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Voto Vico. Com Gilmar Aguiar.




O OVO ROSA E A SACANAGEM

Durantes os anos em que trabalhei no SAARA no Rio, meados dos anos 70 com 80, para ser mais preciso, na Rua Buenos Ayres nº 224 sala16, esquina com a Avenida Passos, uma imagem perturbadora ocupa um espaço precioso de minha não tão operacional memória, o ovo rosa.

Minha rotina nesse período de adolescência se resumia em sair da Escola Técnica Itu, em Bento Ribeiro, passando, para um rápido sorvete, na “Concerteza” que ficava em baixo do apartamento da Xuxa, que estudava no final da rua, no Colégio Santa Edwiges (depois viria a se tornar o Santa Mônica). Não que eu gostasse de sorvete, aliás, odeio doce de qualquer espécie, mas a esperança de cruzar passagem com aquela criatura era a obsessão de todos os adolescentes do bairro. E lá vinha ela, vindo da Sendas com seu cachorrinho, dando bom dia para o gari, para o vendedor de coco, para a moça da farmácia e seguia em direção ao colégio. Quase nunca eu ganhava bom dia, mas mesmo assim meu dia estava ganho.

Dali me dirigia para a estação e pegava o trem “parador” vindo de Deodoro para a Central. No Saara eu assumia meu posto na oficina guarda-chuvas de meu pai. No tempo em que se consertavam varetas, trocavam-se hastes, cabos e quando ficava velho, trocava-se também o forro de nylon ou rayon.

Mas eu gostava mesmo era do lanche, eu descia sempre às quatro horas para comprar no “cospe grosso” o velho pão com carne assada e uma média clarinha para mim e meu saudoso pai. O cospe grosso ficava entre a Sapasso e o Mundo dos Plásticos (que lambeu nos anos 90). A rua cheia de opalas, veraneios e TL´s estacionados me obrigavam a atravessar em frente ao ourives Ibrahim e voltar assim que passasse a loja do cuteleiro Jorge.

Enquanto eu esperava o balconista preparar o repasto, eu ficava encarando aquele ovo rosa na vitrine. Que diabos, eu pensava, esse ovo está fazendo pintado de rosa. Da mesma forma o ovo me encarava, talvez puto da vida comigo por perceber minha inconveniente curiosidade. A verdade é que ele não se sentia muito à vontade no meio daqueles torresmos e batatinhas calabresas queimando no sol do Saara vestido de rosa. Então, uma vez pronto meu banquete, eu saía apressado com os sanduíches de carne assada enrolados num papel de pão cheirando maravilhas no prédio rústico de massapê onde funcionava a oficina.

Até que muitos anos depois eu vi. Sentado no aguardo do lanche, um casal de idosos, cansados e famintos. O senhor, muito gentil com sua eterna amada, puxou a cadeira de madeira e sentaram-se à mesa, de madeira tosca forrada de plástico transparente, sob uma toalha xadrez azul e branca. Após garantirem o conforto, pediram duas médias e um ovo rosa. Neste dia, eu tive que comer meu pão ali mesmo. Eu precisava saber o que iria sair de dentro daquela casca. Decepção total quando nas primeiras mordidas deixaram evidentes as entranhas da iguaria. Era apenas um ovo comum. Anos de espera e diálogo silencioso com o balcão de petiscos, nada revelaram além do óbvio.

Outra alegre lembrança da juventude vem das festas de família. Famosa era a combinação: maionese, salpicão e farofa num pratinho de plástico. A festa só começava realmente quando as bandejas começavam a passear pelo quintal, esparramado de mesinhas e crianças barulhentas. Mas a sensação mesmo era a sacanagem. Tradicional petisco construído habilmente com um pedaço de azeitona verde, um picote de tomate, outro de cenoura e finalizado com um picote de salsicha, tudo espetado num palito de dentes. Minha infância ficou, mas esse paladar trago até hoje na memória. Tanto o ovo quanto a sacanagem eram apenas o óbvio oferecido como obras primas de grande gourmet.

Hoje, aos 51 anos e quase avô, eu me lembro do ovo rosa e da sacanagem quando vejo este governo do PT insistir na simplória e grosseira política de estímulo ao consumo para manter o crescimento econômico, arrastando as correntes da nossa economia com uma máquina gestora exageradamente pesada, um superávit primário pagando juros de uma dívida na casa do trilhão, banqueiros inflando spreads bancários estratosféricos e uma política social ultra assistencialista. é como embalar uma sucuri no berço pensando que está criando uma minhoca. Um dia nós seremos o alimento dela.

Caso não construamos uma malha ferroviária interligando a produção aos portos e aeroportos, Não façamos um investimentos pesados na educação e na pesquisa, não criemos uma política desenvolvimentista para financiar nosso parque industrial nacional, não haverá crescimento algum. Não importa quantos ovos pintemos de rosa e quanta sacanagens vamos fazer.

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