Por Dr. Marcelo Paiva Paes
O fantasma da inflação ronda o Brasil, e a Presidente Dilma Roussef começa a responder perguntas sobre o tema. Mas esta inquietação já não contagia tanto a sociedade. O brasileiro, parece, perdeu a memória do medo da inflação. Após 16 anos de estabilidade macroeconômica mundial, perturbada pela crise de 2009, mas que contou com uma estabilidade macro e microeconômica do país que o ajudou a enfrentar o problema, o brasileiro sente esta notícia com uma certeza interna de que teremos ferramentas econômicas para combater o mal. Todos os fracassos anteriores, como o Plano Cruzado de José Sarney, parecem ser “passagem desbotada na memória das nossas novas gerações” (peço aqui licença ao gênio criativo de Chico Buarque).
De fato o Brasil tem instrumentos regulatórios capazes de compensar o aumento da inflação, mas, dentre o rol de ferramentas para este fim, estamos viciados no aumento dos juros. Isto leva a uma insatisfação dos setores produtivos, pois este busca captar recursos nos bancos para investir na produção, porém os altos juros tornam os empréstimos mais caros do que é capaz de render a venda dos produtos. Com esta relação “empréstimo x produção” desfavorável, os produtores diminuem a produção e a economia sofre um processo de desaceleração, afinal, entre outras coisas, diminuímos a contratação de funcionários, e demitimos postos de trabalho, o que leva a menos dinheiro circulando no mercado. Além disto, com juros mais altos, passa a ser mais interessante a especulação financeira, ou seja, é melhor aplicar o dinheiro do que investi-lo na produção.
Bem, de modo geral, ou mesmo latu senso, esta relação se dá porque vivemos na tal “economia de mercado”. Para resumir diria o seguinte, isto ocorre porque o destino do dinheiro é aquele que der mais lucro, o dinheiro vai para onde ele se transforma em mais dinheiro, independentemente das necessidades da população.
E aqui chego ao ponto de interesse do artigo: o preço da gasolina. Ora, o Brasil é auto-suficiente em petróleo, auto-suficiente na sua industrialização, e auto suficiente na distribuição dos seus derivados, neste caso, a gasolina. Então como é possível pagarmos
um preço tão alto por ela enquanto na Venezuela, outro país auto-suficiente, os preços
são irrisórios se comparados ao nosso? Exatamente por este modelo de “economia de mercado”, que parece tão bom quando noticiado pelo William Bonner e pela Fátima Bernardes, dois arautos da defesa do sistema neoliberal. Aliás, eles o fazem de forma tão eficiente que não nos damos conta de passar por uma lavagem cerebral diária e maciça.
A Petrobrás é uma empresa de capital aberto, ou seja, além do governo ela tem sócios espalhados pelo mundo todo, e estes sócios não querem saber se a empresa deve vender a gasolina para nos abastecer e nos beneficiar. Não, o que os sócios querem é lucro, então temos que praticar o preço do mercado internacional, mesmo que por sermos auto-suficientes na exploração e no refino do petróleo este custo seja menor para o Brasil.
Já na Venezuela, a PDVSA (a Petrobrás deles) é uma empresa de capital fechado, é 100% do governo, não tem como sócios grupos estrangeiros, e grandes fortunas nacionais, como aqui na Petrobrás, assim não precisam responder pela inesgotável fome de lucro destes parceiros. Então a PDVSA explora, refina e distribui o petróleo ao custo real da produção interna, e não ao custo do mercado internacional.
Mas isto não quer dizer que ela não venda a preço internacional de mercado, sim, vende, mas para os E.U.A., que aliás, depende visceralmente deste petróleo, e por esta razão tem tanta raiva do Chavez. Afinal eles queriam o inverso da moeda, como aqui.
Soma-se a este motivo a alta carga de impostos que incidem sobre a gasolina.
O fato é que nós temos o péssimo hábito de não buscar a crítica dos fatos, nós nos bastamos apenas com a notícia ofertada pela grande mídia, e esta, toda ela, está comprometida com uma única verdade, a verdade do lucro. Lucro que gera anúncios, e, conseqüentemente, uma defesa subliminar e cruel deste modelo.
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