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Fritura insana na Crise Dupla - Por Pedro Nascimento Araujo




Fritura insana na Crise Dupla

Diante do agravamento da Crise Dupla (ocorrência simultânea de crise política e crise econômica), a presidente Dilma Rousseff muito raramente reage e, quando o faz, não há como fugir da sensação de que teria sido melhor se continuasse não reagindo. Precisando adotar as medidas muito impopulares de um rigoroso ajuste duplo (fiscal e monetário) para corrigir seus próprios erros, ela manda sinais contraditórios sobre seus únicos pontos de apoio: Joaquim Levy e Michel Temer. Dilma Rousseff parece não entender que a saída dos dois significaria o golpe de coupe de grâce em seu agonizante governo; do contrário, ela parece trata-los como se eles lhe fossem tributários de gratidão, e não o contrário. O resultado é direto: ambos estão sendo fritados dia após dia, o que aumenta a Crise Dupla.

Joaquim Levy não é petista. Nunca foi, nunca será. Não que Dilma Rousseff seja petista – egressa do brizolismo gaúcho, a presidente só chegou ao Palácio do Planalto por pura falta de opção petista para suceder Lula da Silva: como a elite petista caiu em desgraça durante os governos de Lula da Silva (primeiro Antônio Palocci, depois José Dirceu e José Genoíno – estes, via Mensalão), não havia mesmo muita escolha, uma vez que próceres menores do partido como Aloísio Mercadante não contavam com grande simpatia de Lula da Silva. Se Dilma Rousseff ascendeu à Presidência da República por um golpe de sorte, sua manutenção no topo é dificultada por obra e [des]graça dela mesma. Após vencer a mais voraz e baixa campanha eleitoral desde a redemocratização, mais virulenta mesmo do que a vitória de Collor de Mello sobre Lula da Silva em 1989, ela viu-se obrigada a chamar o tucano Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda. Isso é algo que nem Collor de Mello teve o desplante de fazer: chamar um expoente das hostes adversárias para fazer em seu governo aquilo que acusou seu adversário de querer fazer durante a campanha. Mas Dilma Rousseff o fez. E, pior, o fez de forma titubeante. Disso decorre a surreal situação em que o maior obstáculo à atuação de Joaquim Levy dá expediente no Terceiro Andar do Palácio do Planalto: é a própria Dilma Rousseff quem sabota seu salvador.

Joaquim Levy assumiu a Fazenda com uma missão bem clara: retomar a ortodoxia após a desastrada tentativa de reinventar a roda feita pela dupla Dilma Rousseff-Guido Mantega – a infame Nova Matriz Macroeconômica, já tornada um clássico acadêmico da má gestão macroeconômica. A arrogante ideia de transformar o povo brasileiro em cobaia deu no que deu: estagflação e crise política, a Crise Dupla que ora enfrentamos. Muito a contragosto e por absoluta falta de opção, Dilma Rousseff teve de se curvar à existência de leis econômicas seculares e chamou Joaquim Levy para ser para-raios da impopularidade que um ajuste duplo certamente atrai e que seria potencializada pelo fato de ela ter passado a campanha presidencial de 2014 inteira dizendo que não o faria. Com a condição de ter carta branca para agir, Levy aceitou a missão e iniciou seu plano de resgate. Com sua credibilidade internacional, viajou o mundo e conseguiu comprar tempo para Dilma Rousseff: o sistema financeiro internacional tacitamente concordou em não rebaixar o rating do Brasil ao grau especulativo. Levy prometeu trabalhar com números realistas, deixando para trás um primeiro mandato com patéticas “pedaladas” que maquiavam os números e aproximavam o Brasil de párias financeiros internacionais como a Argentina. Joaquim Levy significava a retomada da credibilidade. Foi bom enquanto durou. A fritura a que Levy vem sendo submetido, notadamente por parte de Dilma Rousseff, que não se coça para defendê-lo de ataques do seu próprio partido: tão notórios quanto os ataques públicos que líderes petistas e entidades clientes têm feito ao chamado “Plano Levy” são os silêncios do Palácio do Planalto. O mercado já percebeu que Joaquim Levy era apenas um factoide de Dilma Rousseff – o maior deles, decerto, mas, ao final das contas, apenas um factoide – e já sinaliza com o rebaixamento do Brasil ao chamado grau especulativo no rating internacional, exatamente o que Levy deveria evitar. A consequência direta será o agravamento do lado financeiro da Crise Dupla, com a situação de Levy tornando-se insustentável: se ele foi colocado no Ministério da Fazenda para garantir que o Brasil mantivesse o investment grade, sua saída será praticamente inevitável. Não faria sentido algum deixar a situação chegar a esse ponto mesmo se o lado político da Crise Dupla estivesse sob controle. Não está.

