Por Pedro Nascimento Araujo
Nos últimos 12 meses, a inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE) chegou a 7,2%. É um número espantosamente elevado – e, pior, espantosamente consistente e sem perspectivas de melhoria no curto prazo. Inflação, convém não esquecer, é um concentrador de renda.
A inflação é um dos maiores vícios nacionais. Acostumamo-nos a viver com níveis de inflação tão elevados que, à primeira vista, não causa-nos alarme os 7% anuais – afinal, chegamos a ter mais que isso por semana. Porém, quando olhamos os indicadores de inflação dos países economicamente semelhantes ao Brasil, nosso descompasso fica mais evidente. Em 2010, a inflação do Chile foi de 1,7%. Na China, 3,3%. Vamos comparar as situações de Brasil e Chile.
Em termos absolutos, não são números muito discrepantes, especialmente quando lembramos que já tivemos inflações na casa dos milhares por cento anuais. Porém, há uma diferença crucial entre o 1,7% chileno e os 7,2% brasileiros: com 1,7% de inflação ao ano, não há pressões para indexação, ao passo que, com 7,7%, há, conforme veremos adiante.
Há várias maneiras de combater a inflação, com economistas de cada corrente defendendo seus argumentos. Independentemente do caminho escolhido, a ação do governo precisa ser firme. Tão ou mais importante que escolher determinado remédio é fazer sua terapia de forma correta. Já sofremos muito com a inflação. É dever do governo mantê-la baixa – e inflação baixa é de 1% ao ano (ou 10,5% em 10 anos) ou menos. Voltemos aos índices inflacionários de Brasil e Chile.
O exercício é extrapolar os dados de Brasil (7,2% ao ano) e Chile (1,7% ao ano) para uma década. Evidentemente, por se tratar de juros compostos, não basta multiplicar as taxas por 10. Feitas as contas, notamos que, em 10 anos, a inflação acumulada no Chile seria de 18,4%. No Brasil, 100,4%. Assim, 5,5% de diferença em um ano não viram 55% em 10 anos – viram 72%. Mas isso não é o pior.
O pior é que os agentes econômicos sabem que, com 7,2% ao ano, em 10 anos os preços serão dobrados. Por isso, tentam antecipar-se a essa perda elevada futura. Em uma palavra: buscam indexação. E indexação vicia. E o Brasil é viciado em indexação. Estamos vivendo uma abstinência desde 1994, mas nunca podemos imaginarmo-nos curados, sob pena de, arrogantemente, reincorrermos no vício ao tomarmos a primeira dose de indexação.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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