Por Pedro Nascimento Araujo
Desde o final da I Guerra Mundial
(Grande Guerra), os Estados Unidos da América são o país mais importante do
mundo: politicamente, economicamente, tecnologicamente, culturalmente e
militarmente, não há, desde então, rivais à altura dos americanos. Durante sua
liderança, vivemos um período único na história da humanidade, com os direitos
humanos sendo incorporados como valores básicos universais. No mundo liderado
pelos americanos, a democracia foi valorizada a ponto de, hoje, pela primeira
vez na história, haver mais pessoas vivendo em democracias que em ditaduras –
ainda que apenas uma delas, a China, subjugue 1,3 dos 7 bilhões de seres
humanos. E, ao contrário do que apregoa o discurso antiamericano, os Estados
Unidos são um caso inédito de nação hegemônica não imperialista: ao final da II
Guerra Mundial, os americanos tinham seus exércitos em boa parte do mundo, mas,
nem por isso, saquearam, dominaram ou anexaram tais territórios, como fizeram
os soviéticos, que também tinham exércitos em boa parte do mundo. Na verdade,
os americanos gastaram recursos humanos e financeiros para reconstruir os
países nos quais lutaram como democracias, acreditando no princípio da paz
democrática – duas democracias jamais entrarão em guerra – para evitar novos
conflitos. Evidentemente, também há condutas repreensíveis por parte dos
americanos, mas somente um antiamericano radical seria capaz de negar que o
saldo final da liderança americana é mais que positivo. Não obstante, a atual
administração americana parece disposta a jogar esse fabuloso legado no lixo.
Em termos de política externa, a
atuação do presidente Barack Obama é, para dizer o mínimo, pífia. Mais
diretamente, Obama é vacilante e manda sinais contraditórios ao mundo. Obama
parece ter vergonha de liderar o mundo livre. Não se impõe e anda a reboque dos
fatos. Especificamente em relação ao Oriente Médio, Obama não quer intervir
diretamente, mas também não quer sair da região. Sua solução é agir somente
através de drones, quando estes deveriam ser mero apoio às ações militares: se
ao usar somente drones não há soldados americanos feridos por um lado, também
não há ganhos de segurança significativos por outro. É uma solução covarde,
feita sob medida para não denegrir sua imagem de pacifista ao mesmo tempo em
que não permite que a situação deteriore-se ainda mais – afinal, os terroristas
sempre estão sob risco de assassinato seletivo por bombas de precisão lançadas
pelos drones.
Obama enfrenta uma campanha pela reeleição
bastante difícil. Os desafios são enormes. Internamente, a economia patina e o
Congresso enfrenta sucessivas paralisias por conta de sectarismos políticos,
principalmente dos opositores do Partido Republicano, mas também dos
situacionistas do Partido Democrata. Externamente, a vacilação de Obama é mais
premente. Ele prometeu fechar a prisão militar na base de Guantánamo Bay no
primeiro dia de seu governo, mas já está acabando o mandato e simplesmente não
irá fazê-lo. Ele fez uma retirada desnecessária e apressada das tropas no
Iraque: a situação no país já estava normalizada e a manutenção de uma base
permanente no local certamente estabilizaria a região e dissuadiria regimes
vizinhos armamentistas ou genocidas como o Irã e a Síria. Ao contrário do que
seus antecessores fizeram na Europa, na Coreia do Sul e no Japão, Obama
preferiu largar os iraquianos à própria sorte ao invés de construir uma
parceria de longo prazo em favor da democracia e do desenvolvimento do país –
uma empreitada que custaria recursos humanos e financeiros americanos e que
seria politicamente questionável no curto prazo, mas que, no futuro, seria
vista como um ato de um estadista corajoso e visionário.
Assim, fica claro que Obama
prefere o conforto medíocre do aplauso de curto prazo. Com recente o
assassinato do embaixador americano na Líbia por uma milícia desconhecida e
fortemente armada, a eficácia de sua política externa está na berlinda. Os
eleitores americanos serão instigados a pensar acerca da validade de uma
política externa mais voltada à construção da imagem de Obama que à vocação dos
Estados Unidos de ser o guardião e o farol das liberdades no mundo. Mitt
Romney, candidato do Partido Republicano, já se refere a Obama como vacilante
em matéria de política externa. Republicanos relembram um episódio ocorrido no
Irã em 1979 sob o democrata e pacifista Jimmy Carter: 444 americanos foram
feitos reféns na invasão de “estudantes” à Embaixada do país em Teerã. Claudicante,
Carter ordenou uma missão secreta de resgate com helicópteros que fracassou (8
soldados morreram) e o Irã aumentou as ameaças aos reféns. Como a crise
prosseguia, Carter ficou enfraquecido politicamente e perdeu as eleições de
1980 para Reagan, um republicano que, mesmo antes de assumir, já era
internacionalmente conhecido por não hesitar em mandar tropas abertamente para
defender a liberdade e os interesses americanos. Assim, em 19-Jan-1981, um dia
antes de Reagan assumir a presidência, o Irã, temeroso de uma ação robusta
americana, anunciou que libertaria os reféns já no dia seguinte. Literalmente
minutos antes de Reagan prestar seu juramento no Capitólio como 40º presidente
do país, os reféns foram soltos. Ao final do primeiro mandato, os americanos
sabiam exatamente o que Reagan faria com mais um mandato de 4 anos e o
reelegeram. Diante dos decepcionantes resultados que se veem após o primeiro
mandato de Obama, é lícito questionar: por que os americanos dariam mais 4 anos
para Obama?
Pedro Nascimento Araujo é
economista.
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