Apenas para que a história não fique restrita ao show midiático da beatificação de João Paulo II, queria lembrar alguns episódios:
Sobre seu pontificado a cúpula da igreja católica abençoou muitas ditaduras. Com Pinochet, um dos mais, se não o mais sangrento e cruel de todos os ditadores sul americanos, o polonês Wojtyla manteve estreitas relações. A seu lado acenou para as pessoas na sacada do Palácio de La Moneda, o mesmo palácio que anos antes viu o assassinato de Allende ser apregoado pelas forças golpistas do ditador chileno como suicídio. Ditador, e traidor, haja vista que Pinochet havia sido membro do gabinete militar de Salvador Allende, e por ele fora nomeado comandante do exército.
Pois bem, o crudelíssimo chefe do golpe de estado chileno, que torturou milhares de pessoas com choques elétricos nas partes íntimas dos homens e das mulheres, que assassinou por asfixia nas horas lúgubres do amanhecer pais, mães, filhos e filhas, este crudelíssimo assassino, como dizia, recebeu a “sagrada comunhão” das mãos do polonês. E este jamais reprovou seus crimes, e jamais exigiu-lhe que pedisse perdão.
Estamos falando, lembrem-se, de um “beato” que trancou a cadeado os escândalos do Banco Ambrosiano de Milão (um banco com controle acionário do vaticano), escândalos das finanças e também de assassinatos. Pior, este polonês deu asilo ao protagonista de tudo isso, o americano ordenado sacerdote por Chicago, Paulius Marcinkus, homem então procurado pela justiça de todo o mundo. Para quem quiser se lembrar melhor deste fato, a wikypédia pode ser um caminho.
Outro personagem terrível, protegido por Karol Wojtyla, foi Marcial Maciel, o pedófilo fundador da Ordem Legionários de Cristo. Aliás, a própria ordem admitiu em 2010 que vários seminaristas foram abusados sexualmente por Marcial Maciel, e emitiu uma nota oficial pedindo perdão a todos "que tenham sido afetados, feridos ou escandalizados com as ações reprováveis do nosso fundador".
O pior disto tudo é que enquanto protegia criminosos, pedófilos e ditadores, Wojtyla se bateu ferozmente contra teólogos que lutavam, pela justiça e pela liberdade dos povos, como Leonardo Boff, Frei Beto e Ernesto Cardenal.
Duvido muito que os que hoje beatificam João Paulo II voltem os olhos para agraciar o Bispo José Gerardi, que denunciou o genocídio da Guatemala, lutou para responsabilizar seus autores, e acabou assassinado com uma pedrada que destroçou sua cabeça.
Enfim, não quero criticar a beatificação, apenas gostaria que estas coisas fossem discutidas, pois fazem parte da história, e devemos oferecer ao povo a história toda, não apenas uma parte, ou um espetáculo midiático, como se nada mais houvesse acontecido.
O povo saberá escolher o seu lado, mas ele precisa conhecer tudo.
Queria também fazer um paralelo, e engrandecer alguns que certamente jamais serão vistos como santos pelo Vaticano.
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