No lado político da Crise Dupla, Dilma Rousseff também foi forçada a aceitar uma solução com a qual ela não é compatível. Essa solução chama-se Michel Temer. O renomado jurista feito vice-presidente da República é conhecido pela atuação discreta e firme. Nem seus mais empedernidos adversários negam suas qualidades e, ao menos até o momento, sobre sua longa carreira política jamais pesaram acusações de corrupção. Depois de uma coordenação política desastrosa no primeiro mandato, cujo maior símbolo talvez seja chamar de volta para o governo aqueles que haviam sido expulsos na remota “Faxina Ética”, Dilma Rousseff viu-se diante de um Congresso Nacional hostil a si, embora possua maioria numérica avassaladora em tese. Não ajudou o fato de ter tentado apear o peemedebista Eduardo Cunha de uma eleição garantida para a presidência da Câmara dos Deputados. A hostilidade de Cunha só fez aumentar diante de seu envolvimento na Operação Lava-Jato por meio de depoimentos em colaborações premiadas. Publicamente, Eduardo Cunha atribui sua citação à pressão de Dilma Rousseff, mas, privadamente, ele admite que o Palácio do Planalto pode não controlar a atuação da Polícia Federal, mas comemora a inclusão do seu nome na lista dos investigados e estimula sua tropa (tanto no Congresso Nacional quanto nos movimentos sociais e na imprensa e na internet) a enfraquecê-lo por conta disso. O mesmo pode ser dito acerca do também peemedebista Renan Calheiros, presidente do Senado Federal. Juntos, eles têm comandado o Congresso Nacional para enfraquecer Dilma Rousseff. Como o único anteparo entre uma bandeada definitiva do PMDB para a oposição é Michel Temer, Dilma Rousseff teve de aceitar entregar-lhe a coordenação política, cargo que ele aceitou com a mesma condição que Joaquim Levy impôs para aceitar comandar o Ministério da Fazenda: carta branca. Temer cometeu o mesmo erro: confiou em Dilma Rousseff.

A favor de Joaquim Levy e de Michel Temer, eles não tinham porque não acreditar em Dilma Rousseff. Sabiam da situação precária do governo dela diante da Crise Dupla. Seria insanidade sabotá-los em tal situação. E, no entanto, é o que vem ocorrendo. Com a economia em frangalhos, a pior coisa que pode acontecer a Dilma Rousseff é o fracasso de Joaquim Levy, sua última cartada para impedir que o Brasil seja considerado um mau destino para capitais estrangeiros. Isso significaria um agravamento da situação econômica que levaria seu governo a perder a derradeira oportunidade de deixar um legado positivo. Seria, em outras palavras, fritar Joaquim Levy é insanidade diante da Crise Dupla. O mesmo pode ser dito na esfera política: a saída de Michel Temer significaria a perda de apoio do PMDB no Congresso Nacional, última tábua de flutuação de um governo que caminha velozmente rumo à pior avaliação popular da história recente. Em outras palavras, perder Michel Temer significa perder a governabilidade para os sete oitavos restantes do segundo governo de Dilma Rousseff: fritá-lo é insanidade ao governar. Assim, como fritar Joaquim Levy é insanidade e fritar Michel Temer é insanidade, chegamos à surreal fritura insana do governo de Dilma Rousseff. Ocorre que governar com insanidade, decididamente, não é o que se espera de uma titular da Presidência da República em momento algum, nem na economia, nem na política; muito menos, quando o Brasil vive a Crise Dupla.

Pedro Nascimento Araujo é economista.

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