento dos desafios, atualmente melhor representados pelas centenas de foguetes
disparados indistintamente contra Israel nas últimas semanas. Finalmente,
Israel resolveu se defender. Como o poderio militar de Israel, derivado de uma
sociedade avançada tecnologicamente, é infinitamente superior ao do Hamas, a
pergunta que permeia a reação israelense é: quando é demais? Até quando deve um
país superior militarmente tem a obrigação de aturar ser agredido sem
responder? Ou, de outra maneira: qual outro país aguentaria 300 foguetes sem
tomar ações que impeçam as agressões? E 200? E 50? E 10? Resposta: nenhum.
Façamos um exercício mantendo a
assimetria de forças Israel-Hamas. Suponhamos que o governo do Paraguai
atirasse 300 foguetes a partir de Foz do Iguaçu contra alvos indistintos no
Brasil. Por quanto tempo cada um de nós, brasileiros, iria querer que nosso
governo não reagisse? E se o México disparasse 300 foguetes contra os Estados
Unidos, por quanto tempo o Nobel da Paz Barack Obama fingiria não haver nada
anormal ocorrendo? Japão, França, África do Sul, Índia – escolha qualquer país
democrático: nenhum aguentaria o que Israel aguenta. Nem menciono as ditaduras
– ou alguém duvida que a China retaliaria na hora? E, no entanto, quando
Israel, democracia, finalmente reage aos ataques do Hamas, ditadura que
controla a Faixa de Gaza desde o golpe contra o Fatah em 2007, há críticas de
todo lado. Israel tem todo o direito de se defender. Ponto. Qualquer análise
que ignore esse aspecto é incompleta e tendenciosa. Para não dizer antissemita.
Israel sabe que esse joguete de
provocação-reação que o Hamas executa não passa disso: o Hamas simplesmente não
tem poderio militar para realizar seu sonho dourado de matar todos os judeus e
destruir Israel. Na verdade, nem todos os países árabes juntos têm, como provam
todas as guerras que travaram contra Israel e perderam. Historicamente, Israel
age sempre em legítima defesa, como agora. O roteiro é bem conhecido: Hamas
efetua ataques crescentes contra alvos civis israelenses, Israel ataca alvos
militares na Faixa de Gaza e reduz a capacidade de o Hamas de continuar
atacando, Hamas reconstrói a capacidade e recomeça a efetuar ataques crescentes
contra alvos civis israelenses etc. em um moto-contínuo macabro e patético em
sua previsibilidade. Perdem todos? Sim. Igualmente? Não. Israel perde mais – e entender
essa dinâmica faz toda a diferença.
Depois de tantos anos, é
perfeitamente claro que, se alguém quiser apontar um vencedor no Oriente Médio,
sob qualquer aspecto esse vencedor é Israel. O país é uma democracia na qual os
direitos de todos são respeitados – cidadãos árabes e cristãos israelenses
exercitam suas fés, votam e são votados, coisas impensáveis na vizinhança que
quer matar os judeus e os cristãos simplesmente por não tolerarem a existência
de liberdade religiosa. Israel é primeiro mundo. Os árabes, mesmo os mais ricos
por causa do petróleo, não o são. Níveis de educação, de liberdades, de
tecnologia, de inovação etc. não deixam dúvidas sobre quem conseguiu
desenvolver sua sociedade. Em muitos aspectos, os vizinhos de Israel vivem como
há 1 300 anos, se locomovendo em carroças e impondo toda forma de violência
contra as mulheres (inclusive a poligamia) e sem democracia ou direitos civis
básicos, em organizações tribais que praticam morte por lapidação
(apedrejamento) contra quem não segue seus preceitos religiosos, com altos
índices de analfabetismo. Não há como comparar. Subjugados por grupos
terroristas como o Hamas, os povos árabes ficam cada vez mais para trás.
Perversamente, grupos como o Hamas sabem que provocar uma retaliação de Israel
legitima seu domínio sobre os palestinos. Eles, que andam em carros importados
sobre as ruas de terra batida, querem guerra contra Israel – mais que isso:
precisam de guerra contra Israel para manter o poder, sufocando o povo
palestino, exatamente como faziam os traficantes nas favelas cariocas. É
possível, então, Israel deixar de ser títere involuntário do Hamas, do
Hezbollah etc. em seu objetivo principal, que, ao contrário do apregoado, não é
vencer Israel, mas sim se manter no poder? Sim, é possível. Mas implica
reocupar a Faixa de Gaza e implantar uma espécie de Unidade de Polícia
Pacificadora no local. O Brasil poderia ajudar com a experiência que já possui
no assunto.
Assim, desta vez, quando Israel
tiver ocupado a Faixa de Gaza e destruído o arsenal que o Irã forneceu aos
terroristas do Hamas, o país faria deveria, após assumir o controle da área,
efetuar uma ocupação da Faixa de Gaza nos moldes daquela feita pelas Forças
Armadas no Complexo do Alemão. Durante esse tempo, poderia construir uma fronteira
de segurança estendida que impedisse a construção dos túneis de contrabando ao
passo que formaria, em conjunto com os palestinos, uma força regular de defesa
da Faixa de Gaza que seja capaz de garantir a segurança de sua população e da
população israelense, como os americanos fizeram na Alemanha e no Japão no
pós-Segunda Guerra Mundial. Durante a ocupação, organizaria eleições que
formariam um governo legítimo e preparariam uma constituição democrática e
inclusiva, a exemplo do que foi feito no Iraque após a Guerra do Iraque de
2003. Paulatinamente transferida, após alguns anos, a soberania palestina seria
plena sobre a Faixa de Gaza. Com um governo democrático, os palestinos, livres
do jugo odioso da ditadura dos terroristas do Hamas, poderiam finalmente se
preocupar em melhorar suas condições de vida ao invés de tentar destruir as
melhores condições de vida dos vizinhos israelenses. Seria um processo caro,
demorado e provavelmente cheio de reveses. Mas ambos os povos já mostraram suas
tenacidades e suas capacidades. Se Israel estiver realmente disposta a estender
a mão para ajudar a maioria (que não é terrorista) de seus vizinhos palestinos
a se desenvolver em conjunto, os obstáculos serão vencidos. Israel deixará de
perder e os palestinos passariam a ganhar. Mas o maior vencedor de uma UPP na
Faixa de Gaza seria a paz mundial. Um Nobel da Paz seria pouco para reconhecer
o bem para a humanidade que adviria de tão nobre lição de tolerância, de
respeito e de paz.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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