Balada do Amor Feroz
... e a mulher serviu-me de modelo para os demônios e para os anjos -
demônios marinhos e anjos marinhos – a alma veio afogada entre eles.
Rudyard Kipling – A Luz que se Apagou
Almas, almas
tragam-me algo de beber,
esta mulher me fez arder em chamas
tenho sede!
Estou queimando os carnavais da minha vida
vou restar em cinzas
no ventre de alguma quarta-feira,
quero despir-me em rosa
em Rosa dos seus Ventos.
Varrei tufão,
varrei de mim o que não seja ela,
levai-me aos ares tempestade
conduza-me ao altar dos seus pecados,
quero pecar mil vezes mais
e condenar-me,
condenar-me ao infinito das minhas dores
as mais belas dores que senti.
Negros deuses, rubras feiticeiras
Parcas lascivas, profetas degredados
todos!
Destinem-me ao rol do seu amor,
mostrem-lhe meu coração suado
o suor frio dos amedrontados,
digam-lhe que tenho medo de perder-lhe
mas não tenho medo de perder-me,
não tenho medo da vida submissa
não tenho medo de ser-lhe obediente
não tenho medo sequer de por ela morrer mil vezes.
Varrei Tufão,
varrei meus pensamentos de ausência,
almas, almas
tragam algo de beber
estou sedento!
A sede nasce em todos que lhe cruzam os caminhos
e ela é a água,
Oh! doce água cristalina,
faz amor com a minha garganta,
Oh! Êxtase
Oh! Pontos extremos dos sentidos
tudo me dói, tudo me acalma
tudo me angustia, tudo me vem como carinho.
Explicai meu Deus,
explicai o que eu sinto,
mas não ponha a mão no meu destino,
quero que ela me conduza
e Tu és nada em sua frente,
ela surgiu da fenda aberta no infinito
de onde tiraste luz e trevas
e onde achaste a Criação.
Mas meus dias nasceram da sua boca,
os dias antes vividos
são de outra existência
onde sequer me reconheço,
foram dias vividos por um Eu que era ninguém,
dias descartáveis
dias que não valeram
dias a serem descontados dos meus anos.
É hora de ser alguém,
é a minha hora morna de nascer.
Luz,
abram as janelas para que entre mais luz,
bardo alemão, romântico brado
teu derradeiro grito ficou suspenso no ar
por décadas, por séculos
até cair em minha poesia
na forma brusca da mulher que amo.
Mas, ela não precisa dos meus versos
ela não precisa de nada,
então eu nada trouxe para oferecer-lhe.
Toma, querida
toma da minha vida o grande vazio que eu lhe trago...
Estarei a espera de que comeces a ocupá-lo.
Havana, julho de 2006
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