Algo de muito significativo e positivo acontece no Brasil. Desde o último dia 10, o governo brasileiro resolveu fazer uma retaliação disfarçada às barreiras que a Argentina vem impondo aos produtos brasileiros há mais de um ano. Falo em retaliação disfarçada porque, tecnicamente, para não correr risco de processo na OMC, o Brasil aplicará as novas barreiras não-alfandegárias (suspensão da liberação automática das guias de importação dos automóveis) para os automóveis importados de todos os países, mas, na prática, os fiscais aplicá-las-ão somente aos de origem argentina.
Convém lembrar que, durante o governo Lula da Silva, mentor e antecessor do governo atual, o Brasil aceitava qualquer disparate, desde que perpetrado por países mais pobres. A tomada de uma refinaria boliviana da Petrobras em 1º de Maio de 2006 pelas forças de Evo Morales foi apenas o exemplo mais radical de uma política internacional que nos transformava em um país que ninguém respeitava. Apenas para lembrar como este país já foi sério: a última vez que algum país tomou para si uma propriedade brasileira manu militari (o vapor Marquês de Olinda, aprisionado em 11 de Novembro de 1864 pelas tropas do ditador paraguaio Solano López), o resultado foi guerra. Porém, sob Lula da Silva, não aconteceu nada – não só aceitamos o avilte, como o presidente ainda defendeu os agressores.
Na verdade, durante o governo anterior, o Brasil aceitou as sucessivas violações unilaterais do tratado de livre-comércio que temos com a Argentina. O país vizinho, que não consegue sair da crise que anos de populismo deixaram como legado, restringia as exportações brasileiras para proteger sua economia. Naquela época, o Brasil deixava por isso mesmo, em nome de uma obsessiva busca por apoio ao projeto de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU – a mesma que nos fez andar de mãos dadas com ditadores sanguinários como Kabila, Ahmadinejad, Castro e Kadhafi, entre outros, ignorando os princípios mais básicos de humanismo, que são base histórica da nossa diplomacia.
Agora, parece que a presidente Dilma Roussef decidiu que é hora de o Brasil voltar a falar grosso. Já não era sem tempo. Mesmo porque, se o Brasil precisa da Argentina, a Argentina também precisa do Brasil. Não há como ser de outra maneira: o comércio tem que ser justo e bom para todos os envolvidos. A reação argentina foi a esperada: o país estrilou, mas já se declara disposto a remover as barreiras que impôs há mais de um ano ao Brasil para que o Brasil também remova suas novas barreiras. É bom para ambos, pois o livre-comércio beneficia os dois países. Falar grosso funcionou.
Por isso, é correto reconhecer que, desde que o Brasil passou ao comando de Dilma Roussef, nossa atuação externa melhorou – e muito. A presidente, que ainda está no início de seu mandato, já começa a construir um legado: não apóia mais as violações de direitos humanos e não aceita mais os absurdos que outros países se acostumaram a fazer sob Lula da Silva. Se a doutrina Roussef seguir por esse caminho, o Brasil sairá de seu governo muito mais respeitado que quando ela assumiu. Sem precisar nem fazer concessões absurdas nem explorar ninguém – apenas agindo corretamente e segundo seus princípios, com firmeza. O Brasil voltou a falar grosso.
Pedro Nascimento Araújo é economista.
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