O Reino da Noruega tem quase 5 milhões de súditos presumivelmente felizes – afinal, vivem no país com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo. Não cabe aqui discutir a bela história deste país, que, através de um plebiscito pacífico no qual escolheu a monarquia constitucional, tornou-se novamente independente em 1905 após 586 de uniões com outros reinos e ainda superou a ocupação nazista para ser hodiernamente um dos expoentes do chamado Estado de Bem-Estar Social, com altíssima renda per capita e baixíssima desigualdade medida pelo Índice de Gini.
O paraíso norueguês viveu seu dia de inferno na última sexta-feira, dia 22 de Julho de 2011, pelas mãos de Anders Behring Breivik, um jovem (32 anos) terrorista que em menos de 2 horas deixou quase 100 mortos como resultado de seus dois atos assassinos: um carro-bomba que explodiu próximo ao escritório do primeiro-ministro e um massacre a tiros no qual ele vestia trajes policiais ou semelhantes e usou balas especialmente projetadas para destruir tecidos corporais em um idílico acampamento para jovens em uma ilha ao Norte do país chamada Utøya.
Não versaremos aqui sobre as questões que levaram Breivik a perpetrar seus atos nefastos, como ódios político-raciais e que-tais. Na verdade, para além da tragédia humana em si, há algo que chama salta aos olhos no massacre norueguês: Breivik não se matou nem resistiu violentamente à prisão. Ele simplesmente matou quase 100 pessoas e está preso. E, agora, quer os holofotes.
Sim, Breivik quer publicidade. Quer usar as mortes de inocentes como amplificador para suas idéias lunáticas. Quer angariar seguidores. Breivik quer virar celebridade – nefasta, mas ainda assim celebridade. Por isso, declarou através de seu advogado que quer prestar depoimento uniformizado e quer que sua fala seja transmitida pela imprensa. Até o momento no qual esta coluna era escrita, não estava claro se a justiça norueguesa permitiria que Breivik o fizesse.
O Reino da Noruega é um país ciente das liberdades de expressão do pensamento. É bom que seja assim. Porém, nem mesmo a liberdade de expressão do pensamento, um dos poucos valores que são virtualmente absolutos nos países socialmente desenvolvidos, justifica que Breivik use os cadáveres que criou para fazer propaganda de qualquer que seja sua orientação político-racial-ideológica. A incitação a ódios, sejam políticos, raciais e/ou ideológicos, é crime lá, aqui e em qualquer lugar.
Que a polícia norueguesa e o povo do Reino da Noruega não permitam que Breivik sirva de exemplo para que outros facínoras ajam ao redor do mundo. Que os depoimentos e o julgamento sejam feitos sem publicidade. E que a imprensa tenha parcimônia ao cobrir os fatos, evitando a mitificação de Breivik. Porque ele decerto terá direito a um julgamento com amplo direito de defesa, como manda a justa lei do país. Porém, independentemente da punição que a justiça norueguesa lhe der, uma coisa é certa: você não merece luzes, Breivik – nem a dos holofotes, muito menos a de Deus.
Pedro Nascimento Araujo é economista.
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